‘Sofro muito com a pirataria’
No encerramento da Bienal do Livro de Juiz de Fora, Carina Rissi lança “Mentira perfeita”
Dona do coração das adolescentes aficionadas por um bom romance, Carina Rissi, sem sombra de dúvidas, está entre os nomes mais aguardados da Bienal do Livro de Juiz de Fora. A dez dias do início do evento, agendado para ocorrer, com entrada gratuita, entre os dias 14 e 19 de junho, no Independência Trade Hotel, a autora volta a conversar com o “Sala de leitura” (neste sábado, às 10h30, com reprise na segunda, às 14h30, na Rádio CBN Juiz de Fora) e celebra a vinda à cidade pela primeira vez. “Estou superempolgada. Já tinha cogitado a ideia de fazer Juiz de Fora. Sempre passo por aí, porque é caminho entre Rio e Belo Horizonte, mas não tinha dado certo ainda. Tenho visto nas redes sociais, e o pessoal está bastante contente com a notícia. Imagino que vá ser muito legal, porque uma festa para a literatura é sempre formidável”, comemora a escritora, para quem está reservado o encerramento, no dia 19, às 17h30.
Best-seller de 200 mil exemplares vendidos, Carina precisa cumprir uma maratona digna de popstar para dar conta da agenda. Desde abril, sua rotina tem sido ainda mais intensa, já que segue com o lançamento de “Mentira perfeita” (462 páginas). Para se ter uma ideia da popularidade dessa paulista de Ariranha, que morre de medo de avião e, por isso, prefere viajar de carro, na pré-venda, a obra estava na lista dos mais vendidos de ficção, segundo o PublishNews.
Na nova aposta, levada para as lojas com selo da Verus, a protagonista, Júlia, destina grande parte de sua vida para o trabalho. Membro de um setor de tecnologia em uma empresa de cosméticos, ela sempre se esforça para fazer o melhor. Contudo, com tanta dedicação, quase nunca sobra tempo para a vida pessoal. A vida da mocinha sofre uma reviravolta quando sua tia, Berenice, fica doente. Temendo pelo pior e querendo dar uma última felicidade a ela, a jovem inventa que tem namorado e que vão se casar. Não podendo revelar a mentira, Júlia vê em Marcus, um bonito cadeirante que busca sua independência mas que precisa de uma cuidadora se quiser morar sozinho, a solução para esse imbróglio. A partir daí é confusão atrás de confusão.
Mal “Mentira perfeita” ganhou as prateleiras, e Carina engata na produção de mais um título da série “Perdida”, que fez sua estreia em Portugal e é anunciada para virar filme. “Acho que o título é ‘Prometida’. É provisório ainda, mas vou nessa linha. Vou contar a história de Elisa Clarke. Ela terminou ‘Destinado’ noiva de um rapaz que se viu obrigado a pedi-la em casamento. Agora, tenho que desenrolar isso. Elisa é uma menina do século XIX, foi criada e educada para ser obediente, cumprir as regras da sociedade, mas é uma Clarke. A teimosia dos Clarke vai falar mais alto”, adianta a autora, afeita a finais felizes.
Tribuna – Quando você lança um livro, começa aquela maratona de lançamentos. Como é a rotina de um best-seller durante a turnê?
Carina Rissi – É uma correria danada. Quando estou em casa, estou com prazo apertado para entregar o próximo livro. Preciso correr com isso. Em turnê, estou com o pé na estrada. Faço a maior parte de carro porque tenho medo de avião, evito até onde eu posso, o que me toma mais tempo. É uma vida corrida, mas muito prazerosa: conversar com meus leitores, me encontrar com eles e escrever, que é o que eu mais adoro.
– Durante esse período você escreve?
– Já tentei escrever fora de casa, mas não consigo. Não tenho exatamente um cantinho em casa para isso. Vou fazendo onde dá. Na cama, no escritório, no sofá da sala, na cozinha, se precisar, mas fora de casa não consigo. Preciso me sentir confortável. Comecei o “Perdida” em janeiro e devo concluir mês que vem.
– Já ouvi de escritores que o sucesso vicia. Ele vicia mesmo?
