Sapo de Fora: À espera de um gol
Com quase 50 anos, algumas Copas vividas, tenho certeza: não há tempo a perder. Não dá pra esperar uma nova chance, um novo momento, outra Copa. Não. Não é pra fazer o hexa acontecer. Não é isso. É outra coisa. Nem sei se os mais jovens também terão esse tempo. É que os fatos, a vida, a realidade, tudo tem ficado tão temeroso que nem dá pra acreditar que é possível. As esperanças estão diminuindo. O tempo tá passando…
E eu sempre fui a primeira a erguer a bandeira verde-amarela da esperança. Sempre fui só sorrisos, com vuvuzelas e adereços. Sempre na torcida: vai lá Braziuziiil! Agora, não. Agora tá um sufoco só. Feito finalzinho do segundo tempo. Aqueles segundos da prorrogação, quando o gol que pode valer uma Copa do Mundo não sai. Chuta daqui, corre dali, bate escanteio e não sai. Não sai. O grito crispado na garganta.
Não, não há tempo a perder. Marcos Vinícius, 14 anos, morador do Complexo da Maré. O jovem ia a caminho da escola, cheio de vida, veio um tiro e… acabou. O sonho de um futuro melhor sendo interrompido por uma bala. Entrou pelas costas e saiu pelo abdômen do adolescente. Marcos Vinícius, sujo de sangue, uniforme azul e branco, nos braços da mãe: “Foi o blindado, mãe. Ele não me viu com a roupa de escola”.
Ah, a escola… É preciso chegar logo. Corre. O cronômetro do jogo tá na prorrogação. Tem que acertar a jogada, chegar no lance. E o pior é que todos sabem. Todos em campo sabem. Aaah, a escola. Mas não. Passa copa, entra copa, e nada. Feito craque sentado no banco esperando aparecer sua chance. Será que não vai aparecer um governante, um só, unzinho, um que faça o maior gol de placa desse país? Um gol de levantar arquibancada, delírio geral da torcida?
A educação é urgente para o país. Não dá mais para esperar. Tem que ser revolucionária, uma sacudida geral. Que mobilize mãos, mentes, braços, suor. Gente trabalhando, lecionando, um mutirão. Uma ôla gigantesca! Ah, a escola… Mas até hoje, nada. Nem um chute de bico, nada. Nesta semana, o noticiário avisou: “Só 2,4% dos jovens brasileiros querem ser professor”. Uma lástima. A educação foi de novo posta pra escanteio. E o tempo tá passando, o jogo tá acabando, e o Brasil, pelo menos fora do campo, vai perdendo de novo essa partida.