Bruno Henrique pega 12 jogos de suspensão e multa de R$ 60 mil por caso de apostas

Atacante do Flamengo é punido pelo STJD por manipulação ligada a apostas


Por Pedro Moysés

04/09/2025 às 18h48

O atacante do Flamengo Bruno Henrique foi condenado a 12 jogos de suspensão e pagamento de R$ 60 mil em multa. A decisão foi tomada pela Primeira Comissão Disciplinar do STJD, que formou maioria (4 a 1) para a condenação do atacante no artigo 243-A do CBJD, que fala sobre “atuar, de forma contrária à ética desportiva, com o fim de influenciar o resultado de partida, prova ou equivalente”. Bruno foi condenado por ter forçado um cartão amarelo em um jogo contra o Santos, no Mané Garrincha, pelo Brasileirão, e beneficiado apostadores em 2023. 

A pena, que poderia chegar a dois anos e 24 partidas de suspensão com multa de até R$200 mil, foi fixada em 12 jogos de suspensão. Aplicada pelo STJD, a pena valerá apenas para partidas do Campeonato Brasileiro. O relator do caso, Alcino Guedes, fez menção a um pedido de extensão para o âmbito internacional, o que envolve também a Libertadores, campeonato no qual o Flamengo já está classificado para as quartas. O advogado do clube, Michel Assef, que faz parte da defesa do atacante, irá recorrer.

Bruno Henrique é condenado em primeira instância por beneficiar apostadores em 2023
Atacante do Flamengo foi condenado por forçar cartão amarelo e beneficiar apostadores (Foto: Gilvan de Souza/Flamengo)

O atleta, que está de folga por conta da Data Fifa, não compareceu ao tribunal e acompanhou a sessão de maneira remota. O jogador valeu-se do direito de ficar em silêncio e não responder a questionamentos.

Além de Bruno Henrique, que também é réu na Justiça Comum, foram condenados também o irmão do jogador do Flamengo, Wander Nunes Pinto Junior, a 12 partidas oficiais de suspensão, além de Claudinei Vitor Mosquete Bassan com suspensão de 14 jogos, Andryl Sales Nascimento dos Reis e Douglas Ribeiro Pina Barcelos, ambos com punição de seis partidas. Todos são atletas amadores.

Julgamento

Antes mesmo da apresentação do caso, a defesa do atacante e do clube carioca apresentaram, em conjunto, uma estratégia para pedir pela prescrição do caso. 

O procurador Caio Porto Ferreira, porém, indicou que se trata de um caso de compliance esportivo. Confrontando o argumento da defesa de Bruno Henrique de que o STJD até havia arquivado o processo no final de 2024, o procurador reiterou que ainda não havia acesso às trocas de mensagens entre o jogador e seu irmão, Wander. A partir do compartilhamento destas provas, houve a possibilidade de instaurar o inquérito.

No início de seu voto, o procurador também criticou as casas de apostas como a Betano, atual patrocinadora máster do Flamengo, por não colaborarem com o compartilhamento de informações e indicação de vítimas.

O advogado Alexandre Vitorino, que representa Bruno Henrique junto de Michel Assef, também defendeu o tempo de prescrição como motivo para invalidar o processo. 

O advogado também defendeu ser impossível afirmar que houve conluio entre Bruno Henrique e seu irmão, Wander, assim como que o lance gerador do cartão teria acontecido exclusivamente para beneficiar apostadores.

Já Michel Assef Filho, representando o Flamengo, afirmou que o clube carioca reprova condutas que dizem respeito à manipulação de resultados e decidiu dar apoio ao seu atleta. Ele também falou sobre o período de prescrição do caso e criticou a Procuradoria do STJD por não buscar provas próprias, tendo que depender da investigação da Polícia Federal.

A Procuradoria do STJD e a defesa discutiram sobre o argumento de suspensão e interrupção da prescrição, relativo ao fato de a entidade ter aberto o inquérito em maio, mas as provas da Polícia Federal terem aparecido apenas em junho. Um auditor e o presidente Marcelo Rocha concordaram. Já outros três auditores, que formaram maioria na discussão, discordaram. O trio se embasou na afirmação de que a apresentação de provas teria recomeçado o prazo em junho, o que resultaria nos 58 dias.

A defesa chegou a argumentar que a estratégia de provocar terceiro cartão amarelo é uma prática recorrente entre jogadores e clubes no futebol brasileiro, e que não configuraria prioritariamente uma tentativa de benefício a apostadores. Foi mostrado um lance no qual Zé Rafael, do Palmeiras, em um jogo do Brasileirão de 2024, segundo o clube rubro-negro, teria provocado uma clara forçação de cartão amarelo. Os comentários da transmissão em questão corroboram com essa versão.

O advogado do Flamengo também leu uma declaração enviada pelo clube afirmando que não houve prejuízo esportivo para o time carioca, destacando que o terceiro cartão estava planejado pela comissão técnica por causa do calendário, para que ele fosse poupado na partida seguinte.

A defesa ainda argumentou que as conversas de Bruno Henrique com o irmão tratavam de apostas em cavalos, e não em futebol. Após quase quatro horas de julgamento em silêncio, o atleta disse confiar na Justiça e reafirmou sua inocência. “Gostaria de reafirmar minha inocência, dizer que confio na Justiça Desportiva, jamais cometi as infrações de que estou sendo acusado. Meus advogados estão aí e falarão por mim. Faço questão de mostrar respeito e minha total confiança nesse tribunal. Desejo excelente julgamento e que tudo transcorra de forma leve e justa”.

O procurador Caio Porto Ferreira pediu a condenação de Bruno Henrique, do irmão Wander Nunes Pinto Júnior e dos outros três apostadores envolvidos no inquérito. Ele afirmou que o STJD teve acesso ao jogo completo entre Flamengo e Santos, e interpretou que teve outros momentos da partida em que o jogador forçou o cartão amarelo anteriormente. Da mesma forma, lembrou do depoimento prestado por Douglas Barcelos, no qual o apostador confirma ao Ministério Público do Distrito Federal que sabia da informação antecipadamente. Além disso, confirmou os artigos nos quais os acusados foram denunciados e disse que o atleta prejudicou seu clube.

Por fim, houve a votação dos auditores e do presidente, onde foi tomada a decisão de, por maioria, condenar Bruno Henrique no artigo 243-A do CBJD com suspensão de 12 partidas e multa de R$ 60 mil.

Entenda o caso

A denúncia contra Bruno Henrique chegou ao STJD, após investigação da Polícia Federal apontar que ele teria forçado um cartão amarelo contra o Santos, em novembro de 2023, para beneficiar apostadores, entre eles seu irmão e a cunhada. A acusação se baseia em mensagens trocadas entre os dois. Além da punição esportiva, o jogador é réu na Justiça comum, acusado de fraude em esquema de apostas. A Lei Geral do Esporte prevê de dois a seis anos de prisão para o crime.

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