Homem morto a tiros durante evento de samba na Praça Antônio Carlos segue sem identificação
Segundo a Prefeitura, o evento que contou com milhares de presentes tinha a estimativa de público de 300 pessoas
Um homem, de cerca de 30 anos, foi morto com três tiros de arma de fogo em um evento de samba na noite deste domingo (9), na Praça Antônio Carlos, na região central da cidade. A vítima não resistiu aos ferimentos e morreu antes da chegada do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Além do homicídio, outras duas pessoas precisaram de atendimento médico após sofrerem uma crise convulsiva e um episódio de pânico. Ambas foram encaminhadas ao Hospital de Pronto Socorro Dr. Mozart Teixeira (HPS). Até o momento, o corpo do homem não foi identificado.
Ainda que nos primeiros momentos testemunhas tenham indicado quem era o homem, após as diligências foi apontado que não se tratava do nome apontado pelos populares. A delegada Camila Miller, titular da Delegacia Especializada de Homicídios, encarregada pelas investigações do caso, informou que o corpo foi encaminhado para o Instituto Médico Legal (IML) como não identificado – e aguarda o reconhecimento da identidade da vítima. A motivação do crime ainda não é conhecida.
A Polícia Militar informou que também segue as diligências e o rastreamento para identificação e prisão do suspeito. As investigações ficam a cargo da Polícia Judiciária, conforme esclarece a PM.
Expectativa de público era de 300 pessoas, diz PJF
Em nota, a Prefeitura de Juiz de Fora lamentou a tragédia e informou que o evento é de responsabilidade privada e que ocorria em desconformidade com normas previamente estabelecidas. À Tribuna, o Executivo informou que havia sido autorizado o evento para um público estimado de 300 pessoas. No entanto, em vídeos que circulam nas redes sociais é possível ver que milhares de pessoas acompanharam os shows na praça da região central da cidade. O evento desse domingo contava com a participação de mais de dez grupos e artistas solo e a entrada era gratuita.
O comunicado da PJF acrescenta que “o responsável pela organização do evento foi prontamente identificado e autuado pelas autoridades competentes, incluindo a equipe de fiscalização, a Guarda Municipal e a Polícia Militar”. Ele foi autuado e multado em cerca de R$ 10 mil. A infração é referente a realização de evento em desconformidades com a autorização, obstrução de via pública (por meio do cercamento da praça); e sujeira de via pública, descumprindo o dever de limpar o espaço após o evento. O organizador não terá mais pedidos para realização de eventos em espaços públicos aprovados.
A reportagem também questionou a PJF se, após a identificação que o evento corria acima da capacidade, houve um aceno para a interrupção da roda. O que, segundo a prefeitura, é uma atitude desmobilizada pela polícia militar devido ao risco de comoção popular.
O flyer de divulgação do evento indicava que a roda de samba, que teve início às 13h, marcava a abertura do carnaval 2025 em Juiz de Fora – informação rechaçada pela PJF, que salientou que os shows não faziam parte do calendário oficial do município – com festas iniciadas na próxima sexta-feira (14), com o “Esquenta de Carnaval Roda dos Amigos”, marcado para a partir das 17h, também na Praça Antônio Carlos.
A Tribuna tentou entrar em contato com a organização do evento. Entretanto, não houve retorno até o momento.
‘Carrinho de bebê no chão’, testemunhou homem
Pedro Cesso, 29 anos, estava no evento quando o homicídio ocorreu. Ele conta que estava próximo a biblioteca quando seu celular caiu no chão e ele viu uma multidão correndo. Deixar o aparelho celular ali, desbloqueado, não era uma opção para ele, que imaginava, até então, que o tumulto era em decorrência de uma briga ou um arrastão. Quando se abaixou para pegar o aparelho, chegou a ser atingido na cabeça por alguém que passava.
O cenário, conforme Cesso descreve, era caótico. Ainda que não estivesse tão perto de onde ocorreu o crime, a cena era de muitas pessoas correndo, desesperadas, tinha carrinho de bebê no chão – uma imagem que ainda não havia sido vista por ele em Juiz de Fora. Só depois, um amigo que tinha escutado os disparos, contou a Pedro o que tinha acontecido.
Ele lembra que no decorrer da festa não viu policiamento no local. Algumas viaturas passavam do lado externo e três seguranças privados também foram vistos.
Juiz de Fora teve 17 homicídios em via pública em 2024
O caso deste domingo, em que uma pessoa foi morta em via pública, não configura uma exceção aos crimes que já vêm sendo realizados a céu aberto na cidade. De acordo com a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), somente em 2024 foram 17 assassinatos que também ocorreram no ambiente urbano, em meio à circulação de pessoas. Deste índice, ao menos 11 mortes foram causadas por tiros com arma de fogo.
Os dados deste ano ainda não foram contabilizados pela pasta estadual. Contudo, ao menos três homicídios já foram registrados pelos órgãos de segurança em Juiz de Fora em 2025 e divulgados pela Tribuna seguindo esse padrão na dinâmica: o homem linchado até a morte no Bairro Santa Cecília, uma mulher morta na Rua São Sebastião e a tragédia deste domingo.
Na avaliação do vice-diretor do Instituto de Ciências Humanas da Universidade Federal de Juiz de Fora, Wagner Batella, três pontos devem ser destacados sobre esses casos. A gravidade de crimes em locais com grande concentração de pessoas acaba por expor a população a riscos. Isso porque atentados em meio à multidões podem acarretar em pessoas pisoteadas, passando mal devido ao estresse, atropelamentos e, até mesmo, conflitos generalizados.
Batella observa também que “ainda vivemos um agravamento de casos como este, onde experimentamos um expressivo aumento do acesso às armas de fogo”. Com isso, são proliferadas as situações de crimes envolvendo armas, com um percentual significativo de letalidade.
Nesse sentido, além de repensar as políticas de segurança pública, se impõe também, conforme o especialista, a importância de protocolos e da fiscalização para assegurar a integridade dos cidadãos frente a eventos de grande concentração de pessoas.
Tópicos: homicídio / Praça Antônio Carlos