Problemas em obras já ameaçam o legado olímpico do Rio
A menos de quatro meses da Olimpíada, o Rio de Janeiro vê o prometido legado olímpico de obras e melhorias na cidade ameaçado de se desfazer antes mesmo da realização dos Jogos. Obras atrasadas e de qualidade duvidosa, como a Ciclovia Tim Maia, que desabou parcialmente na quinta-feira (21), se somam a promessas frustradas.
É o caso da Baía da Guanabara, que continuará suja apesar de um dispendioso programa de despoluição que já dura mais de 20 anos. A meta de que até os Jogos 80% dos efluentes fossem tratados não foi atingida – nem será nos próximos anos.
O cenário é repleto de contrastes. A nova Praça Mauá, que surgiu das obras realizadas após a derrubada do Viaduto da Perimetral, virou um ponto de reunião de cariocas e turistas, encantados com as linhas arrojadas do Museu do Amanhã. A bela vista do mar, porém, é, com frequência, prejudicada por lixo e manchas de esgoto que flutuam nas águas. A sujeira choca, a poucos metros de um museu cheio de tecnologia.
Outra decepção olímpica dos cariocas veio com os BRTs, o sistema de ônibus articulados e com ar-refrigerado, que circulam em pistas próprias, com venda de bilhetes exclusiva em estações. Em muitos pontos, as vias se deterioraram rapidamente, exigindo consertos. Mais grave, porém, é o aparente subdimensionamento das linhas. Uma delas, a Transoeste, que na primeira fase liga a Barra da Tijuca a Santa Cruz, embora elogiada pela rapidez, é criticada pelos ônibus superlotados.
Há ainda queixas contra o fim de alternativas – linhas de ônibus tradicionais foram extintas porque, em tese, sua demanda seria suprida pelos BRTs, o que não acontece. Mesmo a rapidez das novas linhas é em parte neutralizada pela superlotação.
Em decorrência da crise financeira que afeta o Estado, evidenciada a partir de 2015 por causa da queda dos preços internacionais do petróleo e do recuo da arrecadação, o Governo estadual teve dificuldades para conseguir, com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), até os recursos necessários para concluir a Linha 4 do Metrô, para a Barra da Tijuca, também assombrada pelo espectro do atraso.
“As obras públicas para os grandes eventos foram pensadas muito mais para atender aos interesses de grandes grupos econômicos, que querem obter lucro com os Jogos, do que aos da população”, afirmou ao Estado Orlando Alves dos Santos Júnior, doutor em Planejamento Regional pela UFRJ.
Prefeitura
Em situação financeira consideravelmente melhor que o Estado, a Prefeitura ainda consegue exibir alguns aspectos vistosos do prometido legado. A linha 1 do Veículo Leve Sobre Trilhos (VLT), entre o Aeroporto Santos Dumont e a Rodoviária Novo Rio, já está, em boa parte, concluída. Os tramways já atravessam o centro em testes para a operação, que deve começar neste semestre. Uma segunda linha, entre a Praça XV e a Rodoviária Novo Rio, só deve ficar pronta depois dos Jogos. Há ainda o passeio público de 3,5 quilômetros à beira-mar, no espaço aberto pela derrubada da Perimetral, que deve estar pronto até os Jogos.
Mesmo nessa região, porém, há problemas. O Aquário Marinho do Rio (AquaRio), na zona portuária, após vários atrasos na sua construção, agora enfrenta dificuldades para comprar os peixes e pode só estar totalmente pronto após a Olimpíada. Do BRT Transbrasil, que vai de Deodoro ao centro pela Avenida Brasil, apenas um trecho de 7 quilômetros, na mesma área, estará pronto para a Olimpíada.
Apesar dos problemas, o prefeito Eduardo Paes (PMDB) mantém o discurso otimista. Ele repete que as obras estão no prazo e os problemas serão superados. “A gente ouviu que isso não ficaria pronto, que não ficaria no preço certo. Todas as obras estão sendo entregues no prazo e não há nenhum tipo de aditivo. Se há, não há algo além do que está previsto em lei”, disse Paes ao apresentar, no dia 8, o Estádio Aquático.
Já na sexta-feira (22), ao falar da ciclovia que desabou, assumiu as responsabilidades. “Em última instância, é a Prefeitura quem faz as obras.”