TAMANHO DE TEMER
O Senado, embora seja uma casa que represente constitucionalmente os estados, é uma instância política, o que faz dele, também, um problema para o Governo, a partir da decisão de domingo, em que a Câmara, por maioria expressiva – acima dos dois terços -, autorizou a abertura de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Ao insistir na questão técnica das pedaladas, o Governo perde tempo, pois não são elas que estão em jogo. O que os deputados e parte das ruas levaram em conta foi o conjunto da obra e, sobretudo, os resultados no cotidiano econômico do país.
Talvez se espere que os senadores tenham melhor compreensão dos fatos, pois boa parte deles já comandou seus estados e até mesmo deve ter feito suas pedaladas, mas se escudar apenas nesse aspecto é chover no molhado. Fossem os números mais apertados, talvez isso desse certo, mas a larga margem de votos a favor do impedimento e, principalmente, a frágil base do Governo apontam para outro caminho. Mesmo com o poder de agenda nas mãos, o Planalto não conseguiu, sequer, chegar perto dos 171 votos. Num universo de 513 deputados, é impossível governar com uma base tão anêmica.
A questão a seguir é o que deve ser colocado em discussão. Com qual tamanho Michel Temer vai assumir o comando do país? Também sob investigação pelas mesmas pedaladas, em ação que corre no Superior Tribunal Eleitoral, ele ainda precisa dizer a que veio, para não frustrar as ruas que apostaram mais em apear Dilma do que elevá-lo à Presidência. E o que fazer com Eduardo Cunha? Paradoxalmente, foi o juiz, embora seja indiciado em processos que tramitam na Justiça e na própria Comissão de Ética da Câmara.
A travessia que o país ora passa ainda vai demorar, pois são muitas as incertezas não apenas em relação à reação das ruas mas aos passos que serão dados pela instância política.