Preso suspeito de estuprar a própria mulher por quase 30 anos
Duas filhas do casal também teriam sido molestadas quando tinham entre 9 e 10 anos
A Polícia Civil apresentou nesta quinta-feira (16) um pedreiro de 49 anos suspeito de estuprar, agredir e ameaçar de forma continuada a própria esposa, 45, durante os quase 30 anos de casamento. Ele também teria molestado duas das três filhas, quando elas tinham 9 e 10 anos, e por várias vezes mantido em cárcere privado a mulher, privada de liberdade em um cômodo na residência onde a família vivia na Vila Esperança II, Zona Norte de Juiz de Fora.
Investigado pela Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher em três inquéritos desde 2015, o homem já havia sido preso em flagrante em 2016, após coagir a esposa na frente da polícia, mas foi solto sete dias depois durante audiência de custódia. No entanto, a violência contra a vítima teria continuado, inclusive com descumprimento das medidas protetivas, culminando em outro estupro no último sábado. Na terça-feira, o suspeito foi finalmente capturado mediante mandado de prisão preventiva. Ele foi preso quando trabalhava em uma oficina no mesmo bairro e está no Ceresp, à disposição da Justiça.
Segundo a delegada responsável pelo caso, Ione Barbosa, estrangulamento e asfixia estavam entre os meios violentos utilizados nas agressões, muitas delas acompanhadas de estupro. “Em 2015 foi instaurado inquérito para investigar essa situação. Durante as declarações das filhas, tomamos conhecimento de que ele também teria abusado de duas delas”, contou a policial, acrescentando que o casal possui quatro filhos, sendo três mulheres.
Na época, pedimos a prisão preventiva dele, porém não obtivemos êxito. Em 2016, a esposa retornou à delegacia e instauramos novo inquérito, porque ele repetiu a conduta delituosa. Ele chegou a ser preso dentro da delegacia por coação no curso da investigação. Estava de alguma forma usando de violência para que a mulher não levasse à frente aquela situação. Neste último inquérito, representamos novamente pela prisão preventiva dele
Ione Barbosa, delegada
Ione destacou que o homem vai responder por estupro de forma reiterada, agressão, ameaça, cárcere privado e coação da companheira, além de atentado violento ao pudor envolvendo as duas filhas, hoje já adultas, com idades em torno dos 18 anos. Ainda conforme a delegada, uma delas disse ter sido abusada uma vez, enquanto a outra afirmou ter sido molestada em várias ocasiões. “Uma nos contou que o investigado ficava olhando enquanto ela tomava banho.” A delegada explicou que na ocasião dos abusos não era configurado o crime de estupro de vulnerável, contemplado pela nova Lei de Crimes Sexuais em 2009. “Eles estavam casados há 29 anos. A esposa sofreu ameaças e agressões praticamente durante todo o casamento. Os filhos cresceram vendo a mãe sendo agredida.”
Cárcere privado
A policial responsável pelas investigações detalhou a clausura praticada dentro da própria casa da família: “Ele colocava a mulher em uma quarto à parte, de maneira que ela não tivesse contato com os filhos e com outras pessoas, principalmente da vizinhança, justamente para não falar o que estava acontecendo, enquanto ele mantinha aparência de boa maridagem.”
Segundo a policial, a violência praticada pelo pedreiro veio à tona em 2015 porque a esposa tomou coragem para denunciá-lo. “Solicitamos medida protetiva, ela chegou a desistir por ter sido coagida, mas acabamos renovando a proteção nos inquéritos seguintes. No último sábado, além de descumprir a medida, ele foi até a casa dela para estuprá-la mais uma vez, de forma extremamente violenta.” Ione ressaltou que, devido às ameaças, o casal chegou a se separar e reatar algumas vezes. “Eles tiveram idas e vindas porque ele a coagia para voltar e não levar à frente o processo criminal.”
A delegada explicou que a prisão preventiva visa garantir a instrução criminal e proteger a integridade física das vítimas, diante das “reiteradas condutas ameaçadoras, violentas e da extrema brutalidade em relação aos estupros”, já que mantinha relação sexual com a mulher de forma não consentida.
Diante de um exemplo tão assustador e duradouro de violência doméstica, Ione destacou a importância das vítimas denunciarem seus algozes. “Foi preciso um ato de coragem após 28 anos praticamente de cárcere. Agora ele se encontra preso preventivamente, e não há prazo para terminar esta prisão.”