Juiz de Fora ganhará três núcleos de vôlei para alunos da rede pública
Iniciativa firmada entre Clube Bom Pastor e JF Vôlei, através de verba captada por meio de lei de incentivo, visa revelar novos talentos na cidade
Clube conhecido por formar talentos para o vôlei, como os campeões olímpicos Giovane Gávio e André Nascimento, o Bom Pastor deve iniciar em fevereiro um projeto que tem por objetivo manter essa tradição. Com o apoio do JF Vôlei, o clube conseguiu em 2017 captar valores por meio do Minas Esportiva Incentivo ao Esporte, lei de incentivo fiscal do Governo do Estado para o fomento ao esporte, com o qual irá criar três núcleos de vôlei em Juiz de Fora direcionado a jovens entre 11 e 14 anos, totalizando cerca de 120 alunos oriundos da rede pública de ensino. A iniciativa, que terá duração inicial de um ano, será implantada em três bairros da cidade, em locais a serem definidos.
No total, o Clube Bom Pastor conseguiu captar pouco mais de R$ 153 mil no ano passado com as empresas Medquímica e Unida, que poderão descontar os valores repassados do saldo devedor do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços). Todo ano, o Governo Estadual pode direcionar 0,5% do ICMS para atividades esportivas e paradesportivas de rendimento, do desporto escolar, lazer, de formação e desporto social, entre outros.
De acordo com o presidente do Bom Pastor, Carlos Augusto Bandeira Moraes, as leis de incentivo são uma forma eficiente de conseguir apoio para o fomento do esporte em geral, e que no caso do projeto do clube terá caráter social e também abre a possibilidade da descoberta de novos talentos para suas categorias de base, que voltaram a disputar campeonatos em 2017 nas categorias sub-13 a sub-17 – com a instituição, inclusive, sediando competições oficiais.
Nos mínimos detalhes
O caminho, explica, não é fácil. O Bom Pastor vem tentando a aprovação nas leis de incentivo, tanto estadual quanto federal, há alguns anos, e somente em junho de 2016 obteve sucesso. “É preciso ter todas as certidões negativas exigidas, estar de acordo com as necessidades do clube, discriminar os objetivos, detalhar o que será feito. E nós não nos tornamos apenas um receptor dos eventuais valores; na verdade, somos cadastrados para poder procurar as empresas que tenham interesse em participar da iniciativa, e estas também precisam ser aprovadas pelos órgãos responsáveis”, explica Carlos Augusto.
”Podemos descobrir jovens que podem ir para nossas categorias de base, inclusive com direito a bolsa. Nossa sobrevivência, sob muitos aspectos, depende dessas leis”, Carlos Augusto Bandeira Moraes, presidente do Clube Bom Pastor
Quando o projeto é aprovado, o agraciado tem um ano para conseguir parceiros interessados. No caso do Bom Pastor, isto se deu em junho de 2016, e no início de 2017, após procurar diversas empresas, conseguiram o apoio da Unida e Medquímica. É preciso abrir uma conta bancária específica apenas para receber os valores, que devem ser utilizados dentro do prazo de um ano, e que passam por rígido controle de prestação de contas. Como exemplo, a aquisição de materiais como bolas, uniformes, redes etc. tem que ser feita por meio de cotação de preços com pelo menos três empresas.
Apesar de toda a burocracia inerente à iniciativa, o presidente do Bom Pastor afirma que esta é a melhor forma de o clube conseguir aumentar o seu alcance como formador de talentos no esporte. “Nós, dos clubes de base, não vendemos jogadores. Eles são formados aqui e depois passam para os clubes profissionais, então não temos dinheiro sobrando. Dessa forma, podemos descobrir jovens que podem ir para nossas categorias de base, inclusive com direito a bolsa. Nossa sobrevivência, sob muitos aspectos, depende dessas leis.”
Três núcleos, 120 atendidos
Com isso, ele espera que a instituição continue a entregar para o esporte nomes não apenas como os de Giovane e André Nascimento, mas também destaques recentes como Felipe Roque, atualmente no Minas Tênis e convocado para a Seleção Brasileira, e Felipe Guedes, que está no elenco do JF Vôlei – o clube, inclusive, já tem parceria com o Bom Pastor nas categorias de base e mantém esse acerto com o novo projeto.
Ainda que não tenha definido os locais onde ficarão os núcleos, o Bom Pastor e o JF Vôlei informam que cada unidade receberá 40 jovens da rede pública de ensino, totalizando 120 adolescentes, que devem manter um bom desempenho escolar. O material esportivo (camisa, meias, calção, tênis) será fornecido pela iniciativa, que também vai adquirir redes, bolas e outros itens necessários. Serão contratados, ainda, um coordenador geral, dois professores e dois estagiários. Os núcleos deverão ser instalados, a princípio, em escolas que tenham quadra de vôlei disponível.
Mais que atletas
Para o presidente da Asepel (Associação de Ensino e Pesquisa em Esporte e Lazer, responsável por gerenciar o clube participante da Superliga masculina), Toninho Buda, a iniciativa tem valor não apenas pela possibilidade de descobrir possíveis futuros craques, mas também formar novos profissionais e dar uma nova visão de mundo aos jovens. “Há um aspecto inclusivo enorme, porque teremos dezenas de crianças em cada unidade que terão a oportunidade de treinar. A partir do momento em que colocamos o esporte na vida da pessoa e ela se interessa, sua vida muda, porque é preciso dedicação, organizar sua vida em razão do esporte, até mesmo com mais maturidade”, acredita Toninho, destacando que o JF Vôlei já tem parceira com a Prefeitura de Juiz de Fora para instalar escolas de vôlei nas instituições da rede municipal de ensino – a primeira delas já funciona na Escola Municipal Tancredo Neves, no São Pedro.
“Há um aspecto inclusivo enorme, porque teremos dezenas de crianças em cada unidade que terão a oportunidade de treinar. A partir do momento em que colocamos o esporte na vida da pessoa e ela se interessa, sua vida muda”, Toninho Buda, presidente da Associação de Ensino e Pesquisa em Esporte e Lazer, que gerencia o JF Vôlei
“São vários os ganhos que o jovem pode ter”, acrescenta Carlos Augusto. “Temos a ligação do esporte com a saúde física e mental; o aprendizado do trabalho em equipe, algo que precisamos ter durante toda a vida; e também diminuir os riscos dos meninos e meninas entrarem no mundo das drogas ou ficarem apenas nos jogos eletrônicos; e a capacidade de absorver as frustrações, porque muitas vezes você precisa encarar as derrotas com maior frequência, adquiri-se a capacidade de resiliência.”
Carlos Augusto Bandeira Moraes lembra que o clube também tem outro projeto, desta vez aprovado pela Lei de Incentivo ao Esporte, o qual já apresentou a outras empresas. Para ajudar na captação, o Bom Pastor contratou um especialista em marketing para mostrar as empresas as vantagens de participar da iniciativa e como conseguir contrapartida por meio da ação.
E nem por isso eles pensam em deixar para trás o atual projeto quando se encerrar o período de sua realização. “Não queremos que seja apenas por 12 meses. Com a experiência que já adquirimos buscamos captar recursos para 2019 com o apoio de uma empresa especializada nesta atividade”, destaca.