Mulher denuncia cárcere privado pelo Google à polícia

Vítima preencheu campo de perguntas no buscador, que acionou a Especializada de Atendimento à Mulher


Por Vívia Lima

29/01/2020 às 17h25- Atualizada 29/01/2020 às 20h07

Uma mulher de 34 anos foi resgatada da situação de cárcere privado no Bairro Santa Luzia, na Zona Sul, depois de ter buscado ajuda pelo Google Maps. A informação foi divulgada em coletiva de imprensa, na tarde desta quarta-feira (29), pela delegada Ângela Fellet, da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher. Segundo as investigações, durante a noite da última terça-feira (28), ela entrou na plataforma e preencheu perguntas no site sobre como proceder em caso de violência doméstica no campo que apontava a localização da Especializada. Logo cedo, quando os investigadores iniciaram o trabalho na delegacia, notificações apontaram a denúncia. “Na última noite em que estiveram juntos, inclusive, a mulher teria passado o tempo todo sentada em um banquinho. Ele não deixou que ela fosse dormir dentro de casa e, nesse meio tempo, ela pegou o celular, acessou a internet, e, de lá, encaminhou a pergunta sobre como sair de casa, pois o marido a ameaçava e não permitia que ela saísse do imóvel. Fomos até o local, eu e minha equipe, e conseguimos resgatá-la”, afirmou Ângela.

O suspeito, 32, que estava no endereço no momento da ação, foi capturado em flagrante e encaminhado ao Ceresp. “Desde quando estava grávida, ela foi obrigada a dormir um dia na rua. Durante os dois anos de relacionamento, ela relata agressões físicas, ameaças verbais diárias e psicológicas.” Horas antes de ser preso, ainda na madrugada, o suspeito teria jogado água no celular da mulher, após perceber que ela mexeu no aparelho na tentativa de sair da situação de cárcere. Junto, o casal tem um filho de 1 ano.

Conforme as apurações, o suspeito permitia que a mulher saísse da casa onde moravam apenas para trabalhar como faxineira, serviço que ela prestava, pelo menos, duas vezes por mês. “Geralmente a cada quinze dias ela realizava faxinas, entretanto, só poderia fazer o trabalho caso a filha mais velha dela a acompanhasse, como exigência do homem, além de ele marcar horário para que ela retornasse para casa”, destacou Ângela, acrescentando que, em outras ocasiões, como resolver algo na escola da menina, o homem sempre a perseguia. “Ele nunca estava junto, sempre seguia a vítima como forma de controle. Se ela não acatasse as regras, ele a ameaçava de agressão e até morte.” A mulher foi levada para a Delegacia de Mulheres onde prestou depoimento. Já o homem foi ouvido e levado ao Ceresp. Ele deverá responder pelos crimes de cárcere privado qualificado, maus-tratos, dano e ameaça.

Denúncia

Geralmente, mulheres sob cárcere são vigiadas o tempo todo e impedidas de acessar canais de comunicação a fim de denunciar o crime. Desta forma, a delegada Ângela Fellet orienta que a família esteja atenta às atitudes desta vítima, assim como amigos e vizinhos que podem acionar a Polícia Militar ou ainda a Casa da Mulher, na Rua Uruguaiana, 93, para realizar a queixa. O episódio pode também ser denunciado pelo 180, por meio da central telefônica que atua como um disque-denúncia. É um programa nacional que recebe denúncias de assédio e violência contra a mulher e as encaminha para os órgãos competentes. Além disso, também é possível obter orientações sobre serviços da rede de atendimento, direitos da mulher e legislação.

Pelo 181, as pessoas têm acesso à Central de Atendimento à Mulher em Situação de Violência, que é um serviço de utilidade pública, gratuito e confidencial, que funciona 24 horas, todos os dias da semana, inclusive nos feriados. O anonimato é garantido.

As denúncias podem ser feitas de qualquer lugar do Brasil. Além do 180, as denúncias de violência doméstica podem ser feitas em qualquer delegacia, com o registro de um boletim de ocorrência. Há ainda um aplicativo para celular, o ‘Clique 180’, que traz diversas informações importantes, como os tópicos da Lei Maria da Penha.

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