Juiz-forana de 17 anos é contratada como bailarina na Ópera de Paris
Luciana Sagioro fala à Tribuna sobre sonho realizado de se tornar bailarina profissional
Luciana Sagioro, uma jovem juiz-forana de 17 anos, foi movida por um sonho que mantém desde bem nova: ser bailarina profissional. Essa vontade fez com que aos 8 anos de idade ela se mudasse para o Rio de Janeiro para estudar balé na Escola de Dança Petite Danse, e continuasse a se profissionalizar nos anos seguintes. Aos 15 anos, ela ficou em terceiro lugar no Prix de Lausanne 2022, e ganhou oito bolsas de estudo em companhias tradicionais da Europa. Foi a primeira brasileira convidada a estudar na escola da Ópera de Paris, e por lá ficou ao longo do último ano. Agora, ela se torna a terceira brasileira a ser contratada como bailarina na Ópera de Paris, sendo a única com a sua idade.
A audição foi feita com mais de 200 bailarinas de todo lugar do mundo, de diferentes idades. “Foram apenas duas pessoas que conseguiram, eu fui a mais nova, e consegui um contrato indeterminado, até a minha aposentadoria, com 43 anos. É um sonho”, descreve. Ela ficou em segundo lugar no resultado final. Para conseguir isso, durante o período que passou na França, se dividiu entre as aulas de dança das 13h às 18h, e a escola acadêmica no período da manhã. Luciana conta, ainda, que chegou ao país tendo um preparo básico em francês, mas com o ano que morou lá, adquiriu a fluência no idioma. “Foi um ano de muito amadurecimento, em todos os sentidos”, conta.
A jovem conta que além de sonhar em realizar o que muitos até consideravam impossível, ela precisou ter foco, determinação e persistência para chegar ao nível que está hoje. Nesse caminho, como esclarece, houve muitos momentos desafiadores. “Em todo esse percurso de bailarina, que mudei de Juiz de Fora para o Rio, eu tive que sempre manter na cabeça que estava lá, sem a minha família, porque realmente e era meu sonho. (…) O maior desafio de todos foi ter deixado a minha família, ter abrido mão de estar ao lado das pessoas que eu mais amo e do meu maior suporte, desde muito nova.” Além disso, a bailarina também conta ter tido que lidar com a competitividade e rivalidade dentro do balé, mas considera que nada foi capaz de mudar a vontade que tinha de melhorar sua performance e continuar se profissionalizando.
Quando começar a trabalhar com o corpo de baile da Ópera de Paris sua rotina vai mudar bastante. “Começo às 10h, tenho espetáculo à noite, então trabalho por volta de 12 horas por dia normalmente”, revela. Mas escolheu o lugar justamente sabendo da dificuldade, já que era a forma que teria de estar no “berço da dança clássica”, onde considera o local ideal para começar sua carreira e trajetória no exterior. A dificuldade, para ela, significa uma possibilidade de se tornar cada vez melhor. “Para chegar até aqui, preciso acreditar que eu posso, que eu mereço e que eu consigo. (…) Eu quis entrar pra fazer história para a gente (Brasil), para mim e mostrar que é possível, sim.”
Encanto pela dança
O encanto pela dança clássica é uma constante em sua vida, desde a primeira vez que entrou em uma aula experimental de balé, aos 3 anos. Logo que saiu de lá, pediu para a mãe que a matriculasse para que seguisse aprendendo, mas estava longe de imaginar o quanto aquilo poderia impactar a sua vida. “O que mais me encantou foi a delicadeza dos movimentos. Eu olhava, ainda sem dançar na ponta, e achava aquilo mágico”, conta. Esse encanto permaneceu e hoje também é o que busca em cada passo (ou pirueta) que dá. A vontade de Luciana, agora, é continuar e se tornar a primeira brasileira bailarina “étoile” da Ópera de Paris, ocupando o mais alto nível nessa disputada hierarquia.