Perspectivas 2025: forças de segurança pública traçam estratégias para combater crimes em 2025
Polícia Civil vai contar com Plantão Digital; Para especialista, desafio é evitar que a cidade se torne cenário das disputas de grupos criminosos
Após fechar 2024 com queda nos índices de crimes patrimoniais em Juiz de Fora, as forças de segurança pública traçam estratégias para combater a violência na cidade no próximo ano. A Polícia Civil anuncia que, ainda no primeiro semestre, o município deve receber a 4ª Central de Plantão Digital para atender de forma virtual toda a região da Zona da Mata. Já a Polícia Militar, voltada para o policiamento ostensivo, preventivo e repressivo, preferiu não se manifestar sobre as atividades previstas para enfrentar a criminalidade em 2025.
Para o especialista Paulo Fraga, coordenador do Núcleo de Estudos de Políticas de Drogas, Violência e Direitos Humanos da Universidade Federal de Juiz de Fora (NEVIDH-UFJF), um dos desafios é a manutenção das taxas de homicídios em patamares mais baixos. Outra questão é evitar que a cidade se torne cenário das disputas de determinados grupos criminosos, que se organizam para a prática de delitos, como tráfico de drogas e crimes correlatos.
“A disputa entre essas quadrilhas, em várias cidades brasileiras onde estão presentes, contribuem significativamente para o aumento da violência e da violação aos direitos humanos. Outro desafio, esse ao nível institucional, é a permanente colaboração entre Município, Estado e Governo federal no âmbito da segurança pública, que, muitas vezes, tem dificuldade em se efetivar.”
A diretora de Gestão Integrada em Segurança Pública e responsável, também, pelo Programa de Integração da Gestão em Segurança Pública (Igesp) do Governo estadual, Mayara Abreu, garante que Juiz de Fora tem trabalhado de forma integrada, não só entre as polícias, mas também com Ministério Público, Poder Judiciário, Prefeitura – que conta com a Guarda municipal – e associações de comerciantes.
Esse esforço conjunto, inclusive, foi o responsável, segundo ela, pela queda alcançada este ano dos crimes contra o patrimônio (roubo, furto, extorsão, extorsão mediante sequestro e receptação). Esses delitos caíram 25,5% na cidade, entre janeiro e outubro. Foram 4.411 ocorrências registradas ante 5.920 no mesmo período do ano passado.
De acordo com Mayara, a eleição de criminosos reincidentes nessas práticas pelas polícias Militar e Civil foi fundamental para o resultado. “Quando conseguimos neutralizar os principais alvos, reduzimos a criminalidade.” Para 2025, as estratégias ainda estão sendo traçadas pelo Igesp. “Estamos finalizando as análises. Se conseguirmos manter os mesmos números, já vai ser uma grande vitória, pois tivemos uma redução muito grande.”
Conforme o delegado regional de Juiz de Fora, Bruno Wink Dos Santos, inevitavelmente, em 2025 ocorrerá o avanço no mapeamento sobre os núcleos de criminalidade organizada e a dinâmica local. “O trabalho integrado entre as forças de segurança e poder público municipal na área central da cidade resultou em queda expressiva dos crimes patrimoniais, demonstrando a importância da metodologia aplicada. Dessa forma, pretendemos avançar com as ações integradas para outras áreas e atingir mais modalidades criminosas.”
Conflitos entre integrantes de facções criminosas
Nos últimos dois anos, conflitos entre integrantes das duas principais facções criminosas do país ligadas ao tráfico de drogas resultaram em homicídios, inclusive no sistema prisional, e deixou as polícias em alerta, motivando diversas operações e prisões. As forças de segurança chegaram a anunciar a contenção de pelo menos um grupo que tentava disputar espaço com outro no município. A questão, entretanto, ainda preocupa, segundo o especialista Paulo Fraga.
“Determinados grupos criminais, que manipulam o tráfico de drogas e criminalidades correlatas, estão a desafiar as autoridades em todo o país, com presença importante em redes internacionais. Esses grupos ganharam capilaridades para além de seus locais onde se originaram no Brasil, se instalando e realizando parcerias com criminosos locais. Nesse sentido, não é sensato dizer que eles não possam voltar a se articular em Juiz de Fora com grupos locais, haja vista suas estratégias de negócios criminosos e a possível importância da cidade para sua expansão.”
Para o coordenador do NEVIDH-UFJF, um enfrentamento ao tráfico de drogas focado na inteligência policial, com desarticulações de estratégias sem o confronto direto, é muito importante, pois evita “danos colaterais”, como a vitimização de pessoas inocentes, policiais e até possíveis execuções. “Nesse sentido, a desarticulação das quadrilhas, que possuem poder armado e que fazem ações de intimidações às populações, vai impactar positivamente os indicadores criminais.” Para a garantia dos direitos humanos em meio ao combate à violência, Paulo Fraga observa que a segurança pública deve agir com inteligência e preparo, buscando desarticular os grupos criminosos, evitando o confronto direto, “que sempre é mais lesivo”.
Plantão Digital
O Plantão Digital utiliza recursos tecnológicos para a formalização dos procedimentos lavrados pela Polícia Civil, evitando deslocamentos entre delegacias de uma mesma Região Integrada de Segurança Pública (Risp). “Por meio de videoconferência e outras ferramentas tecnológicas, de forma ininterrupta, as equipes compostas por delegados, investigadores e escrivães trabalham em regime de plantão de 12 horas, recepcionando as ocorrências. Estes servidores realizam as oitivas dos envolvidos, despachos e demais peças, de maneira informatizada, transferindo os procedimentos para as delegacias de origem, que darão continuidade às investigações”, detalha a instituição.
O projeto foi implantado em Minas, em janeiro de 2020, “para otimização dos serviços de polícia judiciária, resultando em agilidade, economia de tempo e recursos públicos, fortalecendo a investigação policial”. Atualmente, há três Centrais Estaduais do Plantão Digital (duas em Belo Horizonte e uma em Montes Claros), que atendem 76 unidades policiais no interior.
Além de anunciar a previsão de implementação, ainda no primeiro semestre de 2025, da 4ª Central de Plantão Digital, o delegado regional de Juiz de Fora, Bruno Wink Dos Santos, comemora os resultados atingidos nos últimos 12 meses. “Finalizando o ano de 2024 com índices positivos, a Polícia Civil de Juiz de Fora informa que foram realizadas mais de 90 operações voltadas à repressão qualificada da criminalidade, culminando em número significativo de prisões e apreensões. Ainda no mês de dezembro, intensificamos o combate ao tráfico de drogas, desmantelando três importantes células de distribuição de drogas, a partir de prisões e apreensão de vasta quantidade de maconha, haxixe, drogas sintéticas e dinheiro.”
A instituição também faz estudo sobre o balanço do ano, o qual auxiliará na definição das estratégias para 2025. “A tendência é aumentar o alinhamento entre as investigações de homicídios e as diversas ações de combate ao tráfico, melhorando o fluxo de informações e potencializando a repressão na matéria, que é causa de diversos outros crimes.”
Tópicos: combate ao crime / crimes / plantão digital / segurança pública