UFJF: Bodas de diamante com a cultura
No aniversário de 60 anos da Universidade Federal de Juiz de Fora, uma retrospectiva dos bens culturais compartilhados com a cidade
23 de dezembro de 1960: o então presidente Juscelino Kubitschek assina a Lei de nº 3.858. Nasce então a Universidade de Juiz de Fora, a partir da federalização das faculdades de Farmácia, Ciências Econômicas, Medicina, Odontologia, Direito e a Escola de Engenharia de Juiz de Fora. Em 1965, o Federal é acrescido ao nome.
A parceria de 60 anos de Juiz de Fora com a instituição trouxe os mais variados e benéficos frutos para a sociedade local, contribuindo decisivamente para a cultura local, não só através de bens arquitetônicos e imóveis históricos, como também acervos culturais e artísticos. Desde 1960, década quando diversos festivais, concursos, grupos e aparatos culturais voltados para a cidade surgiram, a Universidade agrega à produção cultural juizforana.
Festivais
São diversos os festivais que desaguaram em Juiz de Fora um mar de arte e cultura ao longo desses 60 anos. Inúmeros foram os eventos promovidos pela Universidade, desde as “calouradas” que, na década de 70, ganharam destaque, até o Som Aberto, criado na mesma época nos anfiteatros dos institutos, festivais que trouxeram importantes nomes da música brasileira. Valéria Faria, atual pró-reitora de Cultura da UFJF, ressalta a importância do Som Aberto, que se consagrou como um ícone cultural ao dar voz, através da música, da poesia e da dança, aos anseios de liberdade individual e política. Uma das recentes edições chegou a atrair 20 mil visitantes em uma única apresentação.
José Luiz Ribeiro, professor aposentado da UFJF e grande nome da cultura juiz-forana também ressalta a importância desses festivais, principalmente nos chamados “anos de chumbo”, período de maior repressão da ditadura militar. “A partir dos anos de chumbo a universidade passou a dar resposta com seus festivais de arte, um pensamento muito rico para a cultura, momento no qual a Universidade representava aquilo que era o símbolo da sua revista, chamada ‘Lumino Spargi’, ou seja, ‘espargindo a luz’.”
Espaços culturais
A cidade de Juiz de Fora foi aparelhada pela Universidade com os mais diversos e plurais espaços culturais. Desde a criação do Forum da Cultura em 1972, lar de grupos como o Coral Universitário e o Grupo Divulgação; o Cine-Theatro Central, que passou a ser administrado pela UFJF em 1994 e tombado no mesmo ano; o Museu de Arte Murilo Mendes, a Casa de Cultura, o Centro Cultural Pró-Música, o Jardim Botânico que, além do parque, conta com duas galerias de arte; até o mais recente espaço da Pró-Reitoria de Cultura (Procult), o Museu da Moda Social.
“Em um cenário baseado na tríade ensino, pesquisa e extensão, a cultura foi demarcando seu papel, agregando valores e trazendo novas conquistas, muitas delas representadas pelos espaços que foram sendo associados. Foram sendo adicionados, através dos anos, equipamentos culturais que fomentam a produção artística e cultural em Juiz de Fora e região, de forma gratuita, democrática e transparente, buscando trazer a Universidade para mais perto da população,” destaca Valéria Faria.
Grupos
Em meio aos sítios e acervos culturais, a Universidade Federal de Juiz De Fora também possibilitou o encontro e o surgimento de grupos culturais, podendo ser destacados o Coral Universitário e o Grupo Divulgação, ambos ativos até os dias de hoje, tendo como casa o Forum da Cultura. O Coral teve início em 1966, quando um grupo de cantores integrou-se extraoficialmente na instituição, onde passaram a ser reconhecidos como Coral Universitário – ou Coruni -, que, em 1972, passou a ocupar juntamente com outros grupos o Forum da Cultura.
O ano de 1966 foi efervescente. Em meio a festivais de arte e desfile de jogos universitários, a Faculdade de Filosofia e Letras (Fafile) passou a ter mais contato com a Universidade e, mais tarde, no mesmo ano, foi federalizada. Nesse momento, no Diretório Acadêmico Tristão de Ataíde (Data), jovens começaram a se reunir para fazer leituras e estudos de teatro. “Nosso principal objetivo era possibilitar às pessoas um conhecimento das obras do teatro, por isso o nome Divulgação. Queríamos, principalmente, que os estudantes pudessem ter acesso a esse trabalho, e aí a gente acabou fazendo apresentações periféricas, e, depois, começamos a levar as pessoas para assistir aos espetáculos que fazíamos. Assim começa um trabalho de extensão no tempo em que a Universidade ainda não tinha uma pró-reitoria de extensão, mas apenas de ensino e pesquisa. Foi daí que nasceu esse trabalho que dura, e que, hoje, é considerado patrimônio imaterial de Juiz de Fora”, contou José Luiz Ribeiro, fundador e diretor do Centro de Estudos Teatrais Grupo Divulgação.
Bens culturais
Entre os grandes frutos presenteados à comunidade juiz-forana pela UFJF está a biblioteca do escritor juiz-forano Murilo Mendes. Doada por sua viúva, Maria da Saudade, em 1978, a coleção conta com 2.886 títulos e 3.008 exemplares que estão abrigados no Museu de Arte Murilo Mendes, que reúne ainda os acervos documental e de artes plásticas do poeta. Ao lado, encontra-se o Memorial da República, local em que o acervo do ex-presidente Itamar Franco, doado à Universidade em 2014, é conservado e exposto. Também no ano de 2014 foi criado o Centro de Conservação da Memória, que abriga os acervos de Dormevilly Nóbrega e do Diretório Central dos Estudantes, dando origem ao Centro de Estudos e Memória do Movimento Estudantil.