Leão XIV é o primeiro papa agostiniano: ‘no único Cristo, somos um’

Especialista aponta expectativas para mandato do novo pontífice


Por Bernardo Marchiori

13/05/2025 às 06h00

Leão XIV é o primeiro papa agostiniano: 'no único Cristo, somos um'
(Foto: Reprodução / Vatican News)

Enquanto líder da Igreja Católica, cada papa tem sua linha de pensamento para seguir em seu mandato. Anunciado na última quinta-feira (8) no Vaticano, Leão XIV é o primeiro a seguir a doutrina agostiniana. O lema episcopal do novo pontífice, inclusive, é “In Illo uno unum“, palavras que Santo Agostinho pronunciou em sermão para explicar que, “embora nós cristãos sejamos muitos, no único Cristo somos um”.

Enquanto agostiniano, a expectativa é que Leão XIV renove o chamado à paz, do papa Francisco e do Concílio Vaticano II, estabelecendo com clareza que Cristo é o fundamento da fraternidade, como destaca o doutor em Filosofia pela Universidad de Navarra, professor da Faetec-RJ e pós-doutorando em Ciência da Religião na UFJF, Joathas Bello.

“Que ele permaneça acentuando a caridade pastoral, manifestando com força a necessidade da graça da conversão. Que siga anunciando a bondade da criação e a necessidade do zelo ecológico, acentuando a prioridade do cuidado da vida interior.” Além disso, Bello explica que o nome escolhido por Robert Prevost retoma ideais do antecessor homônimo.

“Leão XIII foi o primeiro papa que ‘dialogou’ com o pensamento moderno: com a democracia e as liberdades do liberalismo, com o problema social ou a questão operária, fundando a doutrina social da Igreja – de modo análogo a como Santo Agostinho dialogou com o pensamento filosófico antigo, sobretudo platônico. Leão XIII o fez com base no pensamento tomista, mas o importante é que tanto Santo Agostinho quanto São Tomás foram dois luminares da teologia cristã, que souberam associar a sabedoria humana ao Evangelho ou iluminar a inteligência dos problemas humanos com a luz da fé.”

Santo Agostinho e doutrina agostiniana

Santo Agostinho foi bispo, teólogo e filósofo, além de padre da Igreja do Ocidente. Segundo Joathas, Agostinho de Hipona, o “Doutor da Graça”, também foi um converso que havia tido uma vida mundana e viveu numa época em que o Império Romano ruía. Por isso, precisou responder às acusações dos pagãos, de que a culpa da queda de Roma era a “fraqueza” da caridade da nova fé.

“Para isso, ele respondeu com a obra Cidade de Deus, apologia do Cristianismo e primeira grande reflexão de teologia e filosofia da história: há dois amores que fundam duas cidades, a “Cidade dos Homens”, daqueles que amam a si mesmos a ponto de desprezar a Deus; e a “Cidade de Deus”, daqueles que amam a Deus a ponto de desprezarem a si mesmos. Só o amor de Deus poderia fundar a convivência amorosa e pacífica”, conta.

O pós-doutorando ainda ressalta que Agostinho enfrentou as principais heresias da época: o donatismo, rigorismo religioso que negava o perdão aos grandes pecadores; o maniqueísmo, dualismo religioso que atribuía o mal ao mundo material; e o pelagianismo, imanentismo religioso que acreditava que o próprio esforço humano poderia salvar.

“Ser agostiniano é, portanto, estar centrado no amor de Deus, confiar enormemente em sua misericórdia, na bondade da criação, porém ter bastante clareza dos limites humanos e do mal do pecado que constrói a sociedade de costas para Deus”, finaliza.

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