Eleições estão garantidas no Colégio João XXIII
Atualizado às 19h36
O juiz da 155ª Zona Eleitoral, Paulo Tristão, visitou, na tarde desta quinta-feira (27), o Colégio de Aplicação João XXIII, que segue ocupado pelos estudantes, a fim de garantir no local a votação do segundo turno das eleições municipais, que ocorre neste domingo. O magistrado foi recebido em uma assembleia pelos alunos, que se dispuseram a deslocar as intervenções para o ginásio do colégio no sábado, liberando as sete seções onde 2.505 estão aptos a votar. Ocupando o espaço escolar desde a última quinta, os estudantes permanecerão mobilizados até domingo (30), tendo a entrada distinta do local de votação. Eles ainda se comprometeram a não realizar qualquer tipo de campanha no local. Além de professores, o vereador Roberto Cupolillo (Betão, PT) participou da assembleia.
Ao deixar o colégio, Paulo Tristão conversou com a Tribuna e destacou a boa recepção dos estudantes à Justiça Eleitoral. “Não viemos dar opinião sobre o movimento, que aparentemente é democrático. Eles compreenderam a necessidade de se respeitar o direito dos eleitores no próximo domingo. Foi acordado que é possível respeitar a ocupação e o exercício do voto”, afirmou.
Segundo o juiz, a princípio, houve o pedido para que as seções fossem transferidas dentro do próprio colégio, mas a prioridade é garantir que os eleitores votem nos mesmos locais do primeiro turno. “A nossa preocupação é manter as eleições como previstas, e isso a Justiça Eleitoral não abre mão. Eles sabem disso e não se opuseram. No domingo, será respeitado o direito dos dois e será bom para todo mundo”, concluiu. Um documento será assinado por ambas as partes para firmar o acordo estabelecido.
O presidente do Grêmio Estudantil do João XXIII, Yuri Vieira do Vale, 17 anos, ressaltou o tom amistoso da conversa e o bom resultado da negociação. “Foi muito bom, o doutor Paulo foi muito coeso, conseguimos conversar e mostrar que somos um movimento horizontal, que estamos conversando de igual para igual. Qualquer um que vier para somar será bem-vindo. Pudemos fazer essa interação e chegar a um consenso, que será o suprassumo da democracia: em uma mesma instituição federal de ensino uma ocupação e uma votação”, destacou.
Yuri falou ainda da capacidade de organização dos estudantes que se mantêm mobilizados contra a PEC 241 e a proposta de reforma do ensino médio, inclusive com o apoio de pais, professores e da Administração Superior da UFJF. “É uma grande oportunidade para colocar em prática o modelo que nos é aplicado numa instituição federal de ensino, que estimula o pensamento crítico. Temos cinco comissões, de segurança, higiene, alimentação, logística e comunicação. Cada uma assume uma função, e o respeito mútuo impera aqui dentro. A gente se emociona de ver no corredor aluno fazendo escola, de aluno para aluno, saindo da forma perfeita”, enaltece.
Na UFJF, assembleia define rumos da ocupação
Ocupando a Reitoria da UFJF contra a PEC 241 desde a noite de quarta-feira (26), os estudantes se reuniram nesta quinta-feira (27) em duas assembleias para definir sobre os rumos do movimento. Eles discutiram a proposta de divisão do grupo em comissões. Na mesma reunião que definiu a ocupação, os alunos votaram pela adesão ao dia nacional de paralisação nacional, que foi convocado pelas entidades sindicais para 11 de novembro, inclusive com paralisações no campus da UFJF. Os discentes aprovaram a ocupação na assembleia convocada pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE), posicionando-se ainda contra a reforma do ensino médio, o projeto de lei que institui a “escola sem partido” e também por questões locais.
Também nesta quinta, os estudantes do Instituto Federal do Sudeste de Minas (IF Sudeste) se reuniram no ginásio do colégio em assembleia para discutir a conjuntura das mobilizações em todo o país e definir se irão ocupar a instituição. De acordo com o Grêmio Estudantil União (Getu), eles retornaram para as aulas após o encontro e deverão se reunir na semana que vem para decidir se haverá ocupação. De acordo com a União Brasileira de Estudantes Secundaristas (Ubes), até o início da noite desta quinta, eram 1.177 escolas ocupadas em todo o país. Já a União Nacional dos Estudantes (UNE) quantificou 112 campus de universidades tomadas pelo movimento estudantil.
