Finalista do Prêmio Jabuti, Daniela Arbex fala sobre trajetória em entrevista exclusiva
Juiz-forana com orgulho, Daniela venceu a premiação em 2016 e foi vice-campeã em 2014; Autora revela desafios em livro sobre tragédia envolvendo Flamengo

“O Jabuti, em especial, é o prêmio literário mais importante do Brasil, e essa indicação consolida a minha carreira”, analisa a escritora, jornalista e documentarista juiz-forana Daniela Arbex. Em 2025, a autora conquistou mais uma indicação como finalista da tradicional premiação, que coroa, ano após ano, profissionais de destaque na área da produção de livros no Brasil. Organizada pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), a 67ª edição do Prêmio Jabuti será realizada nesta segunda-feira (27), às 19h, e conta com transmissão ao vivo pelo canal da instituição no Youtube.
Desde 2018 – ano em que o evento foi reformulado -, 20 categorias são avaliadas e sub-divididas em quatro eixos temáticos: “Literatura”, “Produção Editorial”, “Inovação” e “Não-ficção” – neste último, Daniela concorre na categoria Biografia e Reportagem, com o livro “Longe do ninho”, obra que conta os bastidores do incêndio que vitimou dez atletas das categorias de base do Flamengo, nas dependências do centro de treinamento do clube, em 2019.
“É um livro muito importante pela qualidade da investigação que nós conseguimos. Durante cinco anos, o Flamengo construiu uma narrativa falsa em relação ao que aconteceu no Ninho do Urubu. Mais do que isso, o livro é uma denúncia potente sobre a incapacidade dos clubes no Brasil – e no mundo – de acolher crianças e adolescentes”, revela a autora.
Longe do Ninho foi lançado em fevereiro do ano passado e, para a produção, Daniela contou com o auxílio de laudos técnicos do incêndio, trocas de mensagens, e-mails, dados inéditos e entrevistas exclusivas com familiares das vítimas. A autora concorre com outros quatro escritores, e conta que chegar até a final do Jabuti é uma forma de recompensa pelo desafio que ela levou para escrever a obra. “Percebi que o Flamengo foi a minha denúncia mais potente e desafiadora, porque foi um trabalho que envolveu algo que ainda não tinha encontrado, que é a ‘paixão’ pelo clube e pelo futebol. Houve muito risco e muitas retaliações. Então, de certa forma, essa indicação me reconforta”, desabafa.
Pouco menos de uma semana antes da cerimônia de premiação do Jabuti, na última terça-feira (21), o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ) absolveu todos os sete réus acusados no caso do incêndio no Ninho do Urubu pelos crimes de “incêndio culposo” e “lesão grave”. Em maio, o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MP-RJ) pediu a condenação de todos os acusados após ouvir mais de 40 testemunhas. Daniela, no mesmo dia da publicação da decisão, saiu em defesa da vítimas.
“A decisão da justiça do Rio de absolver todos os réus do incêndio ocorrido dentro de um contêiner no Ninho do Urubu, quando dez atletas de base morreram, é o retrato do Brasil. De um país que é condescendente com os poderes vigentes, que não possui uma cultura de prevenção e que é negligente quando o assunto é segurança e, principalmente, a responsabilização dos autores das tragédias […]”, escreveu em suas redes sociais.
Jornalismo investigativo: um trabalho de coragem
Formada na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Daniela deu os primeiros passos na carreira como repórter investigativa em 1996, quando começou no jornal Tribuna de Minas. No mês seguinte ao de sua contratação, a autora escreveu a matéria que lhe renderia o prêmio de melhor reportagem publicada naquele ano pelo jornal. Já consagrada, em 2020, Daniela teve seu talento reconhecido pelo Troféu Mulher Imprensa, que elegeu a juiz-forana como a melhor repórter investigativa do país.
Com vários livros publicados, um best-seller, documentários e séries lançadas em parceria com grandes plataformas de streaming, além de um Prêmio Jabuti conquistado em 2016, com o livro “Cova 312”, Daniela, com quase 30 anos de carreira, destaca o sentimento que é inegociável quando é preciso lutar: o de coragem. “É muito importante estar na final. Não só para mim, mas pelo trabalho de coragem que a editora Intrínseca tem feito de publicar meus livros nos últimos anos.”
E para renovar esse sentimento, Daniela se encontra com a cidade onde ela aprendeu a relevância da coragem: “Geralmente, o filho da casa não é valorizado. Sempre alguém que vem de fora tem mais valor, mas isso não me aconteceu. Juiz de Fora me acolheu, então, tenho muita gratidão pelos leitores da cidade, que foram meus primeiros fãs. É bacana perceber que a gente pode ter um trabalho de relevância fora do eixo Rio – São Paulo.”
Futuro de muito trabalho e histórias
Questionada sobre o futuro, Daniela revela, com tom de esperança, a vontade de trabalhar e continuar se reconectando com os sentimentos daquela jovem recém-formada que um dia ingressou na Tribuna, em 1996. “Vou começar a escrever meu novo livro que, se Deus quiser, a gente lança em 2026. No próximo ano, também lanço a série documental do livro ‘Arrastados’, pela Globo Play. Então, a minha ideia para o futuro é continuar trabalhando muito, contando as histórias do Brasil e, de alguma forma, honrando o jornalismo.”
*Estagiário sob supervisão da editora Gracielle Nocelli
Tópicos: daniela arbex / flamengo









