Documentário sobre empoderamento negro por meio das tranças é lançado em Juiz de Fora

A obra audiovisual ‘InterPretar-me’ chega oficialmente às plataformas digitais nesta quarta-feira


Por Mafê Braga*

30/07/2025 às 15h04

WhatsApp Image 2025 07 29 at 18.06.11
Documentário produzido por juiz-foranos aborda o poder das tranças na cultura negra (Foto: Grupo Ancestralidade / Divulgação)

“Uma obra audiovisual emocionante, que mergulha nas histórias de redescoberta e empoderamento de mulheres negras da Zona Leste de Juiz de Fora” é o enredo do documentário InterPretar-me, material cinematográfico do grupo Ancestralidade JF em parceria com o projeto “Trançando saberes, resgatando memórias”. Lançado em novembro de 2024, o filme estará disponível no YouTube a partir desta quinta-feira (30), quando também acontece uma roda de conversa aberta ao público, às 18h, no Instituto Casa Cirene Candanda.

“Por meio de relatos sinceros, o documentário acompanha essas mulheres em suas jornadas de aprendizado nas oficinas de tranças, um processo que as conecta com sua identidade ancestral e as fortalece como fazedoras de cultura e arte. A proposta é celebrar a força das comunidades e o poder da memória e do compartilhamento de suas histórias”, relata a organização do filme.

Idealizado pelos integrantes do grupo Ancestralidade, Jossiane Cerqueira, Pablo Henrique, Tamiris Arthur, Diego Alves e Sandra Jesus, a obra também foi exibida no Centro Cultural Bernardo Mascarenhas (CCBM) neste mês.

A valorização por meio da memória

De acordo com os membros do Ancestralidade JF, o título do documentário foi inspirado no livro “As vicissitudes da identidade do negro brasileiro”, da escritora Neusa Santos Souza. Dessa maneira, a mensagem central da obra é a importância da autoidentificação e aceitação, pois consideram que durante muito tempo foi negado uma identidade ao povo negro. Assim, destacam a importância das tranças enquanto forma de cultura e pertencimento. 

WhatsApp Image 2025 07 29 at 18.06.11 3
‘InterPretar-me’ retrata a trajetória de mulheres diversas (Foto: Grupo Ancestralidade / Divulgação)

O documentário retrata mulheres das periferias, principalmente as da Zona Leste de Juiz de fora. O filme aborda mulheres que decidiram mudar rotas e encontrar outras possibilidades de trabalho. As protagonistas são Leila, Jussara Alves, Jussara Gabriela, Maria das Dores, Laísa e Laís. A organização do documentário acredita que através de seus depoimentos e histórias de vida, essas mulheres inspiram e fortalecem cada vez mais a cultura e o reencontro da comunidade com a ancestralidade.

Roda de conversa

O Instituto Casa Cirene Candanda, reconhecido por sua luta contra a discriminação, foi o local escolhido para a roda de conversas do grupo Ancestralidade JF. O local está vinculado aos movimentos populares sociais, o que entra em sintonia com o trabalho do grupo, que é voltado ao combate ao racismo e à promoção da cultura que as tranças trazem em sua origem.

“Temos um sentimento de orgulho e mistura de emoções, pois é o resultado de todo o trabalho de nossa equipe comprometida sendo entregue para as pessoas. Através da divulgação do documentário, teremos um engajamento maior, e quem esteve presente em nossos encontros teve o privilégio de assistir uma prévia do nosso trabalho. Agora todos vão poder conhecê-lo”, relata Sandra Jesus. Ela afirma, em nome do grupo, que a expectativa é que as pessoas de comunidade e os interessados no tema saibam a importância das tranças, o seu valor histórico e cultural. A expectativa é que todos que se conectam com a ancestralidade possam se sentir representados pela equipe, que  busca transmitir e aprender com a cultura e tradição.

O início de um projeto social

Em abril de 2023, o grupo Ancestralidade iniciou a primeira turma de oficinas de tranças do projeto “Trançando saberes, resgatando memórias”. A partir disso, proporcionou por meio da arte, o trançar e a reconexão com a identidade histórica, conforme a organização do grupo.

Os membros relatam que as oficinas de tranças surgiram através da ideia e do sonho da trancista Tamiris Arthur, que sempre ajudou sua mãe em casa, cuidando dos cabelos de suas irmã e familiares e, consecutivamente, trazendo renda. Com isso, veio à ideia de levar para a comunidade esse meio de trabalho, que é também um reencontro com a história e os ancestrais.

WhatsApp Image 2025 07 29 at 18.06.11 2
Oficina de tranças teve seus primeiros encontros em 2023 (Foto: Grupo Ancestralidade / Divulgação)

“As mulheres que participaram das oficinas puderam conhecer sobre a origem das tranças, sua importância para sobrevivência e resistência da cultura Africana, além de aprender uma nova e possível forma de empreender dentro do próprio território. Também tiveram momentos de socialização e acolhimento em todos os encontros, muitas dessas mulheres tinham filhos que foram acolhidos também, acredito que para elas foi algo que será sempre lembrado”, afirma Tamiris.

Ela defende que através das tranças é possível se conectar com os antepassados e que trançar vai além de um penteado, é luta, garra e cultura. Assim, define que “é bem mais que um simples cabelo”, pois as tranças carregaram sementes e alimentos para que seu povo sobrevivesse à escravidão e se tornaram um caminho para a a liberdade. 

Além da publicação no YouTube, o documentário também estará disponível no novo site do Ancestralidade JF, que terá o link divulgado pelo Instagram do projeto.

*Estagiária sob supervisão da editora Gracielle Nocelli

Serviço

Roda de conversa e lançamento no YouTube – Documentário “InterPretar-me”

Data: 30/07 (quarta-feira)

Horário: 18h

Local: Instituto Casa Cirene Candanda (Avenida Barão do Rio Branco, 2288, sala 1606, Ed. Cond. Solar do Progresso)

Canal do lançamento: “InterPretar-me

Os comentários nas postagens e os conteúdos dos colunistas não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é exclusiva dos autores das mensagens. A Tribuna reserva-se o direito de excluir comentários que contenham insultos e ameaças a seus jornalistas, bem como xingamentos, injúrias e agressões a terceiros. Mensagens de conteúdo homofóbico, racista, xenofóbico e que propaguem discursos de ódio e/ou informações falsas também não serão toleradas. A infração reiterada da política de comunicação da Tribuna levará à exclusão permanente do responsável pelos comentários.