Fux afirma que desrespeito às decisões do STF configura crime de responsabilidade

Em discurso esperado na abertura da plenária, mininistro dirigiu duras críticas a Bolsonaro


Por Amanda Pupo e Daniel Weterman (Agência Estado)

08/09/2021 às 16h53- Atualizada 08/09/2021 às 21h19

Diante das ameaças feitas pelo presidente Jair Bolsonaro, que pregou desobediência ao Supremo Tribunal Federal (STF), o presidente da Corte, ministro Luiz Fux, afirmou nesta quarta-feira (8) que o desprezo às decisões judiciais por um chefe de Poder configura crime de responsabilidade, a ser analisado pelo Congresso Nacional.

Em discurso duro e esperado na abertura da sessão plenária, Fux dirigiu críticas contundentes à postura de Bolsonaro, afirmou que “ninguém fechará” a Corte e que a incitação à propagação de ódio contra o STF e ao descumprimento de decisões judiciais são práticas antidemocráticas, ilícitas e intoleráveis. “Estejamos atentos a esses falsos profetas do patriotismo, que ignoram que democracias verdadeiras não admitem que se coloque o povo contra o povo, ou o povo contra suas instituições”, afirmou Fux no primeiro pronunciamento após as manifestações de 7 de setembro.

No discurso, feito em nome de todos os ministros da Corte, Fux pediu que a população brasileira não “caia na tentação de narrativas fáceis e messiânicas que criam falsos inimigos da nação”. “O verdadeiro patriota não fecha os olhos para os problemas reais e urgentes do país”, disse o presidente da Corte.

Para apoiadores em São Paulo, Bolsonaro afirmou nesta terça (7) que não vai cumprir mais decisões do ministro Alexandre de Moraes, que é relator de inquéritos que apuram ataques à Corte e a atuação de milícias digitais e, portanto, responsável por decisões que miraram bolsonaristas investigados pelo STF. No discurso, em tom de ameaça, Bolsonaro declarou: “Ou esse ministro se enquadra ou ele pede para sair”.

“O STF também não tolerará ameaças a autoridade de suas decisões, se o desprezo as decisões judiciais ocorre por iniciativa do chefe de qualquer um dos poderes essa atitude além de representar um atentado a democracia configura crime de responsabilidade, a ser analisado pelo Congresso. Num ambiente político maduro, questionamentos as decisões judiciais devem ser realizados não através da desobediência, da desordem, do caos provocado, mas decerto pelos recursos das vias processuais”, disse.

Lira diz não haver espaço para ‘radicalismo’ e ‘excessos’

Sem citar o presidente Jair Bolsonaro, o presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), também se pronunciou nesta quarta-feira. Ele criticou o “radicalismo e excessos” e disse que não pode “mais admitir questionamentos” sobre a questão do voto impresso.
“Diante dos acontecimentos, quando abrimos as comemorações de 200 anos como Nação livre e independente, não vejo como possamos ter ainda mais espaço para radicalismo e excessos”, afirmou Lira.

“Conversarei com todos e todos os Poderes. É hora de dar um basta a essa escalada, em um infinito loop negativo, bravatas em redes sociais, vídeos e um eterno palanque deixaram de ser um elemento virtual e passaram a impactar o dia a dia do Brasil de verdade”, disse o presidente da Câmara.

Ele também criticou a insistência na defesa do voto impresso em 2022, proposta já rejeitada pela Câmara dos Deputados no mês passado. Mas, na sua fala, Lira não fez qualquer menção ao impeachment do presidente.

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