Os caminhos para a recolocação
Como o mercado não consegue oferecer vagas a todos os desempregados da cidade, a saga de quem busca recolocação passar por outros caminhos que não a carteira assinada. Essas pessoas, ao se depararem com a indisponibilidade de postos, em um momento de fragilidade tanto psicológica quanto financeira, podem concentrar energia na busca de outra solução. A diretora-executiva da Associação Brasileira de Recursos Humanos de Minas Gerais (ABRH/ MG), Maria Cristina Iglésias Silva e Borges, identifica duas tendências. A primeira, é a busca pelo próprio negócio, e, a segunda, por uma qualificação técnica. “As pessoas têm um conhecimento que muitas vezes não usam nas empresas onde trabalham. Quando saem, elas buscam consolidar formação nessa outra habilidade e criam seus próprios negócios. No geral, são iniciativas de pequeno porte, até mesmo por questão de sobrevivência, porque os grandes negócios estão cada vez mais competitivos.”.
Este foi caso de Willian Braga Leite. Depois de nove anos e seis meses trabalhando na oficina de uma concessionária, ele decidiu sair. Para não ficar desempregado, pavimentou a estrada em direção ao empreendedorismo. Montou um galpão e vendeu um carro para comprar as ferramentas das quais precisaria para iniciar seu projeto. “Comecei a ver coisas novas, desafios. Nessa área, precisamos ir além de saber consertar defeitos. Como empreendedor, tem muitas outras coisas que preciso saber. Não adianta saber arrumar o carro e não tomar conta do resto. É uma experiência ótima, todo dia uma coisa diferente para aprender”, agora um microempreendedor individual (MEI), Braga se especializou em reparos para carros de apenas uma marca.
O empreendedorismo é uma saída cada vez mais buscada como solução para o desemprego, de acordo com a diretora da ABRH/MG. Dados do Sebrae apontam 22.725 MEIs em Juiz de Fora. “A pessoa deixa a situação de desemprego e passa a ser empregadora. O empreendedorismo é uma ótima oportunidade para gerar renda, se desenvolver e se tornar gerador de empregos”, garante o analista do Sebrae Paulo Veríssimo. Ele afirma que qualquer um pode se tornar um microempreendedor.
Para isso, a orientação é avaliar as condições do mercado, se planejar e verificar a viabilidade do negócio. “Ver o que acontece na cidade e também no mundo. É preciso pensar nas coisas que se gosta de fazer. É necessário identificar a que tem maior potencial de lucro. Obviamente, é preciso ver se tem capital para investir e, se não, quais são as formas de captá-lo”, orienta Veríssimo. O Sebrae presta consultoria e oferece treinamento para MEIs. Willian Braga diz continuar em contato com o Sebrae, mantendo processo constante de aperfeiçoamento. O empreendedor aconselha planejamento e coragem. “Se souber fazer algo com qualidade e for honesto, deve encarar o desafio. Mercado tem para todo mundo. Falta gente competente e honesta também. Empreender é uma luta, passamos por muita adversidade, mas é muito compensador.”
Qualificação não é diferencial, é necessidade
Após o desligamento, muitas pessoas não sabem onde procurar ajuda. “É uma fase muito difícil da vida. Tem a perda do emprego, seguida de confusão, muitas vezes até acompanhada de um pouco de raiva. Isso impede, em um primeiro momento, que elas aproveitem oportunidades de qualificação. Muitas estão no ambiente on-line e podem ser acessadas facilmente”, indica Maria Cristina Iglésias Silva e Borges. Entidades ligadas à indústria, por exemplo, costumam oferecer capacitação. De acordo com o presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Francisco Campolina, há diferentes formas de se recolocar no mercado, mas elas dependem diretamente da disponibilidade do trabalhador. “Diariamente temos vagas, é preciso que as pessoas nos procurem. Muitas pessoas não sabem que disponibilizamos tantas oportunidades, principalmente quem não está dentro da indústria. Isso faz com que tenhamos alguns cursos com muita procura, e outros com vagas ociosas.”
Atualmente, há 1.600 jovens matriculados nos diversos cursos oferecidos pela Fiemg, seja pelas escolas do Senai (Escola Luiz Avelar Scheuer, dentro da planta da Mercedes-Benz e na escola José Fagundes Neto, na Avenida Rio Branco) ou pelo Instituto Euvaldo Lodi. A maioria desses cursos é paga pela indústria.”É importante frisar que se o interessado não se adéqua, não busca atualização ou treinamento, a recolocação fica muito difícil”, reforça Campolina. Para quem não se encaixa nas exigências para se inscrever nesses cursos, há outras iniciativas possíveis, como o “Café com negócios”, que traz convidados para palestrar sobre diversos assuntos, como comércio internacional, direito tributário e trabalhista.
