A fresta
Enquanto dados mostram diminuição da leitura no Brasil, livreiro juiz-forano se mantém atuante por 45 anos ininterruptos
Muito se tem falado sobre a pesquisa “Retratos da leitura do Brasil“, divulgada no final do ano passado. Foi ela que expôs uma realidade que já estava sendo observada a cada livraria fechada: o número de leitores brasileiros diminuiu. Um fato.
Pela primeira vez, existem, no Brasil, mais “não leitores” que “leitores”. Isso porque 53% das pessoas entrevistadas afirmaram que não leram livro algum nos três meses anteriores à pergunta. A estimativa é a de que, nos últimos anos, houve uma redução de 6,7 milhões de leitores no país.
Em Juiz de Fora, aquelas livrarias mais tradicionais foram, aos poucos, sendo fechadas para dar lugar a lojas de outros departamentos – tanto dentro dos shoppings quanto nos centros. Claro que a compra pela internet, por outro lado, aumentou nos últimos anos. Pela comodidade, mas também pelo preço e pela variedade. Cenário esse que atinge, inclusive, outros setores.
Mas, ainda em Juiz de Fora, há um contraponto interessante que mostra que existe, sim, um espaço para a literatura que se apresenta sobretudo em lugares tradicionais e, por que não, lúdicos: como uma fresta que se abre a uma nova realidade.
No último domingo (26), a repórter Elisabetta Mazocoli, que assina a coluna quinzenal “Sem lenço, sem documento”, conversou com Claudio Luiz da Silva, livreiro há 45 anos, responsável pela Quarup, que ocupa a Rua Padre Café há 25.
Está aí a fresta: alguém que trabalha simplesmente com livros há tantos anos e em um mesmo lugar – fazendo a mesma coisa e, mais que isso, com tanta dedicação. Não à toa, foi uma das matérias mais lidas do fim de semana. Porque mostra que existe uma possibilidade, ainda que rara, de se viver de algo de que se gosta, de verdade.
Diferentemente das livrarias dos grandes grupos, que se ocupam com best-sellers e o que há no momento, os sebos vão além de um marco temporal. E, para agradar a todos os clientes, Claudio contou a Elisabetta que faz questão de conhecer o que tem ali, que é como sua casa. É dessa maneira que mantém seu público ainda mais fiel, com obras raras e até as mais recentes, abordando os mais variados assuntos.
Ser proprietário de um antiquário e de um sebo não significa, no entanto, que ele esteja parado no tempo: pelo contrário. É exatamente por saber o que acontece no agora que consegue se manter em atividade por tantos anos. Indo em uma direção contrária do que acontece no mercado editorial no geral. E talvez esteja aí o segredo de como se manter por tanto tempo em uma mesma área, que busca, de alguma forma, sobreviver ao dado que assombra tanto os profissionais do setor quanto aqueles que seguem tendo a leitura como uma entrada para novos mundos.