Secretaria de Saúde vai fazer busca ativa para avançar na vacinação em JF
Em entrevista à Tribuna, a secretária de Saúde Ana Pimentel falou sobre metas e desafios para 2022 e fez balanço do primeiro ano da gestão à frente da saúde pública da cidade
Manter as medidas de enfrentamento à pandemia de Covid-19, avançando na vacinação contra a doença, ao mesmo tempo em que os problemas crônicos da rede de saúde pública continuam exigindo atenção são os desafios que se colocam para a gestão em Juiz de Fora em 2022. Em entrevista exclusiva à Tribuna, a secretária de Saúde da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF), Ana Pimentel, falou sobre as metas para os próximos meses e fez um balanço do primeiro ano da gestão à frente da saúde pública da cidade.
Na avaliação da titular da pasta, atualmente, o cenário da pandemia na cidade encontra-se “estável”, circunstância que impõe à gestão a necessidade de encarar outros desafios da saúde, agravados, inclusive pelo cenário pandêmico. Ao mesmo tempo, como lembra a secretária, é necessário que a vacinação avance para o público infantil e que a população tome todas as doses necessárias do esquema vacinal contra a Covid-19. “Uma grande expectativa para 2022 é, de fato, conseguir concluir o enfrentamento da pandemia e, nesse sentido, precisa ter a imunização das crianças. Se a gente conseguir chegar, no próximo período escolar, em fevereiro, já com as crianças vacinadas ou com o começo da campanha bem encaminhado, teremos uma segurança muito grande de concluir o enfrentamento da pandemia”, analisa.
Neste sentido, para avançar ainda mais com a campanha de imunização, uma das estratégias da secretaria de Saúde é a busca ativa para a vacinação na cidade, tanto contra a Covid-19, quanto no combate a outras doenças, como a gripe. “Nossa principal forma de combater a epidemia é continuar a campanha de imunização e as medidas não farmacológicas. No começo de janeiro vamos lançar uma campanha de busca ativa para as pessoas que não se vacinaram. Essa campanha vai ser articulada com a campanha de combate às arboviroses (dengue, zika e chikungunya), que também será uma frente importante de trabalho em 2022”, cita.

Variante Ômicron
A variante Ômicron do coronavírus, que avança em todo o mundo e que já tem transmissão comunitária em Minas Gerais, não traz pânico para Juiz de Fora. Apesar disso, a secretária Ana Pimentel afirmou que o estado é de alerta, e que o Município seguirá monitorando o cenário epidemiológico. “A variante Ômicron não é, neste momento, uma preocupação para o Município, apesar de estarmos em alerta. Estamos com uma situação tranquila em relação à ocupação de leitos Covid, temos um sistema capaz de responder às variações deste momento e uma alta porcentagem da população imunizada. Então, caso o número de casos aumente, teremos capacidade de resposta, mas acreditamos que não teremos consequências como a do pior cenário da pandemia na cidade”, analisa Ana. Conforme a secretária, foi uma opção da gestão municipal não desabilitar todos os leitos UTI Covid da cidade. O Município, inclusive, ainda conta todos os dez leitos UTI Covid pediátricos abertos, uma vez que a população infantil ainda não está vacinada contra a doença.
Testagem
O monitoramento da situação epidemiológica da Covid-19 passa, dentre outros indicadores, pela testagem da doença. De acordo com Ana Pimentel, a capacidade do Município de testar pacientes sintomáticos foi ampliada significantemente. “Nós temos testes em todas as nossas Unidades Básicas de Saúde e nas unidades de pronto atendimento. Nosso teste é rápido, tem excelência qualidade, e essa parte de monitoramento é muito importante, porque ela é que nos ajuda a preparar o sistema, caso precisemos de uma resposta rápida”.
Uso de máscaras
O Juiz de Fora Viva, programa municipal que estabelece regras e protocolos para o enfrentamento à pandemia da Covid-19, prevê a desobrigação do uso de máscara em locais abertos quando o percentual de imunização com as duas doses alcançar 85% da população da cidade. Atualmente, este percentual é de 82%, segundos dados da pasta municipal. Esta etapa do programa, entretanto, está condicionada à situação epidemiológica e ao impacto da variante Ômicron na cidade, podendo, inclusive, ser revista.
“Nós só tiraremos a máscara se a situação da variante estiver absolutamente tranquila. Manteremos o nosso planejamento se as condições epidemiológicas continuarem favoráveis. Do contrário, não. Manter o uso da máscara também é uma medida importante”, cita Ana.
Primeiro Plano Municipal de Combate às Arboviroses
Para além da pandemia de Covid-19, outra frente de atuação da Secretaria de Saúde será o combate às arboviroses, doenças endêmicas no país. “O município de Juiz de Fora vai lançar, pela primeira vez, no começo de janeiro, o Plano Municipal de Combate às Arboviroses (dengue, zika e chikungunya). Nós, nesse momento, temos que continuar debatendo a pandemia da Covid, mas temos que enfrentar outras situações endêmicas”, cita Ana.
