Últimos dias para ver a mostra ‘100 ao cubo’ na Hiato
Exposição reúne cem artistas para comemorar projeto iniciado há cinco anos reverenciando o cubo
O que cabe num cubo? Na exposição de estreia do coletivo Dez ao Cubo, há cinco anos, seus dez fundadores contemplaram a forma geométrica numa convergência de discursos. Passadas mais de 13 mostras, a última delas em Portugal, o grupo volta a se reunir, comemorando meia década de existência e convidando, cada um, outros nove artistas, num total de cem diferentes nomes. “100 a cubo”, em cartaz até este sábado, faz caber num cubo uma infinidade de expressões, da pintura à escultura, passando por fotografia, gravura, desenho e vídeo. Em pequenos formatos, as obras dialogam com a ideia do cubo, ora distanciando-se da forma física, ora ressignificando-a. Como um inventário da multiplicidade contemporânea, as paredes da Hiato – Ambiente de Arte passeiam pelo abstrato e pelo figurativo dissecando com desenvoltura a produção atual. “Existe uma harmonia entre os trabalhos, e isso é muito interessante”, pontua Petrillo, integrante da coletiva e coordenador da galeria.
Os dez artistas, a maioria deles radicada no Rio de Janeiro, multiplicaram-se naturalmente. Segundo Petrillo, a única limitação dos convites fazia referência ao tamanho das obras. “Houve total liberdade para que todos pudessem convidar as pessoas que quisessem. Muitos, inclusive, já haviam participado de outras mostras do coletivo”, comenta o artista, que nascido em Valença e radicado há mais de duas décadas em Juiz de Fora, convidou outros juiz-foranos: Adriana Lopes, Fabrício Carvalho, Guilherme Melich, Júlia Vitral, Priscilla de Paula, Renato Abud, Ricardo Mendonça e Valéria Faria. Também chamou Luiz Gonzaga, com um simpático desenho de sua série “Ilustra Monstro”, na qual desenvolve divertidas criaturas, e Ricardo Cristofaro, que dentro de uma caixa branca esmiuça, numa folha transparente, um cubo em sua textualidade matemática, apontando suas arestas, faces e vértices, materializando o objeto através de sua descrição.
Grandes pinturas
Frutos de influências tão distintas quanto as correntes com as quais dialogam, os trabalhos contam não apenas do presente, como também do passado. A caixa acrílica com linhas douradas tensionadas horizontal e verticalmente, intitulada “Corpo de Platão” e assinada por Sandra Passos, de acordo com Petrillo, é um dos destaques da mostra justamente pela conversa que estabelece com a obra de Lygia Pape, uma das principais artistas do neoconcretismo brasileiro. “É de uma delicadeza muito grande”, comenta Petrillo, observando o projeto que tanto no campo estético quanto filosófico acionado pelo título descrevem um racionalismo tomado por poesia.
Enquanto o subjetivo define a fluidez da acrílica e nanquim sobre papel de Marcio Goldzweig, a profusão de janelas e varandas de prédios vistos do térreo, no trabalho do fotógrafo Luiz Bhering exaltam a objetividade em sua plenitude. Anita Fiszon, por sua vez, trafega entre a abstração e a concretude ao criar uma caixa feita com vergalhões e preenchida com elementos semelhantes, dispostos em diagonal, conferindo movimento e leveza à matéria, sobretudo, bruta. “Agrupamos todas as obras para dar uma ideia de que todas são uma só. Os trabalhos não têm etiqueta nem número de identificação para não interferir nesse todo”, defende Petrillo, certo de que o conjunto, exposto de maneira alinhada, convida a um olhar geral.
Contudo, ainda que exista uma profusão de linguagens, é na pintura que a coletiva encontra seu ponto alto. Seja pelo trabalho de Hugo Barnabé, no qual uma figura masculina de torço nu se encontra sobreposta a camada de grafismos e números, seja pela leveza da cena assinada por Regina Hornung, na qual uma pena é vista transitando por entre nuvens. Ou, ainda, pelo quadro de Vera Bueno, com sua pintura cuja geometria remete a um canudo, ou apenas a uma faixa branca ladeada por áreas verdes, tudo entrecortado por faixas vermelhas. Um dos mais tocantes trabalhos é carregado de placidez . Em preto e branco, Eduardo Ventura descreve uma cena em que duas pessoas caminham numa direção distinta da de um homem com uma mochila, como a lembrar da trivialidade da vida e da beleza contida no ordinário.
Pequenos colecionadores
Além de possibilitar a reunião de um maior número de artistas num mesmo espaço, a opção pelos pequenos formatos, segundo Petrillo, também proporciona à exposição a oportunidade de excursionar por diferentes cubos brancos, como será feito com “100 ao cubo”, que desembarca no Rio de Janeiro já na próxima semana, em montagem na Galeria Espaço do Artista, no centro da capital fluminense, próximo ao Centro Cultural Banco do Brasil. “Essa é uma forma de dar oportunidade para outros artistas e para outros públicos”, avalia Petrillo, dizendo seguir uma tendência de outros espaços do país, que têm optado por profusas e amplas mostras coletivas. “Algumas galerias têm feito isso, como a Carpintaria (galeria de arte contemporânea no Jardim Botânico) que simplesmente convidou as pessoas para que expusessem os trabalhos que desejassem”, conta. Outra porta de entrada que as dimensões diminutas permitem é para a construção de novos colecionadores. “Existe um fetichismo envolvendo obras em pequenos formatos. E muitas coleções nascem dessa forma, sem pretensões”, pontua o artista, confirmando que, num cubo cabe um mundo.
100 AO CUBO
Visitação nesta sexta (31), das 9h às 12h e das 14h às 18h, e sábado (1/06), das 9h às 13h, na Hiato (Rua Coronel Barros 38 – São Mateus)