Única Cordilheira do Brasil, Serra do Espinhaço, em Minas, representa 15% da biodiversidade do país
Reconhecida como Reserva da Biosfera, Serra abriga 13 unidades de conservação mineiras com cachoeiras, belas paisagens e diversas espécies endêmicas da região
A expressão “mares de morro” é praticamente um sinônimo de Minas Gerais. Paisagem característica do estado, que é cercado por montanhas, ganha ainda mais significado ao abrigar a única Cordilheira do Brasil. De Ouro Branco, município situado a cerca de 190 quilômetros de Juiz de Fora e a cem de Belo Horizonte, ao norte da Bahia, na Chapada Diamantina, são 1.200 quilômetros de extensão da Serra do Espinhaço. Reconhecida como Reserva da Biosfera pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), a área representa 15% da biodiversidade do país, além do fato de que cerca de 23% das espécies da fauna e flora são endêmicas, ou seja, só existem na região.
A Serra do Espinhaço tem 1,5 bilhão de anos. Mas apenas recentemente começou a ser percebida como uma paisagem natural e cultural integrada. Em maio de 2021, cinco municípios do Norte de Minas – Grão Mogol, Botumirim, Cristália, Itacambira e Turmalina, com as Instâncias de Governança Regional (IGRs) Lago de Irapé e Sertão Gerais, se uniram para criar o Programa de Desenvolvimento Turístico Integrado Sustentável da Cordilheira do Espinhaço. O programa foi criado para melhorar a infraestrutura e a qualificação turística das cidades cortadas pela cordilheira.
Funcionando como um divisor natural entre a Mata Atlântica e o Cerrado, o Espinhaço guarda espécies raras, como é o caso da cidade de Botumirim, habitat natural da rolinha-do-planalto, considerada uma das dez aves mais raras do mundo, razão pela qual a cidade se tornou um dos principais lugares de observação de aves do planeta. Mas a riqueza também se estende pela paisagem cultural, como comenta o secretário de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais, Leônidas de Oliveira.
“A América do Sul possui duas cordilheiras: a dos Andes e a do Espinhaço. Ela tem um poder muito grande na formação cultural e, claro, na natureza do nosso estado, devido ao reviramento de terra que originou, por exemplo, o ouro, as pedras preciosas e o minério. A Cordilheira do Espinhaço também possui elementos arqueológicos e uma ancestralidade pré-colombiana imensa”, explica.
Além da riqueza natural, o lugar também chama atenção para o artesanato em barro do Vale do Jequitinhonha e o Sistema Agrícola Tradicional de Apanhadoras e Apanhadores de Flores Sempre-Vivas, ambos registrados como patrimônio imaterial pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG). “Essa cordilheira agora se mostra como um novo destino turístico, com picos muito altos, cachoeiras, patrimônio histórico rico e, claro, com turismo verde”, complementa Leônidas.
Ecoturismo na Serra do Espinhaço impulsiona economia
O projeto surgiu com o apoio do Governo de Minas, por meio da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo (Secult-MG) e do Instituto Estadual de Florestas (IEF), do Comitê Estadual da Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço, do Sebrae e da Associação Brasileira de Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura (Abeta), e é, hoje, uma das iniciativas mais grandiosas do turismo nacional. Ao longo de 1,2 mil quilômetros, 172 municípios mineiros, 21 IGRs e mais de cem unidades de conservação nacionais e estaduais são beneficiadas pelas ações de estruturação, capacitação e promoção.
“A participação econômica foi de 3% para 5%. Os hoteis têm tido 100% de taxa de ocupação, principalmente nos finais de semana de visitação à experiência de enoturismo. O emprego formal no setor cresceu 50%, de janeiro de 2021 até 31/12/2023”, conta Ítalo Oliveira Mendes, secretário de Turismo de Grão Mogol.
Com o aumento do fluxo de turistas, a população tem se interessado em realizar capacitações na área de ecoturismo, como aponta a gestora da IGR Lago de Irapé e presidente da Associação da Cordilheira do Espinhaço, Poliana das Dores Soares Caldeira. “A partir do momento que a comunidade viu que o turismo está sendo desenvolvido, as pessoas estão se interessando pelos cursos.”
Para impulsionar essa qualificação, a Secult-MG, em parceria com a Sedese, tem promovido formações como “Qualidade no atendimento ao cliente”, “Boas práticas para serviços de alimentação” e “Aperfeiçoamento em serviços de cozinha”. Para 2025, estão previstos cursos nas cidades de Salinas, Diamantina, Turmalina, Paracatu, Itambacuri, Janaúba, Montes Claros e Teófilo Otoni.