‘Onde tem santo, tem diabo também’
O ex-atacante e ídolo Dadá Maravilha, campeão do mundo pela Seleção em 1970, manda um alerta para Neymar contra a maldade de adversários nesta Copa, esbanja carisma em entrevista à Tribuna e envia um recado para a torcida juiz-forana
Em meio às dezenas de jornalistas na cobertura da Seleção Brasileira para a Copa na Granja Comary, antes do embarque da equipe da a Inglaterra, um sorriso chamava a atenção da maioria dos profissionais presentes. Um dos maiores artilheiros do futebol mundial, o ex-atacante Dadá Maravilha, 72 anos, campeão mundial com a Seleção de 1970, transbordava alegria ao viver novamente o clima de uma Copa do Mundo. O ídolo nacional concedeu entrevista exclusiva à Tribuna (ver vídeo) e não apenas agradeceu os juiz-foranos, como aconselhou o craque Neymar e deu opiniões sobre suas esperanças na Rússia.
O clima foi o primeiro assunto destacado pelo carismático ex-jogador. “Vendo a imprensa, estou sentindo aquela loucura que dá no brasileiro de torcer e amar a bandeira. E não sou diferente de ninguém, sou patriota demais. Gosto de ser campeão como sempre fui quando jogador. Deus me permitiu que eu estivesse na maior seleção que o mundo já viu, que foi a de 1970. Logicamente eu queria que essa seleção viesse até nos superar, fizesse uma campanha maravilhosa e fosse campeã, porque não quero levar para o céu o que eu fiz nesse mundo, São Pedro já me falou que vou para o céu! Então deixo para eles aquela calma diante do goleiro, para colocar o queixo no peito e o queixo no ombro, porque fui o maior cabeceador do mundo, quem tem mais gols de cabeça no planeta e a maior impulsão, pois saltava mais de 90 centímetros! E ninguém pode perder a humildade de trabalhar. Quando acabava o treino eu dava cem cabeçadas e cem chutes a gol, por isso fui esse fantástico goleador e ídolo nacional”, conta.
Profundo conhecedor do ataque da Seleção, Dadá ainda deu conselho ao principal jogador do atual elenco canarinho, após a fissura no quinto metatarso do pé direito. “Neymar, você teve uma contusão muito forte e, logicamente, onde tem santo, tem diabo também. Muitos jogadores já sabem que é seu pé direito, o dedinho, e vão querer te machucar. O máximo que você puder driblar e tocar, evitar os encontros, será muito bom para você. É impossível tomar a bola do Neymar, então os caras vão fazer o que sempre fizeram, apelar e dar pontapé. Neymar, fique prevenido, porque o pessoal está de boca aberta para te abocanhar. Toca mais a bola e joga esse futebol maravilhoso que você tem!”, aconselha.
Dadá não se esquivou, ainda, ao opinar sobre a preferência no comando de ataque brasileiro, com Gabriel Jesus titular e a sombra de Roberto Firmino após temporada individual de sucesso no Liverpool. “Firmino e Gabriel Jesus são ótimos, mas no momento o Jesus está melhor. Mas Gabriel, tome conta, se você bobear, perde a posição!”, diz.
Se a Seleção de 1970 teve como uma de suas marcas a goleada de 4 a 1 sobre a Itália na final da Copa daquele ano, no México, muitos convocados de 2018 vivenciaram a goleada de 7 a 1 sofrida diante da Alemanha, na Copa no Brasil, quatro anos atrás. Para Dadá, contudo, são águas passadas. “Acabou. O Brasil ganhou da Alemanha de 1 a 0 (em amistoso de março deste ano) e tirou esse medo. Agora, se você me perguntar quem é favorito para ganhar a Copa eu diria a Alemanha. Mas o Brasil também pode surpreender porque sabe jogar futebol. Tem que ter a humildade para jogar, e ninguém querer dar uma de Pelé. O próprio Pelé em 1970 prendia um pouco a bola, e o Gerson voava no pescoço dele: ‘Toca a bola, negão!’. Quando toca, o conjunto aparece mais. Então cada um tem que jogar pelo outro e sempre achar que o toque de bola é melhor. E fazer aquilo que o Dadá fez por 926 vezes: gol!”, relata.
E é claro que, identificado com Minas Gerais, o ex-craque não deixaria de dar seu recado aos juiz-foranos. “Pessoal de Juiz de Fora, um abraço para vocês, o Dadá ama vocês! E nas últimas duas vezes que fui a Juiz de Fora, me trataram como mereço: como um rei! Obrigado!”.