Delação do fim do mundo


Por Tribuna

16/03/2017 às 08h13- Atualizada 16/03/2017 às 08h45

Cumpriu-se a profecia. A lista do procurador Rodrigo Janot está repleta de players da política nacional, deixando dúvidas de como será a eleição de 2018, uma vez que vários deles têm interesse direto na vaga de Michel Temer. A procuradoria pediu a abertura de 83 inquéritos e o envio de 211 casos para as instâncias inferiores, uma vez que vários dos citados não têm foro especial. A delação do fim de mundo é a prova mais contundente das relações promíscuas entre o público e o privado e as instâncias políticas. E, desta vez, não há o viés ideológico. Na lista estão políticos de esquerda, de centro e de direita, apontando que, quando se trata de doação de campanha, especialmente, o discurso é basicamente o mesmo.

O que se espera, agora, é que o ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato, quebre o sigilo da investigação e aponte com clareza o que está sendo apurado. Nesse pacote há, de fato, os que pensaram única e exclusivamente nos partidos e os que fizeram das doações um instrumento de causa própria, para enriquecimento ilícito. O que a sociedade discute é se as doações do caixa dois – bem-intencionadas, ou não – são motivo para punição. Em princípio, sim, sobretudo após o Congresso acusar o golpe e articular, no curto prazo, um projeto de anistia ampla geral e irrestrita, capaz de indicar à Justiça Eleitoral que não houve ilegalidades.

Com o poder de legislar, o Congresso age em causa própria e fora do momento adequado. Não é de hoje que se cobra uma reforma política eficiente, capaz, inclusive, de pacificar o financiamento das campanhas. Levando o tema em banho-maria, achando que não havia necessidade de pressa, deputados e senadores, agora, tentam fazer uma reforma em cima da perna, própria para amenizar os efeitos da lista do procurador.

Sob pressão, a instância política, porém, tende a criar uma legislação com viés preventivo, em vez de um texto capaz de atender às muitas e recorrentes demandas que perpassam o debate nas ruas. Não se trata apenas do financiamento de campanha. A reforma política é bem mais ampla e de conhecimento dos próprios parlamentares por conta das muitas comissões instaladas para discutir o tema. Resta saber, agora, qual será a opção: uma reforma caseira ou um projeto de país, voltado para o futuro.

 

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