O samba e Juiz de Fora: conheça a história de grupos que movimentam o gênero na cidade
Comemorado em 2 de dezembro, o Dia Nacional do Samba destaca o trabalho de profissionais na área

Celebrado nesta terça-feira (2), o Dia Nacional do Samba destaca a existência do gênero musical criado no Brasil há mais de 100 anos. Pertencente ao calendário do país desde 2023, a data reverencia o estilo que surgiu na Bahia, por meio dos negros escravizados, e se consolidou no Rio de Janeiro. Atualmente, ele não só faz parte do dia a dia dos brasileiros como também estimula a criação de coletivos e projetos sociais que enfatizam a importância dessa cultura na sociedade.
Em Juiz de Fora, samba também é tradição. É berço de diversos grupos, desde escolas a conjuntos pioneiros, além de músicos e professores. A Tribuna ouviu lideranças de projetos que atuam na cidade, de modo a rememorar suas raízes, além de traçar um panorama do futuro que se constrói para o gênero.
Rodas e oficinas
Um dos projetos que realiza rodas periodicamente em Juiz de Fora é o Ponto do Samba. Ele foi criado em 2012 por Roger Resende e Juliana Stanzani, buscando reavivar o samba na cidade, a partir de ações que incluíam, inclusive, um resgate de sua história. Depois da realização de alguns eventos, o músico e professor Carlos Fernando Cunha foi convidado a integrar o grupo. Com o tempo, assumiu suas articulações.

A partir de um apoio da Funalfa e de outras instituições, conseguiu transformar o Ponto do Samba em projeto de extensão na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), de forma a aprofundar os estudos do samba na cidade. Além disso, com uma emenda parlamentar da então deputada federal Margarida Salomão, eventos e materiais foram produzidos. O projeto ainda gravou álbuns com composições da cidade, disponíveis nas plataformas digitais.
“O Ponto do Samba tem um público muito diverso. Ele consegue reunir a turma mais antiga do samba da cidade, mas também a gente percebe uma juventude chegando muito forte nos nossos eventos. Nosso público reúne crianças, jovens, adultos, idosos, mulheres, homens, a população LGBTQIA+, pretos, brancos e a gente se orgulha muito disso”, afirma Carlos Fernando sobre as rodas realizadas. O músico ainda está a frente da Oficina Paticumbum, que ensina instrumentos de percussão, e faz parte de diferentes blocos na cidade.
Já Andrea Melo conta que cresceu com o samba dentro de sua casa. Seu pai, músico que transitava entre orquestra sinfônica de música clássica e os bailes de carnaval, a fez conhecer e apreciar o gênero que tocava nas rádios. Ela se envolveu com projetos da área por meio do Encontro Internacional de Mulheres na Roda de Samba, em 2018, no qual foi convidada a produzir a roda em Juiz de Fora. A artista enfatiza que, a partir disso, foi observando que a presença da mulher nessa área ainda era muito restrita.

“Ao longo desses três anos e meio de vida do movimento, nós fomos percebendo que nem todas as mulheres, principalmente as com deficiência, conseguiam estar numa roda. Seja pela falta de acessibilidade, seja pela falta de conhecimento musical. Então, o objetivo maior é esse: acolher todas as mulheres, independentemente de etnia, religião, idade, orientação sexual, classe social e de experiência. Nós queremos propiciar um espaço que também lute contra o machismo que faz com que acreditem que não possam desfrutar do samba”, aborda a coordenadora do Movimento Samba das Mulheres na Praça.
Tanto Carlos Fernando quanto Andrea falam ainda sobre o desafio financeiro em manter as atividades culturais mencionadas. Apesar de inscrições e participações em editais de cultura, eles defendem maior necessidade de atuação do poder público para promover oportunidades, tanto de inclusão quanto de acessibilidade.
“Essa proximidade com o Rio de Janeiro explica muito a força do samba aqui em Juiz de Fora. O grande legado que eu pretendo deixar é justamente produzir, exaltar e difundir essa memória do samba, dos seus artistas, dos seus compositores, e que as pessoas conheçam e percebam a qualidade disso na cidade”, afirma Carlos Fernando. “Para quem trabalha e resiste junto com o samba, esse dia é para se comemorar, festejar e relembrar todo esse processo. Precisamos relembrar também a ancestralidade feminina do samba, Dona Ivone Lara, Clementina de Jesus, Jovelina Pérola Negra, Clara Nunes, Bete Carvalho, Elza Soares, Alcione, Lecy e as mulheres atuantes em Juiz de Fora”, complementa Andrea.
Baluarte
Paulo Cezar Calichio, conhecido como Coração, entrou para o Bacharéis do Samba no ano de 1976. Criado por Santos Lima e posteriormente liderado por Nilton Santos, o grupo segue ativo há 51 anos. Atualmente, ele é composto por cinco músicos: o Coração, Nelson Lúcio de Souza (Nelsinho da Cuíca), Cezar Carlos Ferreira (Cezar 7 Cordas), Sérgio Miguel Lobo (Miguel da Marcação) e Roberto Lúcio Santos (Betinho do Cavaco).

De acordo com Coração, todo o trabalho do Bacharéis é fruto de uma dedicação exclusiva do grupo, que busca resgatar a história do samba com união e devoção. Ele conta que trabalham com a memória, trazendo em suas apresentações composições antigas de grandes artistas brasileiros. Dessa maneira, ele cita o trabalho didático exercido por ele e seus colegas, na tentativa de preservar e valorizar o gênero musical.
Com experiência extensa, o Bacharéis do Samba trabalhou em diversos locais da Zona da Mata e tem no currículo parceria com escolas do Rio de Janeiro, como o Grêmio Recreativo Escola de Samba Portela. Coração relata que, por conta da antiguidade e reconhecimento do grupo, sempre há solicitações para que se apresentem em diferentes locais.
“A instauração do Dia Nacional do Samba é um momento maravilhoso por conta do reconhecimento concedido ao nosso grupo e aos profissionais da área. O papel dos Bacharéis do Samba é servir Juiz de Fora. O importante é agradar as pessoas, levar alegria a elas e poder trazer a leveza dessa música, preservar um gênero tão importante para a cultura brasileira”, conta Coração.
Samba na comunidade
Em Juiz de Fora, estão sediadas diversas escolas de samba, que atuam há anos tanto nos tradicionais desfiles quanto em projetos sociais para a comunidade. Esse é o caso da G.R.E.S União das Cores, que, apesar de ser uma das mais jovens da cidade, foi pioneira em parcerias com instituições particulares e federais, como a UFJF, e por ter se tornado Ponto de Cultura da cidade, fomentando projetos ao longo do ano.

A União das Cores executa projetos como oficinas de percussão, de artes plásticas, fotografia, corte e costura e também de grafite. Nesse sentido, Bruno Pereira, presidente da escola, afirma que busca trazer para as comunidades atividades que vão além do carnaval, mas que utilizam a comemoração e o samba como meio de mudar a vida das pessoas. Ele reforça que a escola entende que o carnaval é uma vez por ano, mas observa que as necessidades são diárias.
“O Dia Nacional do Samba representa a libertação do samba em si. Hoje o samba está em qualquer lugar. A gente não pode falar de música popular brasileira sem falar desse ritmo. É uma grande vitória que o samba persista e tenha conquistas. Ainda precisamos valorizar muito mais, mas cada um, a seu modo, está trabalhando para isso. Nós precisamos batalhar para que a gente possa ter um calorzinho no coração e uma luz no fim do túnel”, finaliza Bruno.
*Estagiária sob supervisão da editora Cecilia Itaborahy
Tópicos: samba / samba de Juiz de Fora









