Espetáculo ‘Dança da vida’ estreia em Juiz de Fora no Dia Internacional das Pessoas Idosas

Parceria da UFJF com o Procon destaca a relevância de ações culturais e educativas para valorizar a população idosa e incentivar um novo olhar sobre o envelhecimento


Por Maria Luiza Guimarães*

28/09/2025 às 07h00

Espetáculo “Dança da Vida” estreia em Juiz de Fora no Dia Internacional das Pessoas IdosasEspetáculo “Dança da Vida” estreia em Juiz de Fora no Dia Internacional das Pessoas Idosas
<
>
Foto: Divulgação / Magenta Studio

No dia 1º de outubro, data em que se celebra o Dia Internacional das Pessoas Idosas, o projeto de extensão Pessoa Idosa na Dança da Vida”, da Faculdade de Letras da UFJF, estreia o espetáculo de mesmo nome no Teatro Paschoal Carlos Magno, no Centro de Juiz de Fora. A iniciativa, coordenada pelo professor Julio Cesar Souza de Oliveira em parceria com o Procon municipal, apresenta a história de Lídia e Antthonny, dois personagens que se encontram em um baile na tentativa de escapar da solidão.

No enredo, Lídia, uma viúva burguesa e solitária, no dia do seu aniversário, conhece Antthonny, um homem simples e também solitário, e juntos decidem iniciar um relacionamento sem questionar o passado um do outro. No entanto, com o tempo, diferenças profundas e revelações vêm à tona, colocando em xeque a decisão de permanecerem juntos ou retornarem às suas vidas. A apresentação será às 19h30, com entrada gratuita e classificação indicativa para maiores de 12 anos.

O sonho de viver a arte

Glàddys Hỳpolito, carioca da gema e hoje moradora de Juiz de Fora, interpreta a personagem Lídia no espetáculo. Aos 63 anos, é aposentada da odontologia, área na qual construiu uma carreira sólida, com graduação, mestrado, especializações e cursos. Apesar da vida acadêmica e profissional intensa, nunca deixou de lado seu antigo sonho: as artes cênicas.

Determinada a realizar essa vontade, conquistou o DRT (registro profissional de atriz), fez curso de dublagem e estudou na famosa Casa das Artes de Laranjeiras (CAL), no Rio de Janeiro, sua cidade natal. Durante essa trajetória, chegou a dublar a mãe da personagem Tara Thornton na sétima temporada da série “True blood”, conciliando a experiência com sua rotina de dentista. Hoje, após a aposentadoria, Glàddys se dedica exclusivamente ao teatro, retomando com paixão o sonho que sempre a acompanhou.

Dança da Vida
Glàddys Hỳpolito e Mário Galvanni durante os ensaios (Foto: Reprodução / Instagram)

Mário Galvanni, 71 anos, protagoniza o espetáculo ao lado de Glàddys. Diferente da colega de cena,  iniciou sua trajetória no teatro na adolescência, aos 19 anos, enquanto estudava no Colégio Machado Sobrinho. Ele conta que se apaixonou pela atuação logo no primeiro contato com o palco e, ao longo de mais de 50 anos, mesmo com pausas ocasionais por conta do trabalho, nunca se afastou completamente do teatro.

A dupla já havia dividido o palco em 2018, na peça “Sala de visitas”, dirigida por Tiê Fontoura, o mesmo diretor responsável por “Dança da vida”. Em entrevista, o ator destaca que o processo tem sido gratificante, tanto pelo reencontro com sua parceira de cena, quanto pela colaboração com a equipe multidisciplinar do espetáculo, formada por membros da UFJF, incluindo profissionais da Educação Física, que contribuíram com os treinos de dança; da Arquitetura, responsáveis pela criação dos cenários; e do Instituto de Artes e Design (IAD), que atuaram na composição visual da montagem.

Glàddys reforça a importância da peça, dos protagonistas, das histórias de vida de cada um e da data em que será apresentada, ressaltando que a pessoa idosa não está em pausa, mas sim iniciando uma nova fase. “Nunca é tarde para nada. A expectativa de vida vem crescendo cada vez mais, e precisamos viver fazendo o que gostamos. Temos sonhos, desejos, e essas vontades não podem ser guardadas na gaveta. Sempre é momento de fazer algo novo”, afirma a atriz.

Cerca de 60% do público atendido pelo Procon é idoso

A parceria com o Procon de Juiz de Fora surgiu a partir do interesse do órgão em desenvolver ações culturais e educativas voltadas ao público idoso, que representa 60% dos atendimentos realizados, demanda que pode ser explicada pelo aumento de golpes virtuais que afetam o público dessa faixa etária.

De acordo com o Censo de 2022, Juiz de Fora figura entre as cidades brasileiras com maior índice de envelhecimento da população. Dos 540.756 habitantes do município, 109.336 têm mais de 60 anos, o que corresponde a 20% da população local. O crescimento é expressivo em comparação aos dados de 2010, quando esse grupo somava 70.665 pessoas, ou 13% dos 516.247 moradores da época.

Nesse sentido, a iniciativa nasceu de uma ação conjunta entre o Procon e a Faculdade de Letras da UFJF, que desenvolvia uma proposta de intervenção artística alinhada aos objetivos do órgão. O projeto, coordenado pelo professor Júlio, uniu arte, educação e cidadania com foco na valorização e na proteção do consumidor idoso.

A equipe do Procon ainda destaca que o espetáculo desempenha um papel fundamental na promoção de um novo olhar. Diferente de narrativas que se concentram nas limitações e dificuldades típicas dessa faixa etária, a peça apresenta uma história ágil e envolvente, protagonizada por um casal de pessoas idosas que, desafiando estereótipos sociais, lutam para transformar sonhos em realidade. A obra questiona o preconceito que insiste em negar a esses cidadãos sua capacidade de desejar, realizar e viver plenamente.

O professor responsável pelo projeto reforça que a proposta vai além da expressão artística, trata de uma ação educativa voltada para o fortalecimento da autoestima e da autonomia da população idosa. “Pensar a terceira idade como uma fase cheia de possibilidades é também uma estratégia de empoderamento. É uma forma de mostrar que essa etapa da vida pode ser organizada com dignidade, planejamento e protagonismo”, finaliza.

Apresentações

Além da estreia na próxima quarta-feira (1º), no Teatro Paschoal Carlos Magno, o espetáculo terá mais duas apresentações extras, uma na sexta-feira (3) e outra no sábado (4). Ambas as sessões serão realizadas no Centro Cultural Bernardo Mascarenhas, localizado na Avenida Getúlio Vargas, 200, sempre às 19h30. A entrada é gratuita.

*Estagiária sob supervisão da editora Gracielle Nocelli

Os comentários nas postagens e os conteúdos dos colunistas não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é exclusiva dos autores das mensagens. A Tribuna reserva-se o direito de excluir comentários que contenham insultos e ameaças a seus jornalistas, bem como xingamentos, injúrias e agressões a terceiros. Mensagens de conteúdo homofóbico, racista, xenofóbico e que propaguem discursos de ódio e/ou informações falsas também não serão toleradas. A infração reiterada da política de comunicação da Tribuna levará à exclusão permanente do responsável pelos comentários.