Prefeitura nega uso para equipes locais para poupar o gramado
Alegação da PJF é que Estádio Radialista Mário Helênio precisa atender a exigências da CBF
Principal palco dos jogos de futebol em Juiz de Fora, o Estádio Municipal Radialista Mário Helênio está no meio de uma disputa: de um lado, equipes esportivas da cidade que querem usá-lo em competições, de outro, a Secretaria de Esportes que deseja preservá-lo para possíveis partidas de campeonatos da Confederação Brasileira de Futebol (CBF).
Considerado a casa do Tupi e Tupynambás nas disputas dos campeonatos Mineiro e Brasileiro, o estádio tem ficado a maior parte do ano fechado devido ao baixo número de jogos das duas equipes profissionais de Juiz de Fora. Por conta disso, outras modalidades esportivas tentam ocupar o espaço, como foi o caso do JF Imperadores, que se classificou para a final da Copa Minas de Futebol Americano. Na primeira fase da competição, a equipe tentou mas não conseguiu que a Prefeitura liberasse o estádio para a partida contra o Betim Bulldogs, no dia 22 de abril. Por conta disso, a equipe de Juiz de Fora, que era a mandante do jogo, teve que atuar no Sesc Venda Nova, em Belo Horizonte. O deslocamento, na época, custou mais de R$ 5 mil aos atletas, que precisaram contratar ônibus e gastar mais com alimentação, segundo os integrantes do time.
Além do futebol americano, a administração do estádio também não autorizou a realização de jogos dos times de futebol de base do projeto da Faculdade de Educação Física e Desportos (Faefid) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), em parceria com o Uberabinha, que disputam as categorias sub-15 e sub-17 da primeira divisão do Campeonato Mineiro. De acordo com o professor e coordenador do Projeto de Futebol da UFJF, Marcelo Matta, como o campo da Faefid não estava em bom estado para realização de dois jogos seguidos, foi solicitado à Secretaria de Esporte e Lazer da PJF a cessão do estádio. “A Administração negou o nosso pedido sob a alegação de que, somente para abrir os portões do estádio, o custo seria superior a R$ 8 mil.”
POLÊMICA
A negativa causou atrito entre a universidade e a Secretaria de Esporte Lazer (SEL), responsável pela manutenção do estádio. O secretário, Júlio Gasparette, diz que, em retaliação, a UFJF não liberou a pista de atletismo para a 24ª edição dos Jogos Intercolegiais, promovidos pela Prefeitura em junho, culminando no cancelamento da modalidade dentro da competição.
“O Marcelo Matta e o Jefferson Vianna (professor e diretor da Faefid) condicionaram a cessão da pista de atletismo à liberação do estádio. A Prefeitura propôs para eles fazerem uma preliminar dos jogos do Tupi, mas eles não aceitaram. Como secretário de Esportes, respeito a UFJF, mas não podemos admitir uma proibição do espaço para alunos de escola pública, pois queremos continuar tendo a UFJF como parceira”, declarou Júlio Gasparette.
O professor e diretor da Faefid, Jeferson Vianna, contesta o secretário e garante que não houve nenhum condicionamento e sim uma incompatibilidade, pois os dias e os horários que a SEL solicitou o espaço coincidiam com as aulas da faculdade. “Os horários que eles nos solicitaram estavam ocupados com as nossas atividades. Tanto o campo quanto a pista de atletismo são nossas salas de aula. Não podemos interromper as diversas atividades que são desenvolvidas na UFJF, que são voltadas à comunidade. Por isso, pedimos que houvesse uma troca para que pudéssemos utilizar as dependências do estádio, e eles, a pista e o campo da Faefid. Mas não houve esse entendimento por parte da PJF”, ressalta Vianna, lembrando ainda a liberação do ginásio da Faefid para a realização do jogo do Tupi pela Copa Brasil de Futsal. Para ele, isto seria uma obrigação do município e não da UFJF.
