Conheça DJ Ramemes, que já criou faixa de Pabllo e Anitta e toca em Juiz de Fora neste sábado
Músico se apresenta neste sábado no Clube Contra, a partir das 21h
“É uma mistura maluca de funk e música eletrônica que sempre leva para o humor. É uma bagunça. Batidas que ninguém pensa, meio ‘caraca, por que ele está tocando isso?’. É para dançar e rir, por que não?” É assim que Ramon Henrique Fernandes, mais conhecido como DJ Ramemes (O DESTRUIDOR DO FUNK) descreve seu som para quem nunca o ouviu. O artista se apresenta neste sábado (21) em Juiz de Fora, no Clube Contra, às 22h.
De jeito meio tímido, como diz Pabllo Vittar – cantora já produzida por Ramemes -, o DJ até tentou escapar de nossa reportagem. Apesar do resfriado, Ramon conversou com a Tribuna sobre o cenário do funk no Brasil e no mundo; sua parceria com Pabllo Vittar, Anitta e JPEGMAFIA (rapper estadunidense) e as expectativas do show de sábado.
Conhecido mundialmente pelo uso do “beat tamborzin” (tipo de batida de funk), típico de Volta Redonda, cidade natal de Ramon, o DJ explica que seu estilo experimental vem da sua forma de encarar o gênero. “O funk é música eletrônica experimental. Cada pessoa consegue criar o funk da sua maneira, do seu pensamento, que vai ser dançante. A parada mais maluca criada com intuito de ser funk vai fazer o pessoal dançar. Hoje tem várias músicas que em 2015, por exemplo, ninguém esperaria que fossem funk. Qualquer coisa é funk se for feita com esse intuito. É você quem cria. Não tem um ritmo, não tem uma regra. Você não aprende, você cria. Dá para pegar as partes mais básicas e fazer as paradas mais experimentais. Não tem como errar. É estar fazendo algo próprio. Cada um faz o que achar melhor.”
Isso fica muito marcado em um de seus lançamentos do ano passado, o álbum “Sem limites”. Bem recebido por diferentes públicos no âmbito nacional (de otakus aos heterotops, passando pela comunidade LGBTQIA+) e no internacional, DJ Ramemes defende que, ao ouvir o disco “o seu cérebro para de funcionar, porque é muita coisa acontecendo e você se perde. Acho que por isso os gringos foram atrás. Nunca tinham ouvido nada parecido”.
Em certo sentido, o projeto se diferencia do outro álbum lançado por Ramemes em 2023, o “Tamborzin de Volta Redonda”, que conta com a colaboração com diversos DJs de sua cidade natal e é uma celebração da batida predominante de sua área. “Cada região é dividida pela sua preferência. O instrumental do pessoal de Volta Redonda é o tambor. Nisso surgiu o ‘Tamborzin de Volta Redonda’, que é a batida favorita do interior do Rio de Janeiro. (…) O ‘Tamborzin’ é mais do interior, para galera de Volta Redonda, que se você colocar na resenha, todo mundo vai dançar, todo mundo vai entender. O ‘Sem limites’ não, se você colocar (na resenha), várias pessoas vão falar: ‘que doidera, caraca’ e param para prestar atenção”.
Antes de prestarem atenção
Sendo uma criança que “odiava funk” e curtia mais rock, eletrônica e dubstep, o funk entrou em sua vida por meio do humor. Quanto mais explícita, mais engraçada. A partir disso, desenvolveu seu estilo próprio, com músicas mais pesadas e cheias de palavrões. Em 2016, de maneira despretensiosa, Ramon começou a brincar de fazer músicas, muito inspirado por essas diferentes sonoridades que o influenciavam e o divertiam. Um dia, seus amigos pediram para postar o que estava produzindo, pois queriam ouvir quando desejassem. Depois disso: “Começaram a me chamar pra tocar em festa, vi o pessoal dançando essas maluquices minhas e percebi que galera dança qualquer coisa. Aí veio o estilo DJ Ramemes, que hoje é facilmente reconhecível. Nunca achei que passaria disso, de fazer umas ‘musiquinhas bobas’, fazendo um ou outro evento”.
