Começa demolição de cracolândia

Equipe de policiais foi acionada à Rua Mariana Evangelista, onde casas são usadas por crackeiros
Teve início, na manhã desta quinta-feira (22), o processo de demolição do complexo de lojas abandonadas no quarteirão compreendido entre as ruas Benjamin Constant e José Calil Ahouagi, no Centro. O problema na área, que havia se transformado em cracolândia e ponto de prostituição, foi alvo de duas reportagens na Tribuna publicadas esta semana, na quarta-feira e quinta. O processo foi iniciado um dia após a Secretaria de Atividades Urbanas (SAU) determinar o prazo de 72 horas para a destruição dos imóveis, já que partes deles haviam sido condenadas pela Defesa Civil.
Apesar de as paredes já terem sido derrubadas, a apreensão permanece na área. Moradores e comerciantes agora estão preocupados com os entulhos deixados no terreno, que deverão começar a ser retirados hoje, em um processo previsto para durar até dez dias. Além disso, a presença dos usuários de drogas no entorno ainda é uma realidade, como a reportagem pôde comprovar durante a manhã e também no período da tarde. Muitos deles estavam entrando no terreno para coletar restos dos escombros, como pedaços de tijolo e barras de ferro. No mesmo dia do início da destruição da cracolândia, outro ponto para venda e consumo de entorpecentes foi alvo de vistoria de autoridades ontem. São 15 casas abandonadas, na Rua Mariana Evangelista, no Bairro Poço Rico, na Zona Sudeste.
Riscos
A atividade de demolição do complexo da Benjamin e da Calil Ahouagi está sendo realizada por uma empresa privada. Conforme o presidente do Tupi, Áureo Fortuna, o clube contratou a firma responsável pelo serviço, mas o custo será repassado ao proprietário do terreno, que foi vendido.
Quem passava pelo local quinta se preocupava com os riscos na área, já que o isolamento da estrutura que estava sendo demolida cobria apenas cerca de um metro à frente do imóvel. Em alguns momentos, pedaços dos escombros também caíram no meio da rua.
Segundo a chefe do Setor de Fiscalização da Secretaria de Atividades Urbanas (SAU), Graciela Vergara Marques, toda a intervenção realizada é de responsabilidade do proprietário. "Hoje mesmo (quinta), no fim da tarde, os fiscais estiveram lá e notificaram o responsável a melhorar a segurança na área, principalmente para os pedestres. Também foi solicitada a limpeza na calçada." Em alguns momentos, pessoas tiveram que andar pelo asfalto para passar pelo trecho. Durante a manhã, o subsecretário de Defesa Civil, Márcio Deotti, havia informado que, para o processo de demolição, não havia a necessidade de fechar a rua, porque o serviço estava sendo feito de forma emergencial. "Interromper uma via de grande fluxo (como a Benjamim Constant) é complicado", acrescentou.
Comunidade preocupada
"Tem muito resto de obra que pode ser usado para brigas, e eu já fui ameaçado pelos usuários de droga. Durante a manhã, eles estavam muito agitados, até mesmo tentando interromper o trabalho dos operários", disse um morador, que pediu para não ser identificado. Segundo ele, o uso e o tráfico de drogas, além da prostituição, ocorrem nos imóveis abandonados há quase um ano, embora a situação tenha se agravado nos últimos meses. A esperança, agora, é que a tranquilidade volte. "Queremos que eles saiam da área."
Conforme Áureo Fortuna, dois seguranças particulares foram contratados para garantir a integridade do patrimônio do clube, já que o lote demolido permanece aberto. "Vamos levantar muros na área. A previsão é que isso seja concluído entre cinco e sete dias, mas a limpeza vai durar aproximadamente dez."
Já os comerciantes disseram temer invasão das lojas ainda em funcionamento na área. "Estou levando para casa toda mercadoria de maior valor ", disse um deles. Outro informou que pretende se mudar nos próximos dias. "O mais revoltante é que pagamos o aluguel em dia e estamos tendo transtornos enormes. Queremos que isso se resolva logo." Segundo a Polícia Militar, em caso de crime, o 190 deve ser acionado, mas a segurança do patrimônio é de responsabilidade particular.
Medo em outro ponto de drogas no Poço Rico
O presidente da Comissão Antidrogas da Câmara Municipal, vereador Noraldino Júnior (PSC), irá solicitar à Prefeitura hoje a demolição de cerca de 15 casas abandonadas na Rua Mariana Evangelista, no Bairro Poço Rico, no limite com o Bairro Granbery, de propriedade da Sociedade São Vicente de Paulo (SSVP). Os imóveis estão tomados por usuários de crack, acarretando problemas de violência na vizinhança. No início da tarde de quinta, o vereador esteve no local para verificar a situação e disse ter ficado assustado com o que viu. O cenário é de devastação, pois os cômodos das casas estão entulhados de sujeira, restos de fezes e de urina, colchões velhos, papelões, roupas espalhadas, restos de comida e um mau cheiro insuportável. Em um dos locais, no porão, cachimbos para fumar a pedra de crack foram encontrados. A equipe da Delegacia Especializada Antidrogas da Polícia Civil foi acionada e fez a identificação de quatro pessoas que usam as casas como moradia. De acordo com o inspetor Rogério Marinho, nada de ilícito foi encontrado com elas.
Conforme Noraldino, quando ele e sua equipe chegaram, um rapaz que estava em uma das casas tentou intimidá-los. "Ele estava com um celular na mão e parecia que estava nos filmando e chegou a dizer: ‘vou te marcar’", contou o representante da Câmara, que também pediu providências para a Secretaria de Assistência Social, com objetivo de encaminhar os usuários para tratamento ou ressocialização. Segundo o parlamentar, no requerimento que será enviado à Prefeitura será pedido que o Município realize a demolição, já que a SSVP alega não ter recursos para isso. Ouvida pela Tribuna quinta, uma representante da instituição disse que o custo deste serviço está orçado em R$ 100 mil.
Problema denunciado
Em janeiro desse ano, a Tribuna denunciou o temor dos moradores da vizinhança. Na ocasião, a SSVP informou que as casas eram usadas por inquilinos de baixa renda, que pagavam um valor mínimo de aluguel e, em troca, deveriam cuidar do patrimônio. A solução encontrada pela sociedade foi pedir as casas de volta. Entretanto, como vive de doações, a SSVP alegou não ter condições financeiras para recuperar os imóveis.
Uma dona de casa, 40 anos, contou que, desde a época em que a Tribuna esteve lá, o problema só piorou. "Com frequência, há brigas aqui entre os usuários. Já ouve até ocorrência de facada. Também já ouvimos barulhos como se fossem tiros. Isso tira a segurança dos moradores", relatou a mulher. Uma comerciante, 57, disse que tem medo de chegar em casa depois que escurece. "Saio do serviço às 17h, mas, quando atraso, volto de táxi para ficar na porta de casa. Após o anoitecer, a rua fica muito perigosa. Meu marido só chega depois das 20h e fico com muito medo de ficar sozinha." Outra, 69, afirmou que, na última segunda-feira, teve que chamar a polícia. "Estava uma gritaria aqui na rua. Estavam gritando que iam matar alguém."
Além do medo, os vizinhos afirmam que são alvos de furtos e arrombamentos. "Meu carro já foi arrombado duas vezes. Essa rua já não é mais segura e nem dá para as crianças brincarem aqui como era antigamente", relatou uma professora, 35, acrescentando que os residentes também recebem ameaças por parte dos crackeiros