Reforma tributária é um dos gargalos de Haddad
Ministro da Fazenda se equilibra entre parte dos que apoiam a reforma tributária e os críticos do projeto. Há governistas e oposição no mesmo palanque
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, pediu ao Congresso Nacional que não desidrate as medidas fiscais apresentadas pelo Governo, especialmente na reforma tributária, em um momento em que os parlamentares têm pressa em fechar a agenda de 2025 e vão para o recesso. O ministro tem sido uma voz quase única no debate, pois até mesmo no Governo tem adversários. Dentro do PT, mais ainda, a começar pela presidente Gleisi Hoffmann, que tem se mostrado uma crítica das medidas tomadas para equilibrar a economia.
Com o nome em evidência numa instância em que os números nem sempre são estáveis, o ministro tem uma gestão aprovada por 27% dos brasileiros, enquanto 34% a rejeitam. De acordo com a pesquisa do Datafolha, outros 34% consideram a gestão da economia ruim ou péssima, enquanto apenas 5% não sabem. Foram ouvidas 2.002 pessoas em 113 municípios brasileiros nos dias 12 e 13 de dezembro.
Os números surpreendem, pois a economia, de certa forma, está estável, mas o dólar acima dos R$ 6, independentemente das causas, mexe com o humor da população. Ademais, há incertezas sobre os ajustes adotados pela equipe do ministro para equilibrar as contas do Governo. O mercado as considera insuficientes e vende esse pessimismo; dentro do Governo há discussão sobre as áreas a serem afetadas, pois todo ministro quer garantir sua parte. E aí, Haddad, ao olhar de todos, é o vilão.
Mas a questão central está no Congresso Nacional. A reforma tributária foi aprovada, mas os pontos de sua regulamentação ainda estão em pauta. Os parlamentares, tanto da Câmara Federal quanto do Senado, têm uma visão própria, atuando sempre voltados para o olhar das ruas, mesmo reconhecendo a importância das medidas. Ante esse cenário, o máximo que o ministro pede é que, ao mexer no texto, não haja a retirada de pontos estratégicos para a sua consecução.
O recesso começa oficialmente na segunda-feira (23), mas deputados e senadores correm contra o tempo para entregar as votações de seu interesse e do próprio Governo. A Lei de Diretrizes Orçamentárias tem que entrar na pauta até o dia 20.
O presidente da Câmara, Arthur Lira, vai pautar todos os temas até o fim desta semana, mas a aprovação é outra questão. No seu último período à frente da Casa, ele se equilibra em torno de propostas voltadas para os próprios parlamentares, mas também não fecha portas ante a possibilidade de ser chamado para o Governo Lula no ano que vem.
Nesse jogo de interesses, dentro e fora do Congresso, Haddad terá que utilizar ao máximo o jogo de cintura, pois sabe que nem mesmo o presidente pode estar ao seu lado o tempo todo, por conta do apoio dos congressistas. A questão é saber se, passado todo esse cenário, ele ficará sozinho com o ônus ou o bônus. É fato que, se não der certo, a conta será sua. O crédito, nem tanto.