A chave começou a virar em sua carreira quando, em uma festa em São Paulo, chamou atenção dos produtores da cantora Pabllo Vittar, que o convidaram para conhecer o estúdio em que trabalhavam. “‘A gente quer conhecer seus projetos’. Nisso acabei fazendo uma música com a Pabllo e deu nisso tudo hoje em dia”.
A música em questão também conta com a participação da cantora Anitta. Seu nome é: “Calma amiga”. Curiosamente, antes de trabalhar com as duas artistas pop, Ramon já produzia algumas mixes em que mesclava músicas de “divas pop” com o tambor de Volta Redonda. “É engraçado pegar as divas pop e coloca-las em um batidão de funk. Do nada a Lady Gaga está tocando em cima do maior tamborzão. Ninguém espera isso, a galera escuta e começa a dançar. Fazia esses remixes de música internacional muito antes de trabalhar com a Pabllo. Sempre gostei, ouvia para caramba. Depois que trabalhei com ela, tive ainda mais vontade de fazer essas misturas.”
Isso fez com que, entre várias mudanças em sua vida, conseguisse criar sua própria festa, “O baile do Ramemes”, e fosse abraçado pela comunidade LGBTQIA+. “Comecei a ser incentivado, me animei e quis continuar. Até por isso queria que ‘O baile do Ramemes’ abraçasse diferentes públicos, os ‘crias’ e a comunidade LGBTQIA+. Misturou. Agora tem passinho e vogue rolando ao mesmo tempo. É uma farofada pra todo mundo se divertir.”
É mais uma do Ramemes
Pois bem, como cabe ao jornalista prestar atenção com o tempo, mais do que com a experimentação (lê-se, a editora está cobrando a matéria), vamos direto ao ponto.
Alçando novos voos na carreira, o DJ destaca sua entrada no selo QTV (que conta também com a artista Juçara Marçal). “Eu falo que existe o mainstream, o underground e existem eles. É outro mundo. São pessoas realmente apaixonadas por música, sem pensar em outra coisa. Entrei nesse selo justamente por fazer funk doido, que a galera nunca tinha ouvido nada parecido. O intuito é música, independente de qualquer coisa. Consigo misturar meu funk com qualquer coisa que alguém consiga pensar.”
Sobre sua colaboração com o rapper estadunidense JPEGMAFIA, ele fala: “Foi maneiro porque ele veio pedir para usar a música. A gente não vê os gringos pedindo autorização. Ele veio trocar ideia comigo e eu não conhecia ele, mas minha assessora era ‘mó’ fã. Ela guardou segredo de mim, porque sabia que se eu soubesse disse ia ‘explanar’ para todo mundo. E é difícil um gringo acertar no funk, por não conhecer a vivência, o estilo, mas ele conseguiu acertar direitinho. O flow dele no beat de funk ficou perfeito. É difícil ver isso. Ele veio falar comigo que éramos parecidos, que ele também mistura tudo, curtia uma experimentação, faz uma bagunça. Muita gente falou que nunca esperaria essa ‘collab’, mas ela faz muito sentido”.
E acrescenta, falando do estilo em Juiz de Fora: “O funk de Juiz de Fora é diferente de qualquer outro funk. Ele é o beat fino, mas com uma pegada de Belo Horizonte e do Espírito Santo. Acho muito maneira essa diversidade que tem na cidade, até pela proximidade que a cidade tem com outros estados do sudeste e a capital de Minas. Tem os três tipos, mas é autêntico”.
Do show de sábado, ele diz: “É sempre maneiro, me sinto à vontade. Em determinadas festas, sei o que tenho que tocar. Mas nas dos meus amigos, me sinto livre, toco várias coisas sem me preocupar. Na festa dele (DJ Crraudio) só dou de doido e fico feliz de só estar tocando, sem pensar em outra coisa sem ser me divertir. Vai ser maneiro quebrar tudo lá”.
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