A beleza do que se esvai

Relação de Nina Mello com as flores rendeu, além de exposições, o seu primeiro livro
Tudo morre. Todo mundo morre. Todas as coisas chegam ao fim. Ciclos, afinal, que se encerram, círculos que se fecham ao encontrar seu ponto de partida. Com exceções, todos os seres vivos chegam ao seu inevitável desfecho existencial após envelhecerem, quando nossas células chegam a um ponto em que são sobrepujadas pela exaustão. E é para encerrar um ciclo que a fotógrafa Nina Mello lança, nesta quinta-feira, na Casa Vinteum, o livro “Senescência”, conclusão de um processo fotográfico iniciado em 2012 agora registrado nas páginas da publicação, mostrando que mesmo o fim pode ser o retorno para um novo início. Além do lançamento, haverá uma mesa de abertura com a presença de Nina, do biólogo e escritor Felipe Costa e do filósofo Wilmar Barbosa para discutir científica e filosoficamente a questão da senescência, que nada mais é que o processo de envelhecimento dos seres vivos.
O livro, em formato delicado (14cm x 15cm) e lombada com costura aparente, publicado por meio da Lei Murilo Mendes, é o encerramento de um projeto iniciado por Nina em 2012 dentro de um universo amado pela fotógrafa: o mundo das flores, tema de sua primeira exposição (no ano 2000). “As flores são um elemento muito presente no meu trabalho, sempre vivo cercada por elas em casa. Então houve um dia em que vi algumas rosas murchando em um vaso e resolvi acompanhar esse processo e trabalhar esse tema do envelhecimento. Na época, não sabia que ele se chamava senescência, fui descobrir apenas ao conversar com o Felipe a respeito do que estava fazendo. Hoje vejo que a morte é uma questão mais recorrente para mim do que as próprias flores”, conta a artista, que realizou a exposição sobre o tema em 2013, no Espaço Manufato. “Mas não tenho resposta para a morte ou minha relação com ela, apenas é um espaço para refletirmos sobre o tema. O que pude observar é que as flores são belas tanto no seu estágio de maior esplendor quanto na senescência, igualmente fascinantes.”
Segundo ela, a ideia para o livro veio apenas depois. “Acredito no livro como um outro espaço de exposição, um complemento à minha proposta. Foi uma experiência nova, pois trata-se do meu primeiro livro, e vi que é um trabalho delicado e complexo. E ele tem uma permanência e circulação que a exposição não possui”, observa. Por ser sua primeira experiência editorial, Nina Mello destaca a importância do auxílio recebido para a produção de “Senescência”. Dentre os vários parceiros na empreitada, Felipe Costa e sua mulher, a também bióloga Marinês, ajudaram explicando os tipos de flores e o período de senescência de cada uma. Já o repórter Mauro Morais, da Tribuna, atuou como coordenador editorial e escreveu um dos textos presentes na obra.
“O desenvolvimento do livro foi interessante porque o trabalho do fotógrafo, muitas vezes, é solitário, e dessa vez estava em equipe. Todo mundo se envolveu e se empenhou no projeto, compreendeu o conceito, me ajudou a entender como funciona todo o processo de edição”, diz a fotógrafa, que, para “Senescência”, escreveu um pequeno diário, dividido em estações, relembrando todo o processo de criação desde 2012. O biólogo Felipe Costa também escreveu um texto explicando como se dá biologicamente o processo de envelhecimento. A publicação, traduzida para o inglês, traz ainda fotos que não entraram na exposição de 2013 e o registro mais recente, de uma astromélia, feito já em 2015 por sugestão de Mauro Morais.
Após o lançamento desta quinta-feira, Nina Mello vai apresentar seu trabalho na 11ª edição do festival internacional de fotografia “Paraty em foco”, que terá início no próximo dia 24 na cidade localizada no Sul do estado do Rio.
SENESCÊNCIA
Lançamento do livro nesta quinta-feira, às 19h
Casa Vinteum – Espaço Experimental
(Rua 21 de Abril 25 – São Mateus)