Pelas boas relações
De olho na governabilidade e em busca de uma base mais sólida, Lula manda ministros e ministras manterem uma boa relação com o Congresso
Ex-deputado constituinte, o presidente Lula sabe da importância do Congresso Nacional, e foi o que disse na primeira reunião ministerial, quando lembrou à sua equipe da importância de uma boa relação com os congressistas, sobretudo pelo modelo de coalizão que prevalece desde a gênesis da Carta que ajudou a elaborar em 1988, embora seu partido, PT, não tenha se entusiasmado com os resultados. Todos os presidentes após a redemocratização foram induzidos a ceder às demandas dos parlamentares, sob o risco de não verem seus projetos aprovados.
Lula disse que todos os ministros devem receber bem os congressistas, mas, para evitar danos colaterais, destacou que quem caminhar pela trilha do ilícito será convidado a deixar o Governo e, se for o caso, prestar contas à Justiça.
O presidente abordou as diferenças ideológicas de sua equipe e enfatizou que a divergência não é empecilho para a formatação de políticas de Governo. No seu entendimento, é a partir delas que se forjam ações de interesse da população, por ser esta o único objetivo de sua gestão.
Não há surpresa no pronunciamento, uma vez que ele também permeou toda a campanha política e os debates envolvendo os candidatos. A questão central é conciliar tantas visões díspares envolvendo 37 ministras e ministros. Quando disse que deseja participar das articulações, o presidente apontou, talvez, para a importância de as discussões não saírem dos trilhos, pois todos perdem se isso ocorrer.
Há desafios iniciais que começarão a ser cobrados antes das festas de Momo, pois o povo tem pressa, e as eleições mostraram um país dividido. O novo Governo tem o desafio de reduzir as diferenças e acolher as demandas de todos os setores. Talvez seja essa a razão de o presidente lembrar aos seus ministros que devem receber qualquer parlamentar independentemente do seu perfil ideológico.
É fato que não será uma prática simples, mas todos devem se esforçar para reduzir os atritos e pensar num projeto de país voltado para o futuro. Divergir é da democracia; fazer oposição é do jogo, mas tudo dentro de regras claras, a fim de garantir o espaço para os distintos pontos de vista.
No seu discurso de posse, o presidente Lula pregou a conciliação, sem esconder os limites da lei; na reunião com seus ministros, passou pela mesma questão, o que pode servir de âncora quando o jogo, de fato, começar a ser jogado. As primeiras semanas são para mudança de guarda e formatação dos projetos, mas as ruas, como já foi observado, têm pressa e estão com suas atenções voltadas para os passos dos novos gestores.