Tão logo lance o plano, o intuito da Prefeitura é intensificar a visita dos agentes de endemias a domicílios, principalmente durante o período chuvoso, favoráveis à reprodução e proliferação das doenças. Para isso, a secretária diz que é necessário o apoio da população. “Parte da população não tem permitido os agentes de endemia entrarem em casa. Com a pandemia, até entendemos o receio de algumas pessoas, mas nós precisamos que os agentes de endemia entrem nas casas, façam os trabalhos educativos, porque não podemos ter uma situação de calamidade. A prevenção da dengue (e demais arboviroses) envolve parte da gestão pública e parte do comportamento das pessoas”.
Articulado ao Plano Municipal de Combate às Arboviroses estará o programa de busca ativa da vacinação, antecipado pela secretária à Tribuna. A conferência dos cartões de vacina da população será feita pelos agentes de saúde. Além da Covid-19, vacinas como a da gripe e de rotina também serão verificadas. Um possível surto de gripe, inclusive, não é descartado pela Secretaria de Saúde.
Ampliação de horários nas UBSs
O avanço da vacinação contra a Covid-19 e o maior controle de outras doenças contagiosas, conforme Ana Pimentel, permitirão dedicação atenta a pontos importantes da saúde, sinalizados, inclusive, nas propostas da prefeita Margarida Salomão (PT), durante a campanha eleitoral de 2020. Uma das expectativas é a ampliação, ainda no primeiro semestre de 2022, do horário de atendimento de algumas Unidades Básicas de Saúde (UBS), reivindicação antiga da população. “Faremos mudanças também no funcionamento da Atenção Primária à Saúde. Uma delas é ampliar o horário de funcionamento de algumas unidades regionalizadas. Algumas UBSs terão o horário de funcionamento estendido até as 19h. Caso, realmente, o funcionamento seja interessante, ampliaremos os horários de outras paulatinamente”.
Além do funcionamento estendido em algumas unidades de saúde, o intuito da gestão municipal é reorganizar o fluxo assistencial nas UBSs e informatizar o sistema de atendimento que, atualmente, é todo organizado manualmente. “É fundamental a informatização do sistema. A gente tem algumas unidades que são informatizadas, mas não são integradas (às demais). Ao longo do próximo ano, um desafio grande para o Município será da informatização (da rede de saúde). Já estamos com o processo licitatório do sistema adiantado, e conseguir a implementação dele, ao longo de 2022, será um passo muito importante”, avalia.
UPAs e HPS
Uma das propostas de trabalho da Secretaria de Saúde para 2022, conforme Ana Pimentel, será a reorganização da rede de Urgência e Emergência do Município. “O Município estava em situação irregular em relação ao funcionamento das UPAs, estávamos sem segurança contratual. Ao longo de 2021 fizemos o processo licitatório, inclusive de acordo com o que a portaria (10, de 3 de janeiro de 2017) do Ministério da Saúde que regulamenta o funcionamento das UPAS estabelece. Então a gente começa o próximo ano com novos contratos. Isso significa que a gente está fazendo uma transição de gestão”, explica.
Para 2022, além da reestruturação das UPAs de acordo com o que prevê o Ministério da Saúde, a expectativa é, também, de uma reforma administrativa no Hospital Pronto Socorro (HPS). “Nós também faremos uma reforma administrativa, que vai ocupar o nosso ano todo. Reformas administrativas envolvem esforço de gestão, queremos fazer esse diálogo com trabalhadores, com Conselho Municipal de Saúde, e nos ocuparemos em fazer uma reforma na nossa rede de urgência e emergência”, destaca.
“A gente espera conseguir, a partir do ano que vem, mudanças qualitativas na nossa rede assistencial. Esse ano foi de enfrentamento da pandemia, e conseguir sair deste ano com o enfrentamento é um resultado importante porque é que não é para a secretaria de Saúde, mas é para a cidade e a população. A gente não tem parâmetro com o que aconteceu. A partir do ano que vem a gente quer lidar com os dilemas crônicos do Município.”
Cirurgias eletivas e outras demandas
Entre esses problemas crônicos, está a alta demanda de cirurgias eletivas em Juiz de Fora, outro desafio que se coloca atualmente para a gestão da saúde pública na cidade. A fila de espera, que já era um problema antes da pandemia, aumentou diante das circunstâncias impostas pela Covid-19. Até o início de dezembro, mais de quatro mil pessoas aguardavam na fila de espera para a realização de um procedimento considerado não urgente, mas importante para manter a qualidade de vida do paciente.
“Para o próximo ano, faremos o recolhimento de emendas parlamenteares para conseguirmos ampliar o financiamento e reduzir significativamente a fila das cirurgias. Essa é uma das expectativas para 2022. Estamos em tratativas, não só de financiamento através das emendas, mas também com instituições de ensino para a gente conseguir intensificar a realização das cirurgias. Já estamos regularizando convênios com a UFJF e com a Faculdade Suprema, que serão nossas parceiras”, citou Ana.
