Planejamento urbano com participação popular: ‘Invenção de moda que será assinatura da próxima gestão’, diz Margarida
Prefeita reeleita afirma que as outras grandes linhas do segundo mandato serão a saúde, o transporte coletivo e as obras de infraestrutura
A prefeita reeleita de Juiz de Fora, Margarida Salomão (PT), deu entrevista à Rádio Transamérica nesta sexta-feira (20), na qual fez uma breve retrospectiva do primeiro mandato, falou sobre como percebeu a experiência vivida e fez promessas para a próxima gestão: “Eu posso até fracassar. Mas o meu empenho é em fazer, tornar realidade aquilo que foi um compromisso desenvolvido durante a campanha”.
“São as minhas grandes linhas do próximo mandato: Uma, que é uma demanda muito forte da população, é saúde. Humanização e acesso. A segunda coisa é o transporte coletivo urbano. A terceira coisa são essas grandes obras de infraestrutura que já estão, inclusive, boa parte delas, contratadas ou financiadas, que vão, na minha expectativa, resolver os problemas da resiliência urbana pelas próximas décadas. E, por último, essa grande inovação nossa, que é de congeminar o planejamento urbano com as atividades urbanas e a participação popular. Essa é uma invenção de moda, eu não tenho dúvida, que vai dar muito certo e que vai ser uma assinatura da minha próxima gestão”, sintetiza a prefeita.
Saúde
Margarida afirma que ouviu muitas pessoas sobre o primeiro ponto. Segundo ela, a grande questão da saúde de Juiz de Fora, hoje, não seria a falta de equipamentos nem de equipes, mas sim a humanização.
“Nós temos que ter um monitoramento próximo. Não faz sentido a pessoa chegar na UBS e o médico não estar, seja por que razão for”, discorre. Vamos humanizar as UPAs também. Fazer um monitoramento muito meticuloso do cuidado com a saúde, e uma parte dessa humanização é reduzir o tempo de espera das filas”.
Margarida afirma que está recebendo recursos do Governo federal que permitirão credenciar equipamentos para informatizar todos os processos da saúde. Isso permitirá um acompanhamento real, tanto para a Administração, quanto para a população, com as filas disponíveis no site da Secretaria de Saúde.
Transporte coletivo
Já em relação ao transporte coletivo, o Governo montará, imediatamente, logo no início da gestão, um grupo de trabalho para discutir qual sistema será contratado: “Você pode, por exemplo, fazer uma licitação para a frota e uma licitação para a operação. Ou nós podemos, com recursos que o BNDES está disponibilizando, comprarmos a frota e licitar a operação”.
De acordo com Margarida, só não é possível colocar todo o sistema nas mãos da própria Prefeitura porque “nós temos limites fiscais muito duros, hoje, no Brasil”.
“Mas nós ainda não temos a noção de qual vai ser o contrato”, ressalta. “Mas vai ser uma coisa completamente diferente do que agora”, promete.
‘Invenção de moda’
“Eu encomendei à Cidinha (Louzada, atual secretária de Governo e futura secretária de Desenvolvimento Urbano com Participação Popular) coordenar a revitalização do Centro. E, claro que no Centro, a artéria mais importante, porque é o lugar do povão, é a Getúlio Vargas. Que é a rodoviária urbana de Juiz de Fora”, diz a prefeita, reconhecendo que as pessoas precisam de mais conforto no local, e há um projeto em construção.
Para ela, “a grande âncora da revitalização do Centro” será a reinauguração do Mercado Municipal, “com outro padrão de beleza, de qualidade, de atendimento, transformando o centro gastronômico”. “O que revitaliza qualquer área não é a intervenção física, é o uso”.
Ainda segundo a entrevistada, uma das maiores inovações do próximo Governo será essa noção de desenvolvimento urbano, que junta planejamento, uso e participação da sociedade.
A Praça Clodesmidt Riani, também apontada como um ponto importante neste processo, será entregue no primeiro semestre do ano que vem, garante Margarida.
Novo secretariado
“Basicamente, eu reorganizei a equipe com um fundamento naquilo que eu aprendi governando. Há coisas que eu me dei conta que correriam melhor se estivessem sob a liderança de outra pessoa ou se fossem redesenhadas”, explica, sobre o novo secretariado.
Quanto às novas secretarias, enxerga a pauta da igualdade de gênero e racial posta para a sociedade brasileira como tema “irreversível”, atualmente: “Veja você a dramaturgia da Globo, que é um indício fortíssimo de mudança social. (…) Em Malu Mulher (1979), o grande problema era o fim do casamento. Hoje essas situações são tratadas de um modo muito mais cotidiano, sendo a vida como ela é”. Por isso, acredita que os dois precisam ser priorizados numa organização institucional.
E no caso da terceira recém-criada, “o grande recado veio com a eleição do Vitinho (PSB) e da Katia (PSB). Era muita gente que votou nesse tema. Porque o tema dos dois fundamentalmente era o bem-estar animal”.
“Todos esses temas, obviamente, vinham sendo tratados em outras gestões”, admite. “Só que eles não tinham endereço. Porque tem saúde da mulher, tem política de cotas, tem o Canil, mas são várias políticas dispersas. Agora, nós vamos tê-las desenvolvidas de uma forma orgânica”.
Primeiro mandato
Bem no início da entrevista, Margarida, fazendo um retrospecto do primeiro mandato, afirma que começou “numa batalha sem precedentes”, apontando a pandemia e o Governo Bolsonaro, que, segunda ela, “nunca olhou para os municípios”.
Ela também confirma que a experiência de comandar a cidade é completamente diferente da experiência que teve de comandar a Universidade Federal de Juiz de Fora, como reitora, por dois mandatos.
Outro cenário com a mesma comparação foi o que ela própria viveu dentro do Governo de Tarcísio Delgado: “Era outra realidade completamente diferente. A cidade quase que triplicou desde aquele período. (…) Mas eu tinha ideia. Eu acho que as dificuldades que eu encontrei me levaram, inclusive, a reinventar o que eu sabia para conseguir dar conta de uma situação muito,muito difícil”.
Ela destaca a articulação entre secretarias: “A cultura política da cidade é a de fragmentação das demandas, então o próprio vereador era acostumado a ir na secretaria, a resolver com o secretário, mas às vezes aquilo que ele resolvia com o secretário entrava em choque com políticas urbanas que estavam sendo desenvolvidas por outras áreas da administração. Então você conseguir fazer todo mundo conversar não é fácil”.
Apesar de enxergar como uma inovação bem-sucedida, assume que precisa avançar nesse campo: “Por exemplo, no que diz respeito às políticas sociais no território, porque não tem sentido que a escola não converse com o CRAS, que o CRAS não converse com a UBS. Então essas reservas setoriais acabam prejudicando muito a atenção ao cidadão, porque o cidadão não é fracionado”.
“Eu acho que esse é um desafio para a próxima gestão: nós conseguirmos o ‘Boniteza’ das políticas sociais”.
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