Outro programa de destaque dentro do Senai é a escola móvel, que passa pelas cidades do estado e oferece formações como corte e costura, mecânica de autos, ajudantes para a construção civil, entre outros. “Não perguntamos a essas pessoas se elas sabem ler e escrever, nem qual é a idade delas. Damos a elas uma profissão. Os conhecimentos são aplicados durante o curso. Quem faz corte e costura sai vestindo a roupa que produziu, o eletricista faz o circuito de uma casa. Mesmo que eles não trabalhem em uma empresa, com a habilidade adquirida, podem abrir seus próprios empreendimentos. Três, quatro colegas se juntam e abrem um ateliê de costura, uma oficina mecânica”, diz Campolina. De 2011 até agora, mais de 50 mil pessoas foram formadas por essa iniciativa.
Nova escola
Há também a expectativa da criação de novas vagas, já que está em processo de construção uma nova escola do Senai em Juiz de Fora, em um terreno localizado ao lado das futuras instalações do Hospital Regional, na avenida Coronel Vidal, no bairro São Dimas, Zona Norte. A unidade deve ser especializada no setor de alimentação. Com capacidade para atender até 1.200 alunos, o centro de formação deve capacitar profissionais para atuar não só nas fabricas já existentes na cidade e na região, mas também para integrar o quadro da empresa M. Dias Branco. “Não dá para dizer que em Juiz de Fora não tem formação”, exclama Campolina.
Há cursos para todos os níveis de escolaridade
O Senac oferece capacitação voltada para comércio e serviços. De acordo com o diretor Luiz Paulo Smargiassi, os cursos atraem interessados em diversas vertentes. “Atendemos a diferentes perfis, que vão da formação profissional inicial até a pós-graduação (MBA). Desde a pessoa que vem buscar a primeira formação, por meio da aprendizagem comercial, com foco em adolescentes de 14 a 18 anos, passando pelos cursos técnicos, para quem já busca por uma carreira, e no final, chegando às pessoas mais velhas, que querem a recolocação ou buscam mudar de profissão.” O diretor estima que, até o final do ano, entre duas mil e 2.500 pessoas devem passar pelos cursos do Senac. Atualmente, o serviço capacita 840 aprendizes gratuitamente.
Após adquirir o conhecimento, os alunos costumam seguir, conforme Luiz Paulo, em duas direções: ou incrementam o currículo para apresentar um diferencial ao entrar no mercado de trabalho ou se tornam microempreendedores. Ele salienta que há oportunidades gratuitas, para pessoas que possuem renda per capita inferior a dois salários mínimos, e há também cursos com mensalidades e investimentos simbólicos, com possibilidade de parcelamento, para que sejam ainda mais acessíveis. “Em um momento de crise, temos muita mão de obra disponível e a demanda de empregos é menor que a oferta de trabalhadores. Então, é muito importante ter um conhecimento certificado por uma instituição com tradição de ensino consolidada.
Uma das alternativas que tem sido apontadas é uma capacitação mais rápida. Os cursos técnicos, por exemplo, duram entre um ano e um ano e meio e costumam ter entrada imediata no mercado de trabalho. O Brasil tem muitos bacharéis e poucos técnicos. Os profissionais qualificados saem na frente.” Reforçando a dificuldade de fazer com que as pessoas tenham acesso às informações sobre os cursos, da mesma forma que a Fiemg, o desafio do Senac, identificado por ele, é quebrar a ideia de que só oferece cursos na área da beleza. “Temos cursos na área de gestão, de saúde, de tecnologia de informação, além dos profissionalizantes. Temos que derrubar esse paradigma de achar que ficamos restritos a apenas a um tipo de serviço”, reforça Smargiassi.
Nem todos conseguem acesso à capacitação
Para alguns trabalhadores, a chegada à capacitação ainda é complicada. Há um mês, o motorista Leandro Valeriano, de 37 anos, foi demitido. Ele já começou a receber o seguro-desemprego, mas faz planos de retornar ao mercado antes de ter acesso à última parcela do benefício. Leandro poderia usar o recurso para se qualificar, mas no caso dele, assim como no de muitos outros, prover o sustento da família é mais urgente. “Continuo aguardando alguma vaga que se encaixe no meu perfil, por enquanto não tenho nenhuma entrevista agendada. Tenho um casal de filhos de 5 e 10 anos, e eles dependem de mim, e o dinheiro do seguro vai me ajudar a mantê-los.”
Valeriano relata ter a intenção de fazer cursos de aperfeiçoamento, no entanto, em função dos gastos, não conseguiu. “Os cursos gratuitos geralmente tem um número de vagas muito reduzido e poucas pessoas conseguem. Os que são pagos, não são acessíveis, porque são caros. As empresas estão cada vez mais exigentes e se torna um desafio muito grande se profissionalizar, porque não sobra dinheiro para isso.”
A diretora-executiva da Associação Brasileira de Recursos Humanos de Minas Gerais (ABRH/MG), Maria Cristina Iglésias Silva e Borges, diz que é preciso se concentrar, independente da escolha feita. “A primeira coisa é ver o que mais gosta e sabe fazer, para, a partir disso, procurar a qualificação. O que não pode é ficar de braços cruzados. Se a capacitação não resolver, acione a sua rede de relacionamentos. Peça ajuda. No mais, não desista! Batalhe, olhe para frente”, aconselha. Se for possível, ela ainda recomenda aos trabalhadores buscar orientação profissional ou um coach que possam fazer uma avaliação e ajudar a definir o melhor caminho a seguir.