Tribuna de Minas 44 anos: jornal atravessa décadas como voz da cidade e região

Jornal comemora 44 anos em meio aos desafios da IA; coberturas marcantes são rememoradas


Por Sandra Zanella

31/08/2025 às 06h00

“A melhor homenagem ao futuro é também lembrar o passado.” A frase de Juracy Neves, fundador da Tribuna de Minas, resume bem a importância de comemorar cada ano do principal jornal de Juiz de Fora e região com perspectiva, mas sem esquecer o que o trouxe até aqui. Quarenta e quatro anos depois daquela primeira edição impressa, em 1º de setembro de 1981, a Inteligência Artificial (IA) desafia o fazer jornalístico, enquanto a Tribuna segue seu propósito de apurar os fatos com responsabilidade e isenção para informar com credibilidade seus leitores, expandidos para o site e as redes sociais da Tribuna. Cumprindo seu dever social, o jornal é um importante elo entre a população, as instituições e os três poderes, sempre focado na liberdade de expressão e no combate à desinformação ou às chamadas fake news. E como rememorar mais de quatro décadas de jornalismo? O desafio foi lançado à própria redação, convidada a votar os destaques ao longo desses anos, a partir de 44 sugestões de grandes coberturas pré-selecionadas pelo editor de fotografia, Leonardo Costa. As 10 mais votadas podem ser conferidas nesta reportagem especial de aniversário.

“Vimos a Tribuna nascer, inclusive seu nome. Meu pai levou umas sugestões e nós votamos”, recorda Suzana Neves. Ela lembra com carinho o desejo de Juracy Neves de criar um jornalismo independente. “Hoje ficou maior do que esse sonho do meu pai, porque a Tribuna passou a ser um legado, é a voz da cidade. Acho que não existe outro meio que retrata tão bem o cotidiano de Juiz de Fora, que traz a memória afetiva e a história com veracidade.” Por tudo o que o jornal representa para o município, a presidente da Rede Tribuna de Comunicação – que inclui o site e as rádios Transamérica e Mix -, quer manter esse compromisso com os leitores. “É um desafio muito grande, sobretudo porque é um meio em que os recursos são muito escassos. Estamos enfrentando essa guerra digital toda, com as big techs. Mas desistir? Jamais. Vamos nos reinventando.”

A diretora-geral da Rede Tribuna, Márcia Neves, corrobora o desafio atual que envolve o jornalismo no mundo inteiro. “Os sites de buscas estão entregando, primeiro, as notícias através da IA. Só depois, divulga os sites. Ao mesmo tempo em que nos ajuda na produção de conteúdo, sendo uma parceira, a IA também é concorrente”, avalia, ressaltando a importância da marca Tribuna. “O jornalismo bem feito tem seu valor. Vamos atrás da matéria, e isso não pode ser feito por uma IA.” Mesmo com adversidades, Márcia aposta em um longo futuro. “Estamos sempre experimentando e acompanhando esse movimento, dando importância à pesquisa jornalística: ouvindo todos os lados, mostrando opiniões, e não, simplesmente, entregando um texto de IA.”

O editor-geral da Tribuna, Paulo Cesar Magella, lembra do primeiro computador na redação, apenas de oito bits. As tecnologias avançaram, passando pelo celular, até às redes sociais, que ganharam força nos anos 2000. “Com elas surgiu uma nova categoria, a dos comunicadores. Acontece um evento, eles fotografam (e postam nas redes). Paradoxalmente, essa nova concorrência nos fortaleceu, porque trabalhamos com competência e conteúdo sólido, dentro de padrões, protocolos e questões éticas, nos tornando referência.”

O editor-geral enfatiza que a Tribuna oferece apuração aprofundada. “As pessoas vêm nos procurar para saber se é fato ou fake. Nosso desafio é manter esses critérios, olhando para o futuro. O mundo digital é inexorável: ou você se adapta a ele, ou você morre. Então vamos olhar para trás? Sim, é a nossa história, ela foi construída com muitas pessoas que passaram por aqui. Mas temos que olhar para frente.” Sobre o avanço da IA, ele pondera: “Escrever ainda é um ato humano”.

