Avisa lá
Lei Seca chega aos dez anos afetada não pela caduquice de seus artigos, e sim pelo jeitinho brasileiro de alertar infratores para as operações da polícia
Instituída há dez anos, a Lei Seca mudou o comportamento dos brasileiros ao volante, reduzindo expressivamente a violência no trânsito. Mas, como toda lei, carece de aplicação sistemática. Como sua frequência é incerta, os motoristas consideraram que poderiam retornar ao velho hábito de misturar bebida e volante sem risco de penalização. Como consequência, as estatísticas voltam a apontar o crescimento da violência no trânsito.
Há problemas que podem ser resolvidos se a fiscalização for intensificada. A lei continua eficiente, e suas punições, adequadas, mas a frequência das operações – especialmente fora das capitais – diminuiu ostensivamente. Em Juiz de Fora, elas ocorrem especialmente a partir de sexta-feira até domingo, mesmo assim, em determinado momento.
Por outro lado, as redes sociais tornaram-se um instrumento para burlar a lei. Vários grupos foram criados para alertar para o trabalho dos agentes, indicando horário e localização, a fim de facilitar a fuga dos motoristas infratores.
E este é o segundo problema. Os “grupos de ajuda”, na verdade, prestam um desserviço à sociedade, pois permitem a personagens que não deveriam estar dirigindo burlar a lei. É a antiga e equivocada solidariedade brasileira que culmina em consequências graves. Antes das redes sociais, especialmente nas rodovias, era comum ver motoristas piscando os faróis dos carros alertando para a presença da Polícia Rodoviária. Ingênuas, tais atitudes, muitas vezes, permitiram a evasão de infratores que deveriam ser punidos.
Vale o mesmo para os grupos de WhatsApp que, vira e mexe, indicam o local das blitze. Essa cultura do “avisa lá” tem que mudar, pois só ganham com ela os que estão descumprindo a lei e, mais do que isso, colocando a vida de inocentes em risco.