Durante a entrevista, a secretária Ana Pimentel também mencionou a “epidemia de acidentes” que ocorre no país e também em Juiz de Fora. Na cidade, conforme Ana, esta é a quarta maior causa de preocupação, principalmente no fim do ano e por conta da ocupação de leitos. “Essa é uma campanha importante. Pela mudança que houve no mundo do trabalho, muitas pessoas trabalham usando motos, e tivemos um crescimento do número de acidente envolvendo motos. Precisamos ter um olhar para isso, já que os sistemas de saúde têm um nível máximo do que conseguem absorver, porque o financiamento é limitado”. Nesse sentido, a pasta também fará campanhas educativas no trânsito, com o intuito de conscientizar a população e prevenir acidentes de trânsito.
‘Vida saudável’
Em outros aspectos, para promover a saúde e a conscientização da população, a secretária também pretende em investir em campanhas educativas e preventivas. “Precisamos prevenir o adoecimento pelas condições crônicas, como diabetes e hipertensão. Então, neste ano, queremos trabalhar a questão da vida saudável na cidade e o desenvolvimento de práticas e comportamentos saudáveis para evitar o adoecimento, porque a prevenção é a melhor forma para ter um sistema de saúde que seja sustentável”.
‘Resultados para os dilemas crônicos’
Ao fim da entrevista exclusiva concedida à Tribuna, a secretária classificou seu primeiro ano da atual gestão da Saúde como “o ano de enfrentamento da pandemia”. “Começamos o ano diante da situação mais grave da pandemia até aquele momento. Ao longo dos meses subsequentes, a pandemia ainda se tornou mais grave no mundo, no Brasil e em Juiz de Fora. Então, a nossa principal ação do primeiro ano foi, de fato, o enfrentamento da pandemia. Abrimos leitos UTI Covid, criamos o JF Pela Vida e articulamos a campanha de imunização. (…) No nosso entendimento, a resposta em Juiz de Fora foi muito positiva, porque nós não precisamos ficar naquele movimento de abre e fecha, conseguimos ir caminhando numa linearidade, em que o Município pode ir avançando e tendo um controle maior da situação epidemiológica”, avalia.
O intuito, a partir de agora, conforme analisa, é concluir o enfrentamento e conseguir “mudanças qualitativas na rede assistencial SUS do Município”. “Estamos com uma equipe montada, com sintonia, que articula experiência universitária, de gestão e de ponta. Por isso temos a expectativa de trazer resultados para os dilemas crônicos”, resolução que foi enfatizada pela secretária durante a entrevista.
Para infectologista, pandemia ainda aumentará demanda por serviços
Também ouvido pela Tribuna para avaliar o cenário pandêmico e os desafios da Saúde para o próximo ano, o infectologista e pediatra Mário Novaes acredita que as demandas causadas pela Covid-19 prevalecerão, assim como a variante Ômicron será uma preocupação, já que, segundo o especialista, ela tem entre seis e oito vezes mais capacidade de disseminação em relação à variante do coronavírus Delta. “A disseminação da Ômicron é muito alta. Talvez ela não tenha mesma taxa de mortalidade por conta do percentual da população vacinada. Mas, com certeza, teremos o aumento de demanda pelos serviços ambulatoriais de saúde”.
O infectologista cita ainda a situação específica que o Brasil enfrenta atualmente em relação ao surto de gripe. “No Brasil ainda temos essa variante coexistindo com o vírus H3N2 (Influenza). Isso é problemático e vai gerar mais demanda pelos serviços de saúde. Tecnicamente, o que se sabe dessas doenças é que são mais brandas. Mas não podemos afirmar com certeza, até porque já temos mortes devido à variante Ômicron, por exemplo”.
Cenário desfavorável, ainda na avaliação do médico, é o descuido da população em relação às medidas de prevenção à Covid-19. Ele avalia como precoce a desobrigação do uso de máscaras e aponta como “muito necessário” o seu uso ao longo de todo o próximo ano. “Tirando as vacinas, as melhores medidas para combater a Covid-19 ainda são as medidas não farmacológicas. À medida que a população deixa de usar máscaras e de se vacinar – ainda temos muita gente que não tomou segunda dose -, estamos facilitando o aumento da transmissão e da variabilidade”, explica, citando a importância da procura também pela dose de reforço, uma vez que, segundo o médico, os atuais estudos indicam que as vacinas, mesmo com duas doses, garantem imunidade entre 22 e 30% em relação à variante Ômicron.
Impacto no sistema de saúde
Desta forma, o cenário da saúde pública de Juiz de Fora em 2022, na avaliação de Novaes, ainda se desenha a partir da pandemia. O médico cita, por exemplo, o orçamento apertado com que os municípios terão de trabalhar, haja vista os gastos no enfrentamento da Covid-19. “Com isso, você tem pouco investimento em outras áreas da saúde e para o tratamento de outras doenças que continuaram e continuam ocorrendo com a mesma frequência de antes da pandemia”, lembra.
Para além delas, o médico cita o aumento de outras enfermidades. “Também teremos um cenário diferenciado devido à repercussão orgânica da Covid-19, pois muitos pacientes têm ficado com cardiopatias, neuropatias, doença pulmonar e outras sequelas causadas pela doença. Ainda temos um aumento das doenças neuropsiquiátricas. Então é um cenário complicado e desafiador. Será preciso gerenciar a demanda reprimida”, pontua.