R$ 1 milhão para manter o estádio
Além da falta de entendimento para a liberação, há também outros empecilhos para o uso do Estádio Municipal. De acordo com o administrador do equipamento público, Flávio Villela, o custo para manter o estádio é de mais de R$ 1 milhão por ano. Ainda segundo ele, por conta do período frio, o desgaste do gramado é ainda maior, principalmente se tivesse que ser remarcado para a prática do futebol americano. “Só para abrir o estádio o custo é de R$ 8 mil. No caso do futebol americano, teria que remarcar o campo. Além disso, as travas das chuteiras deles são diferentes, e, se liberássemos, quem pagaria possíveis prejuízos?”, questiona Villela.
Conforme a assessoria da SEL, os R$ 8 mil são distribuídos entre manutenção das instalações, quadro móvel, serviços dos órgãos da Prefeitura de Juiz de Fora como Empav, Demlurb, Secretaria de Obras entre outros e itens obrigatórios para a realização de uma partida como iluminação e ambulâncias.
Campo é bem avaliado pela CBF
Durante o ano de 2016, o Estádio Municipal Radialista Mário Helênio foi palco de 39 jogos oficiais e três jogos-treino, e em 2017, até o dia 3 de junho, foram 16 jogos oficiais e um jogo-treino, segundo números da Secretaria de Esporte e Lazer (SEL), que intensificou os cuidados com o gramado, replantado em 2014 e que agora ganhou padrão internacional. O Mário Helênio passou por uma vistoria da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e está entre os 40 melhores estádios do país. Mas, segundo Flávio Villela, para isso a fiscalização é rigorosa, observa a luminosidade para transmissão de TV e, principalmente, o gramado, que teve parte do piso retirado para avaliação do solo.
“Qualquer evento que for feito hoje no estádio, que não seja do Campeonato Brasileiro, com os jogos do Tupi, eu tenho que comunicar à CBF para vir novamente e fazer outra vistoria. Se ficar constatado algum problema, o estádio corre o risco de não poder fazer mais jogos. Já tivemos quatro visitas da CBF de janeiro a maio deste ano e sempre fomos bem avaliados.”
Em contato com a CBF, a assessoria de comunicação da entidade afirmou que a Diretoria de Competições iniciou a segunda fase do Projeto Gramados, criado para padronizar os campos do Campeonato Brasileiro. Todos os palcos vão ficar com as medidas da Copa do Mundo da Fifa: 105 metros de comprimento por 68 metros de largura. Administradores, clubes, órgãos governamentais, federações e concessionárias dos estádios atendidos receberão um certificado.
No primeiro passo, foram feitas vistorias para levantar necessidades de ajustes topográficos, que dizem respeito à dimensão do campo, e de melhorias na qualidade do gramado. Posteriormente, começaram as alterações, com apoio técnico e instrumental da CBF. Questionada sobre alguma contrapartida para o estádio, a assessoria da entidade informou que cada estádio recebe 20 marcos, instrumentos que são fincados no campo e servem para indicar, exatamente, os locais em que as linhas devem ser pintadas. Em alguns casos, traves de alumínio também estão sendo entregues para substituição das balizas de ferro.
Fiscalização é rigorosa
Essa segunda etapa da padronização é dividida em duas frentes: topografia (duas equipes com dois profissionais cada) e agronomia (quatro agrônomos). No apoio para melhorar a qualidade e ajudar na manutenção da grama, a CBF doa cortadores de grama e outros instrumentos para uso cotidiano.
Para garantir a uniformização do comprimento, largura, espessura das linhas e formas geométricas do campo, uma empresa credenciada pelo Inmetro faz as medições e marcações em todos os estádios. A CBF auxilia, com diagnóstico completo, os administradores no processo de aperfeiçoamento dos estádios.
Por conta do rigor da fiscalização, o Secretário de Esporte e Lazer, Júlio Gasparette, considera que a preservação e a manutenção do estádio são fundamentais para que a cidade esteja apta a receber jogos de maior visibilidade, principalmente dos times do Rio de Janeiro.
“A recomendação da CBF é que nem para treinamento o estádio seja liberado. Mas por causa do acordo já feito com os clubes de Juiz de Fora, Tupi e Tupynambás, que disputam o futebol profissional, está sendo aberta uma exceção. Quanto aos jogos de times de fora, não tem como negarmos a sua realização. Existem sim, alguns contatos para que times de fora venham para aqui este ano”, concluiu Gasparette.