Movimento não interrompe atividades, diz reitor
Durante coletiva à imprensa realizada na tarde de ontem, o reitor da UFJF, Marcus David, afirmou que o Conselho Superior (Consu) da instituição, reconhece os movimentos de ocupação dos estudantes no Colégio de Aplicação João XXIII, assim como a ocupação do prédio da Reitoria. Segundo ele, nos dois casos, as manifestações estão ocorrendo dentro de uma ordem, na qual, tanto os estudantes do ensino médio, quanto os universitários, deliberam pela resistência às medidas governamentais, como a PEC 241, a medida provisória de reforma do ensino médio e a chamada Lei da Mordaça, também conhecida como “Escola sem partido”. “Esse conjunto de medidas tem gerado, não apenas em Juiz de Fora, mas no Brasil todo, uma série de resistências de movimentos estudantis, de sindicatos de trabalhadores da educação, como professores e técnicos. Na semana passada, o Conselho Superior da UFJF emitiu notas manifestando críticas a essas políticas governamentais, pois entende que a PEC 241 ameaça a continuidade de programas sociais do governo, que deram início a um resgate da dívida social que o Brasil tem”, ressaltou o reitor.
No caso da ocupação da Reitoria, o reitor afirmou que já há negociações com o movimento, para não interromper as atividades da universidade. “Os setores administrativos fundamentais têm acessos permitidos para evitar prejuízos ao funcionamento da UFJF”, garantiu.
Marcus David deixou claro que, apesar das críticas, o Consu não está insensível à crise fiscal que o país enfrenta. “Entendemos que essa crise poderia ser superada com medidas muito mais competentes e eficientes. O modelo de teto de gasto é arcaico e rudimentar de se fazer política fiscal na economia. Por esse motivo, o Conselho faz uma crítica e entende que os direitos sociais ficam ameaçadas. Assim o reconhecimento desses movimentos, porque entendemos que essas medidas são noviças à educação pública”.
Orçamento 2016 e 2017
Sobre o orçamento deste ano, Marcus David disse que todo o orçamento de custeio foi cumprido integramente pelo Governo. “Como fizemos um exercício de planejamento orçamentário muito bem feito com o Conselho Superior, equacionamos o fechamento do nosso exercício com o pagamento de todas as nossas obrigações e com segurança.”Para o ano que vem, o projeto de lei orçamentária que tramita no Congresso já prevê uma redução de 18%. “Isso cria uma dificuldade muito grande, porque fizemos esforço para fechar 2016. Essa redução indica uma situação preocupante. Esse projeto ainda não foi votado e a votação da PEC aumenta nossa preocupação, porque esses valores podem ser revistos”.
Medicina veterinária
Sobre o protesto dos estudantes da Faculdade de Medicina Veterinária, solicitando melhores condições para o curso, Marcus David qualificou como grave e séria. É um caso de grande responsabilidade em termos de planejamento na implantação de um curso, que está no sexto período, tendo começado há três anos. É um curso de uma área que a universidade não tem experiência e foi iniciado sem infraestrutura garantida. Quando assumimos, o curso tinha iniciado o quinto período e imediatamente fizemos uma reunião com o departamento. Identificamos problemas emergenciais, como a questão de que havia laboratórios que, se não fossem montamos, não teríamos condições de começar o sexto período. Fizemos um esforço improvisado para criar os laboratórios que a universidade não tinha infraestrutura em um momento de restrições orçamentárias. Estamos fazendo um esforço de resolver problemas e evitar a interrupção do curso”, salientou.
David afirmou que o Consu terá que tratar desse assunto com a gravidade que ele impõe. “É um curso que vai exigir uma série de espaços de campos específicos, de hospitais veterinários, de fazendas experimentais e vamos ter que criar essas condições. Claro que a solução imediata se dará por meio de convênios e parcerias com outros órgãos, como Embrapa, outras clínicas e alguns hospitais, para criarmos esses campos de estágio e de prática para os estudantes. Teremos que estabelecer uma forte negociação com o Governo, porque este é um dos casos que tivemos uma expanção não planejada e não complementada. Precisamos de autorição do Governo para contratar novos professores e essas contratações estão suspensas. É um processo de expansão que precisa ser continuado, mas que precisa do envolvimento do Ministério da Educação.”