Curso de composição musical da UFJF completa dez anos e realiza concerto no Central
Segunda edição do “Novos compositores” acontece nesta terça, com entrada gratuita, e participação de alunos do curso

Neste ano, o curso de composição musical da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) completa dez anos. Para celebrar esse marco, o Palco Central, projeto que acontece no Cine-Theatro Central, recebe a segunda edição do concerto “Novos compositores”. O evento é nesta terça-feira (10), a partir 19h. Os ingressos são gratuitos e podem ser retirados na recepção do teatro.
Daniel Mello, Dipper, Estêvão Coelho, Fred Fonseca, Grisa, Guilf, Lara Barreto, Leonardo Mello, Manu Rodrigues, Mayra Furtado, Patrick Alves e Victor Hugo apresentam suas músicas, executadas pela Orquestra Acadêmica da UFJF, sob a regência de Anna Lamha, com direção-geral de Raquel Rohr e a participação dos próprios compositores como solistas ou em formações de duo e banda. A curadoria do repertório foi feita pelo compositor, professor e fundador do bacharelado, Luiz Castelões.
Criação do curso de composição
Os bacharelados em música surgiram na UFJF em 2009, a partir de uma iniciativa do músico e professor aposentado André Pires. Foi uma negociação que durou alguns bons anos até, de fato, sua fundação. Luiz Castelões tornou-se professor logo na abertura do curso. “Quando foi aberto, só tinha curso para instrumentista erudito, então faltava. Porque a maioria dos músicos de Juiz de Fora não tem o perfil de concertista”, reflete.
Naquele momento, Juiz de Fora já tinha uma movimentação crescente dos compositores, a partir do Encontro de Compositores, que ainda acontece na cidade, e de uma cooperativa de compositores ativa. “Mas era tudo não-institucional.” O professor se pôs, então, a articular a abertura desse curso, com negociação que, enfim, findaram em 2013, quando o bacharelado em composição foi anunciado.
A UFJF foi a segunda instituição de Minas Gerais a abrigar um curso dessa modalidade. O que foi, de fato, um marco. Quando a Tribuna noticiou essa criação, Luiz Castelões já apresentava um otimismo. “Acredito que assistiremos a uma verdadeira revolução musical e educacional em Juiz de Fora e arredores nas próximas décadas”, disse na época. Hoje, isso pode ser observado principalmente quando se analisa a demanda pelo bacharelado. “Em dez anos, que ficou demonstrado é que havia uma demanda reprimida. Tanto que ele é o curso com maior procura no vestibular de música e com maior número de alunos matriculados”, afirma Luiz Castelões.
Ainda quando o curso foi anunciado, o músico Fred Fonseca era presidente da Cooperativa da Música de Minas (Comum). Atualmente, anos depois, ele é um dos alunos, inclusive a ter sua composição apresentada no concerto “Novos compositores”. Ele lembra que a existência do curso cumpre uma demanda do Plano Municipal de Cultura de Juiz de Fora, que é criação de formas de viabilizar a formação continuada.
“O bacharelado de composição viabiliza uma formação e a expansão da visão musical do aluno. Ele permite ainda a permanência de compositores que antes tinham que sair da cidade em busca de formação.” O desejo tanto dele quanto de Luiz Castelões, há dez anos, era de que Juiz de Fora, por causa disso, se tornasse um polo de formação. E ambos acreditam que isso aconteceu, tendo em vista, principalmente, a concorrência ano a ano.

Liberdade no educar
O esforço desde sempre é o de que o curso seja diverso e acolha os diferentes ritmos que permeiam a música nos dias de hoje. “O aluno compõe na linguagem que ele quiser. Por isso é um curso variado. E isso no concerto fica claro, é até difícil de produzir, porque cada música é uma instrumentação diferente e uma linguagem diferente”, afirma Luiz Castelões. E Fred completa, de seu ponto de vista como aluno: “Eu estou convivendo com pessoas de diferentes matizes da música e isso faz com que a gente se enriqueça também com a troca e com os contatos realizados entre compositores”.
É por isso que a construção do currículo não se encerrou há dez anos: ela continua sendo construída a partir da demanda dos próprios alunos. E muito disso, como diz o professor, vem de uma liberdade que ele faz questão de ampliar. “Um legado do curso é, não só a questão pedagógica também, mas a ideia de se criar comunidades criativas independentes. O objetivo do educador, como disse Nietzchie, é produzir independência nos seus alunos, inclusive em relação aos professores.” Exemplo que ele dá é do Coletivo Difluência, criado por alunos e ex-alunos do curso que experimentam as linguagens musicais a partir da composição.
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Resultado no dia a dia
O resultado desse trabalho, além de poder ser visto no concerto, é acompanhado no dia a dia, a partir do que Juiz de Fora consegue criar com o bacharelado em composição. “Porque, do ponto de vista geral, ele é uma continuidade da criatividade em música na sociedade”, acredita Luiz Castelões.
E Fred finaliza, pensando ainda na importância de atividades como o concerto “Novos compositores”: “Qualificar o compositor é fundamental para que ele possa ampliar sua capacidade de expressão. Ter viabilidade de apresentar as obras dos compositores atuais é fundamental para conhecer a identidade musical do momento. Ligar esses compositores ao público através de festivais e ocupações de espaços é válido para que o público conheça um repertório que vai além da música colonial e antiga”.
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