Mercado universitário pouco explorado
Conhecida como "cidade universitária", Juiz de Fora possui, aproximadamente, 20 mil estudantes de cursos de graduação, segundo estimativas do Sebrae Minas. Apesar de serem responsáveis por movimentar diversos setores da economia, ainda são poucas as iniciativas do empresariado local para atrair este público consumidor. "Como eles possuem poder aquisitivo menor e gastos muito direcionados, são poucos os estabelecimentos que realizam estratégias para fidelizá-los", diz o gerente regional do Sebrae Minas, João Roberto Lobo. Para ele, este é um grande erro. " Ao promover ações para universitários, o ganho é em escala. Além de representar uma parcela interessante do mercado, vale lembrar que estamos falando de um público formador de opinião, responsável por influenciar o consumo de outras pessoas."
De acordo com os universitários ouvidos pela Tribuna, as despesas com moradia (para aqueles que vêm de outras cidades) e alimentação constituem os principais gastos da renda mensal, que, em média, gira em torno de R$ 1 mil. Em seguida estão os custos com transporte, lazer e material escolar. Eles relatam, por exemplo, a dificuldade para conseguirem imóvel para alugar e a falta de convênios com supermercados, bares e restaurantes, que são comuns em outras cidades universitárias.
Caloura do curso de Medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Noemi da Silva, 18 anos, veio de Aparecida de Goiânia (GO) para morar sozinha em um apartamento de um quarto no Bairro São Pedro. Ela conta que 50% da renda serão destinados ao aluguel do imóvel e que o processo de locação foi difícil. "Para conseguir me mudar a tempo, busquei informações com conhecidos que já estudavam na cidade. Assim, foi mais fácil conseguir apartamento."
Para o também estudante da UFJF, graduando em administração, Ícaro Bolotari, 19 anos, o público universitário sente falta de iniciativas do setor gastronômico. Ele conta que, normalmente, faz suas refeições no Restaurante Universitário (RU) e desconhece estabelecimentos que realizam promoções. " A alimentação é um serviço que pesa no nosso bolso, seria interessante termos mais possibilidades. Agora que estamos em período de greve, almoço em restaurantes do São Pedro que não oferecem nenhum tipo de desconto."
Para o diretor executivo da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) Regional da Zona da Mata, Marcos Henrique Miranda, os empresários do setor gastronômico estão, aos poucos, voltando os olhos para esta fatia de consumidores. "Desde o ano passado, os estudantes foram incluídos no planejamento estratégico da entidade por conta do forte potencial de consumo."
Empresário que investe está satisfeito
Alguns empreendedores na cidade já perceberam no segmento boas oportunidades de negócio. Para João Roberto Lobo, gerente regional do Sebrae Minas, o mercado de eventos e entretenimento foi o pioneiro. "As empresas deste setor abriram caminho e têm estimulado outros empresários a investirem nesse público." Este é o caso da Phormar, que conta com 16 convênios com parceiros que oferecem descontos aos estudantes que participam dos fundos de formatura promovidos pela empresa. "Temos percebido que os empresários estão reconhecendo este nicho. Antes, nós procurávamos os parceiros, hoje somos procurados", informou a assessoria de comunicação da empresa.
Desde 2008, o advogado Rafael Maia decidiu transformar o prédio que a família possui, no Bairro São Pedro, em uma república de estudantes. Para isso, ele conta que foi preciso investir. "Transformamos o prédio em uma espécie de casa que comporta 58 pessoas. Temos salas de TV, jogos e estudo, cozinha, lavanderia e academia que são áreas comuns para todos os moradores." Ele conta que o retorno chegou. "É mais lucrativo do que se alugássemos os apartamentos como eram antes."
O negócio também é bom para os universitários. Morador da república, o aluno do curso de Ciências Biológicas da UFJF, Thiago Santos Lucindo, 22 anos, se mudou de Cataguases para Juiz de Fora há quatro anos. "No primeiro momento, tive dificuldades para encontrar apartamento, depois consegui vaga para morar aqui. Acho o custo-benefício muito bom, pois, com uma mensalidade fixa, pago aluguel e uso todos os serviços disponíveis."
No restaurante Estação Gerais, o preço de R$ 31,99 o quilo não seria atrativo para os universitários. Mas o atendimento diferenciado faz com que 25% dos clientes do estabelecimento sejam de estudantes. "Oferecemos 10% de desconto, o que não é muito, mas acaba fidelizando os consumidores", conta o proprietário Luiz Cézar Menezes.