Cidade terá represas cheias para enfrentar período de estiagem
Chuvas dos últimos dois meses ajudaram a recuperar os mananciais que atendem Juiz de Fora
É senso comum que o ser humano só dá valor a algo importante quando não mais o tem. Esta máxima pode ser aplicada à água, recurso necessário para a própria sobrevivência e garantia de conforto em dias extremamente quentes. A população juiz-forana não sabe o que é ficar sem abastecimento em massa desde o início de 2016, quando uma grave crise hídrica, em toda a região Sudeste do país, obrigou a Cesama a manter um rodízio no abastecimento por 15 meses ininterruptos. Pelo menos uma vez por semana, a água não chegava onde deveria, sendo que áreas mais afastadas e íngremes do município sentiam o impacto de forma mais significativa.
O ano de 2017 foi ainda mais seco que os da crise, atingindo o menor acumulado de precipitações desde 1970, e, mesmo assim, não houve desabastecimento. Prova que obras estruturais importantes, que resultaram em novas possibilidades operacionais da Cesama, cumpriram o seu papel, embora o recurso em abundância tenha reduzido o alcance da conscientização. Desta forma, mesmo em meses completamente atípicos, com poucas chuvas, como foi dezembro, era possível observar com certa frequência o uso indiscriminado da água para lavação de calçadas e carros pelas ruas da cidade. O Dia Mundial da Água, celebrado nesta quinta-feira (22), é uma data de reflexão, para que nunca se esqueça a importância deste bem primordial para a própria sobrevivência de todos.
Pode-se dizer que Juiz de Fora é privilegiada com relação ao abastecimento público de água. Afinal o município dispõe, dentro dos seus limites territoriais, de dois reservatórios, João Penido e São Pedro, e de um manancial de passagem, que é a captação feita no Ribeirão Espírito Santo. Além disso, mantém em uma região relativamente próxima a Represa Chapéu D’Uvas, 11 vezes maior que João Penido. Foram exatamente as obras de transporte do recurso desta represa para as estações de tratamento na Zona Norte que permitiram a cidade passar por um ano extremamente seco sem qualquer transtorno.
Recuperação
Agora, ao fim de março, a realidade é diferente, pois, com as fortes chuvas dos últimos dois meses, a cidade conseguiu recuperar suas represas para mais um período de estiagem, eliminando a possibilidade de implantação do rodízio ou racionamento. Conforme dados da Cesama, o lago da Represa de São Pedro, que é pequeno, está em um processo de descarga de água para evitar transbordar, pois está completamente cheio. João Penido, por sua vez, está 81% preenchido, situação diferente da observada há somente três semanas, quando tinha pouco mais de 52%. Para efeito de comparação, no fim de fevereiro do ano passado a represa estava 88,5% cheia e, em 2016, 91,1%.
Importância da conscientização contra o desperdício
A tranquilidade operacional, porém, não pode ser motivo para uso indiscriminado do recurso. Para o diretor técnico-operacional da Cesama, Márcio Augusto Pessoa, o uso racional deve ser sempre um norte, apesar de ele avaliar que o juiz-forano faz a sua parte. Para se ter ideia, em 2013, antes da grave crise hídrica, o consumo médio diário de água da população local era de 155 litros, sendo que, em 2014, o volume se manteve estável, em 154 litros. No ano seguinte, o declínio foi significativo, para 127 litros. “Em 2016 e 2017 foram 132 litros, o que mostra que a população está consciente do uso racional, embora a gente saiba que existam os extremos.” Para efeito de comparação, a Organização das Nações Unidas (ONU) preconiza como necessário para a vida 110 litros, sendo que, em estados como Rio de Janeiro e Maranhão, o consumo seja superior a 200 litros. Pior: nos Estados Unidos a média de gasto por pessoa de água passa dos 500 litros diários.
A Cesama, porém, faz mea-culpa e assume o seu papel na necessidade de reduzir o desperdício. Em janeiro e fevereiro de 2018, a perda técnica contabilizada foi de 29%. Significa que este é o percentual de água tratada e colocada na rede para distribuição que acaba se perdendo pelo caminho. No ano passado, em média, eram 31% de perda. “É um trabalho interno ininterrupto nosso, para mostrar a todos que estamos fazendo a nossa parte. Todos precisam contribuir para que o uso seja o mais racional possível, sem desperdícios.”