Movimento Samba das Mulheres na Praça celebra 3 anos de existência
Evento também celebra os 103 anos de Dona Ivone Lara

Para contar a história centenária das mulheres no samba, talvez um bom ponto de partida seja Tia Ciata, matriarca que acolhia em seu quintal Donga, Pixinguinha e João do Baiana. Devido a ela, o samba como o conhecemos existe. Falar de Dona Ivone Lara também é fundamental, principalmente por seu trabalho como compositora – função muitas vezes vista como destinada aos homens. E quando o assunto é a história das mulheres do samba em Juiz de Fora, é necessário falar sobre o Movimento Samba das Mulheres na Praça, que celebra, neste domingo (13), três anos de existência. O grupo organiza na Praça Armando Toschi Ministrinho , às 13h, uma roda de samba aberta e gratuita ao público.
O evento ocorre no mesmo dia do aniversário de 103 de Dona Ivone Lara. No repertório, o grupo busca homenagear o trabalho das compositoras e cantoras do samba. Além da aniversariante, Beth Carvalho, Jovelina Pérola Negra, Clementina de Jesus, Clara Nunes, Elza Soares, Leci Brandão, Alcione estão no repertório. Como novidade, o grupo ainda apresenta algumas canções compostas por homens, como “Maria, Maria”, de Milton Nascimento. O evento conta com intérprete de libras e acontece em locais onde há banheiros químicos com acessibilidade para pessoas com deficiência. O evento ocorre em parceira com o Ponto do Samba Juiz de Fora.
Praças e acessibilidade
Inicialmente, o samba na praça se deu por razões de saúde. Em 2022, muitas pessoas ainda estavam receosas com a Covid-19 e em organizarem encontros em locais fechados, apesar da vacinação. Com as sambistas de Juiz de Fora, não foi diferente. Entretanto, a praça, como um espaço aberto, rapidamente ganhou novo significado para o grupo, como conta a coordenadora do movimento, Andrea Melo. Com o desejo de organizar eventos gratuitos que pudessem incluir todos os tipos de mulheres, o local se tornou o ideal, fazendo com que o grupo permanecesse ocupando diferentes praças da cidade.
As mulheres, que na história do samba costumavam ficar, em um primeiro momento, nas funções de cantoras, dançarinas e cozinheiras da roda e, em um segundo, excluídas por não serem aceitas no ambiente dos bares, ocuparam centralmente esses espaços públicos em Juiz de Fora. “As mulheres sempre participaram do samba, mas não necessariamente das rodas”, afirma Andréa, acrescentando que esse panorama em Juiz de Fora, em certo sentido, começou a ser alterado com o movimento, com o interesse cada vez maior de mulheres em participar das rodas espalhadas pela cidade.
Andrea destaca que a ideia sempre foi incluir todas as mulheres e que os eventos são organizados muitas vezes em praças periféricas do município, tendo em vista a pauta da democratização da cultura. Entretanto, para agregar todas as mulheres é necessário pensar em várias demandas, principalmente as relacionadas à acessibilidade para aquelas que possuem deficiências físicas. Tendo em vista que “não é a pessoa que tem deficiência e não consegue chegar, mas a falta de acessibilidade social e arquitetônica que impede as pessoas de chegarem em diversos eventos”, o grupo se organizou para promover acesso a essas mulheres também. Como reflexo disto, o movimento organizou a primeira oficina de percussão voltada para mulheres com deficiência do Brasil.
*Estagiário sob supervisão da editora Cecília Itaborahy
Tópicos: Dona Ivone Lara / samba