– Ainda não consigo te dizer. Para mim, está acontecendo tudo muito rápido, e é tudo muito recente. A ficha parece que ainda não caiu direito. Às vezes, a Record (editora) me fala: “Você vendeu 200 mil livros”, e eu fico pensando que “puxa vida, isso é coisa pra caramba para quem sonhava, lá atrás, vender mil livros por ano. Então, ainda não tenho essa consciência de ser best-seller. Por enquanto, vou fazendo só o que eu gosto.
– Uma leitora fez a seguinte declaração para você no Facebook: “Obrigada por me fazer sentir mais viva a cada linha que leio de seus livros”. Qual é a parte ruim e boa de ser tão aclamada pelos fãs?
– Às vezes, estou num evento e preciso ir ao banheiro, vem um monte de gente atrás querendo tirar foto, e eu só preciso ir ao banheiro. Essa parte ainda é meio esquisita para mim. A melhor parte é poder tocar pessoas que eu não conheço, que estão tão distante de mim. A melhor parte de ser escritor é mexer com as emoções de alguém. Então, tem que ser muito cuidadoso com o que vai fazer. E meus leitores são superfiéis e apaixonados, me tratam tão bem, me abraçaram, abraçam meus personagens e meus livros. Quando estou desanimada, eles me levam para frente.
– É comum o chick-lit ser taxado como um gênero menor. Isso te incomoda?
– Não gosto muito de rótulos. Acho uma bobagem enorme, seja de qualquer tipo, incluindo os da literatura. É esquisito. O chick-lit é um livro bem-humorado, conta o cotidiano de mulheres comuns, sem toda aquela coisa perfeita da mulher quase inalcançável e intocável. É a história de uma mulher comum, de uma mulher real, normalmente escrito por mulheres. Acho engraçado como ele causa tanta estranheza e é taxado de fútil, e, na verdade, ele não é. Vários assuntos sérios são abordados em chick-lit, assuntos que nos fazem refletir.
– Por falar em assuntos sérios, o mocinho de “Mentira perfeita” é um cadeirante. Você acha que a sociedade ainda tem dificuldade para aceitar perfis fora dos estereótipos?
– O Marcos foi apresentado no “Procura-se um marido”, e, assim que ele entrou na história, falei: “caramba, quero tanto trabalhar com ele de novo”. Ele é muito bem-humorado, é divertido, é sarcástico, mas percebi uma tristeza profunda que eu queria tirar dali. Acho que estaria sendo hipócrita se não dissesse que existe preconceito. O ser humano ainda tem muito o que aprender, muito o que respeitar o individualismo, as escolhas das pessoas, a maneira como elas são. Acho que ela precisa crescer muito com relação não só a cadeirantes, mas a quase tudo.
– Antes de ser lançado, “No mundo da Luna” foi muito pirateado. Como você lida com a pirataria?
– Sofro muito com a pirataria. No ano passado, o “Procura-se um marido” ficou em quarto lugar em uma lista de mais pirateados do Brasil. É uma lista em que eu não gostaria de estar. Claro que eu quero ser lida, mas é difícil, porque, se as pessoas começam a ler o pirata, eu paro de vender. Se eu parar de vender, minha editora vai ver que não é viável continuar me publicando, porque ninguém publica alguém por causa dos seus belos olhos. Não deixa de ser um negócio. O livro é um produto. Por outro lado, o leitor tem acesso, de repente, me conhece pelo pirata e acaba me comprando depois. O pessoal na fila, às vezes, fala: “olha, comprei o pirata, mas agora comprei o livro físico e trouxe para você assinar”. Essa é uma luta. O autor nacional não tem tanto suporte, é tudo muito demorado. Já desativei links com quase dois milhões de leituras de livros piratas. É triste porque você se dedica muito àquilo, passa meses com isso. É o meu nome que está na capa, mas há muitos profissionais envolvidos, desde o pessoal do marketing, da distribuição e da livraria.
BIENAL DO LIVRO DE JUIZ DE FORA
De 14 a 19 de junho. Carina Rissi no dia 19, às 17h30
Independência Trade Hotel
(Av. Presidente Itamar Franco 3.800)