Servidor da PJF é preso por desviar materiais e equipamentos da saúde

Entre os objetos estavam cadeiras de rodas, remédios, seringas e insumos para teste de identificação da Covid-19


Por Leticya Bernadete

02/10/2020 às 11h01- Atualizada 02/10/2020 às 15h17

1 servidor da PJF é preso by Leticya Bernadete
Durante ação, polícia apreendeu materiais e insumos usados pelas unidades de saúde do município (Foto: Leticya Bernadete)

Um servidor comissionado, de 50 anos, que atuava na Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) desde janeiro de 2013, foi preso na tarde desta quinta-feira (1º de outubro) por desvio de materiais e equipamentos da Secretaria de Saúde (SS). Uma operação conjunta entre a pasta e a Polícia Civil identificou o suspeito, após a Administração municipal detectar uma baixa em seu estoque. Entre os insumos extraviados estavam cadeiras de rodas, remédios, medidores de glicose, seringas, álcool etílico e até materiais para realização de exames de identificação da Covid-19. As informações foram repassadas durante coletiva de imprensa realizada pela polícia na manhã desta sexta-feira (2).

De acordo com o secretário de Saúde, Rodrigo Coelho de Almeida, a equipe de gestão da pasta identificou falta de medicamentos e insumos há cerca de dois meses, quando suspeitou de possíveis condutas ilícitas e acionou a delegacia da Polícia Civil para as investigações. Foi verificado que o funcionário envolvido exercia função no setor de abastecimento das unidades de saúde, encaminhando insumos e medicamentos. “A Secretaria de Saúde vai abrir uma sindicância para apurar esse dano e também se existem mais pessoas envolvidas. A operação continua em parceria com a Polícia Civil”, disse o secretário. “Estamos em um momento de epidemia, um momento em que a população precisa do poder público, então é inadmissível nos depararmos com situações como essa”, destacou. A exoneração do suspeito já foi publicada no Atos do Governo da PJF.

Designado pela 1ª Delegacia Regional de Juiz de Fora para conduzir as investigações, o delegado Samuel Nery explicou que o servidor foi preso em flagrante realizando a entrega de cadeiras de rodas em um estabelecimento localizado na Rua Braz Bernardino, região central de Juiz de Fora. O mesmo aproveitava de sua função na Secretaria de Saúde para fazer os desvios. Conforme relatado por uma testemunha, ele solicitava que os motoristas da Administração municipal parassem o veículo na via, mantendo uma distância da loja, e realizava as entregas sozinho.

Os proprietários da loja na Rua Braz Bernardino, um homem, 51, e sua esposa, 52, também foram presos. A Polícia Civil identificou um vínculo entre o servidor público e um dos empresários: o suspeito já havia sido funcionário do proprietário da loja antes de passar a trabalhar na Prefeitura de Juiz de Fora. “No momento da prisão em flagrante, os empresários alegaram que faziam troca de material em benefício da Prefeitura. Por exemplo, o servidor entregava a cadeira de rodas – no valor de R$ 600 – e a loja devolvia R$ 600 em outras mercadorias que a Prefeitura precisava”, explicou o delegado. “Essa informação não procede pelo que constatamos. Ele só deixava o material e saía, possivelmente para aferir um lucro depois. Vão ser verificadas a questão patrimonial e a questão financeira a posteriori no decorrer da investigação.”

Segundo Nery, os empresários tinham conhecimento de que os bens pertenciam à PJF, já que os mesmos estavam identificados. Juntamente com o servidor, eles devem responder por peculato – destinação diversa dos bens públicos – e associação criminosa. “Os empresários também foram flagrados por crime de peculato, apesar de não serem funcionários públicos, porque havia um ajuste prévio da conduta delituosa”, esclareceu. O filho do casal também será investigado pela Polícia Civil. Ainda conforme o delegado, as investigações irão continuar, podendo identificar outros estabelecimentos envolvidos.

Materiais apreendidos

A equipe de investigação apreendeu cadeiras de rodas pertencentes à SS no estabelecimento comercial, entretanto, haverá uma verificação no local para tentar identificar outros bens públicos. Já na residência do servidor, no Bairro Ipiranga, Zona Sul de Juiz de Fora, foram encontrados os demais materiais, como remédios, medidores de glicose, seringas, álcool etílico, equipamentos de proteção individual (EPIs), estetoscópios e, inclusive, insumos para exames de Covid-19. Computadores, celulares e notas fiscais dos materiais que estavam no estabelecimento também foram apreendidos, juntamente com um veículo de propriedade dos empresários, por ter sido utilizado em alguns dos encontros com o servidor público.

Operação ‘hemostasia’

A investigação foi nomeada como “hemostasia”, que refere-se a um procedimento bioquímico do corpo humano para estancar vazamentos de sangue. Segundo o delegado Nery, a referência se dá pela ação da SS ao identificar o problema.

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