Bolsonaro anuncia reunião de Conselho e repete que manifestação é ‘ultimato’
Presidente fez discurso durante cerimônia na Esplanada dos Ministérios e disse ‘não querer ruptura’ com Poderes
O presidente Jair Bolsonaro anunciou nesta terça-feira (7) uma reunião do Conselho da República na quarta-feira (8), e afirmou que usará a fotografia das manifestações deste 7 de setembro para mostrar aos chefes dos demais Poderes “para onde nós todos devemos ir”. O discurso foi feito durante cerimônia na Esplanada dos Ministérios em Brasília.
Mantendo o tom de ofensas, Bolsonaro classificou a manifestação desta terça como um “ultimato” aos Poderes e um marco para o início de uma “nova história” no país. “Amanhã estarei no Conselho da República, juntamente com ministros, para nós, juntamente com o presidente da Câmara, do Senado e do Supremo Tribunal Federal, com essa fotografia de vocês, mostrar para onde nós todos devemos ir.”
O Conselho da República, citado por Bolsonaro, é dirigido pelo presidente da República e composto também pelo vice-presidente, os presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado, os líderes da maioria e da minoria nas duas Casas, o ministro da Justiça e seis cidadãos brasileiros com idade superior a 35 anos.
De acordo com a legislação, o Conselho da República se reunirá por convocação do presidente da República e suas audiências serão realizadas com o comparecimento da maioria dos conselheiros.
As assessorias dos presidentes da Câmara, do Senado e do STF ainda não informaram se haverá a reunião. Pela lei, o presidente do Supremo não integra o conselho, mas pode ser convidado para suas reuniões.
A manifestação de apoiadores do chefe do Planalto foi marcada por ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao Congresso. Na Esplanada, os apoiadores de Bolsonaro ostentavam faixas de ataques ao STF e ao Congresso Nacional. “Esse retrato que estamos tendo neste dia não é de mim, nem ninguém em cima desse carro de som. Esse retrato é de vocês. É um comunicado, é um ultimato para todos que estão lá na praça dos Três Poderes, inclusive eu, presidente da República, para onde devemos ir”, disse Bolsonaro.
O chefe do Planalto declarou que não quer uma “ruptura”, mas renovou o discurso de que a liberdade estaria em risco no Brasil. “Não queremos ruptura, não queremos brigar com Poder nenhum, mas não podemos admitir que uma pessoa turve a nossa democracia. Não podemos admitir que uma pessoa coloque em risco a nossa liberdade”, declarou. “Quem age fora dela (da Constituição) se enquadra ou pede para sair.”
Presidente Jair Bolsonaro chegou acompanhado da primeira dama, Michelle Bolsonaro, e de crianças (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
O presidente da República participou de cerimônia de hasteamento da bandeira na Esplanada dos Ministérios. Ele chegou ao local por volta de 10h, no Rolls-Royxe presidencial conduzido pelo tricampeão de Fórmula 1 na década de 1980, o ex-piloto Nelson Piquet. O presidente chegou para o evento em carro aberto, acompanhado da primeira-dama, Michelle, e de algumas crianças.
O veículo conduzido por Piquet é o Rolls-Royce Silver Wraith de 1952 mantido pelo Ministério da Defesa. O carismático carro presidencial é usado em ocasiões especiais, como posse de presidentes ou desfiles abertos. Ele também levou todos os presidentes para a posse desde Getúlio Vargas, que ordenou a compra do carro.
Manifestação
Apoiadores de Bolsonaro estiveram no local desde 9h, e dispersaram após o discurso. Eles tinham como bandeiras o fechamento do Supremo Tribunal Federal, do Congresso, e a “tomada do poder” por Bolsonaro.
Ao contrário do anunciado pela Polícia Militar do Distrito Federal, não houve um cordão de revista na chegada dos manifestantes ao local. Uma linha de policiais dispostos no acesso à área apenas assistiu passivamente à chegada de pessoas com quaisquer objetos.
Ao longo dos ministérios, muitas barracas e pessoas estavam portando varas e mastros de bandeiras. Vendedores ambulantes aproveitaram para acessar a área com seus carros. Até mesmo drones, cuja atuação seria limitada pelas autoridades nesta terça-feira, foram usados.
Somente no último trecho da Esplanada, já na altura do Ministério da Infraestrutura (no lado norte) e da Saúde (no lado sul) foram instalados detectores de metais – próximo de onde se esperava que o presidente Jair Bolsonaro discursasse no período da manhã.
A revista neste ponto gerou longas filas e muita aglomeração, sendo que quase a totalidade dos manifestantes não utiliza máscaras de proteção contra a Covid-19.
Com muitos cartazes, os manifestantes pedem o fim do que chamam de “ativismo judiciário” e a saída de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Alguns falavam também de intervenção federal no Supremo, pauta que não foi citada pelo presidente em seu discurso.