Editor executivo da Tribuna, Bruno Kaehler reforça: ” Os principais desafios que a IA tem trazido ao jornalismo são o combate à desinformação e a queda de audiência. O Google, principal mecanismo de buscas do mundo, entrega respostas às pesquisas dos usuários sem a necessidade de acesso às matérias dos veículos, mesmo utilizando conteúdo produzido pelos jornais para informar o leitor. Soma-se isto à coleta imprecisa, muitas vezes, das informações nos veículos, o que pode causar a desinformação e a desvalorização dos veículos de jornalismo. As duas coisas trazem desafios na própria sustentabilidade dos canais.”

Para se atualizar por meio do uso da IA sem perder a credibilidade que a consagrou por 44 anos, a Tribuna tem capacitado sua equipe. “A Tribuna foi selecionada para participar de um programa do Google sobre IA no jornalismo e, regularmente, acompanha workshops, webinars e outras ações que envolvam o tema”, cita Kaehler. Paralelamente, o jornal criou uma política de uso de IA, esclarecendo, entre os principais pontos, que não há substituição de ferramentas por humanos e que toda utilização de IA no auxílio à apuração e produção deve ser descrita na matéria e passar por um jornalista para edição e revisão.

Dessa forma, o editor executivo garante que os leitores podem ter a segurança de que o jornalismo local, trabalhado de forma responsável e ouvindo a população – característico da Tribuna nas mais de quatro décadas -, seguirá sendo o propulsor diário. “A IA otimiza processos, mas não cria conteúdo, tampouco faz jornalismo – este segue sendo o DNA da Tribuna e o que levará o jornal para mais 44 anos.”

‘A memória permite entender para onde queremos ir’

Paulo Cesar Magella está desde a edição zero do jornal, feita como uma prévia do projeto. “Estamos contando a história da cidade há 44 anos. Então tudo que aconteceu de relevância nesse período está na Tribuna de Minas”, destaca. “Somos um registro da história e, ao mesmo tempo, testemunhas oculares de muita coisa que aconteceu. Temos esse papel histórico e também o de colocar a agenda das ruas na instância dos políticos.”

Para resumir a relação intrínseca do jornalismo com a memória, a editora da Tribuna Gracielle Nocelli cita que, por meio dele, são registrados fatos, imagens e testemunhos que podem ser acessados posteriormente, inclusive com o propósito de compreender mais sobre as dinâmicas da sociedade num determinado período. Gracielle é especialista em Jornalismo e Memória, e autora da tese de mestrado sobre o tema, que teve como objeto de pesquisa o jornal. “Quando falamos desses 44 anos, falamos também das memórias de Juiz de Fora e do jornalismo. As transformações ao longo do tempo, das primeiras edições em preto e branco até a expansão para o digital, refletem a evolução da tecnologia vivida ao longo dessas décadas. Cada acontecimento registrado contribui para que a gente possa compreender mais sobre as nossas dinâmicas políticas, econômicas e culturais.”

A editora ressalta o privilégio de ter um jornal ativo na cidade há tantos anos, trabalhando no dever social de informar a população, criando registros de memória local e regional. “É uma oportunidade que nem todas as cidades têm”, observa. “A memória permite entender para onde queremos ir enquanto sociedade e para onde não queremos voltar. Ela nos auxilia a conhecer a nossa própria história. Por isso, também a importância de que essa construção seja sempre plural e polifônica.”

 

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Setembro de 1992 e 1993 - Itamar Franco é Presidente da República -"Vimos a ascensão de Itamar Franco como presidente, mas já o acompanhávamos como senador. A partir dali, vimos toda a articulação para ele ser vice do Fernando Collor, que era governador de Alagoas e tinha o apelido de 'caçador de marajás'. Foi a primeira derrota de Lula. Dois anos depois, Collor foi apeado do poder por um impeachment e, de repente, o Itamar se vê Presidente da República. Quando ele vinha a Juiz de Fora era um caos, porque queria agir como se fosse um cidadão comum, andar pelas ruas. E era difícil", comenta o editor-geral da Tribuna, Paulo Cesar Magella, sobre os tempos em que os jornalistas faziam plantão no prédio onde Itamar morava, na Avenida Rio Branco, próximo à Rua Rei Alberto. O velório de Itamar, em julho de 2011, na Câmara Municipal, contou com a presença de vários políticos, incluindo os ex-presidentes Lula, Sarney e Collor, com ampla cobertura da Tribuna.

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