Tribuna 40 anos: conheƧa os leitores que sempre estiveram com o jornal
Segundo caderno da sĆ©rie especial de comemoraĆ§Ć£o da fundaĆ§Ć£o da Tribuna prestigia os variados tipos de leitores
Um jornal nĆ£o existe sem seus leitores. A partir da pauta, passando pela apuraĆ§Ć£o da notĆcia, atĆ© a reportagem final, o foco do jornalista Ć© dar voz Ć s mais diversas reivindicaƧƵes, suscitar debates e divulgar as informaƧƵes relevantes, de forma Ć©tica e imparcial, cobrando eficiĆŖncia do poder pĆŗblico.
Desde o dia 1Āŗ de setembro de 1981, quando foi publicada a primeira ediĆ§Ć£o impressa da Tribuna de Minas, o jornal sempre esteve compromissado com o leitor – sua maior fonte de motivaĆ§Ć£o e inspiraĆ§Ć£o – para contar, dia a dia, a histĆ³ria de Juiz de Fora e regiĆ£o. Depois de se firmar como mĆdia impressa ao longo dessas quatro dĆ©cadas e expandir seus horizontes para o ambiente digital nos anos 1990, a Tribuna chega em 2021 alcanƧando milhares de leitores diariamente em seu portal. O que representa um desafio cada vez maior para quem busca jornalismo de qualidade, alinhado Ć velocidade que o mundo virtual exige.
Com todas as revoluƧƵes tecnolĆ³gicas que surgiram nesses 40 anos de existĆŖncia, a relaĆ§Ć£o entre quem escreve, edita e quem lĆŖ mudou, mas tambĆ©m ganhou cada vez mais importĆ¢ncia e muitas formas de conexĆ£o. As cartas Ć mĆ£o foram dando lugar a e-mails e, mais recentemente, a comentĆ”rios postados nas pĆ”ginas do site ou nas redes sociais. O telefone continua sendo um importante meio de comunicaĆ§Ć£o entre os dois lados, porĆ©m, as ligaƧƵes foram cedendo espaƧo Ć s mensagens pelo WhatsApp, aplicativo que chegou para estreitar ainda mais esse laƧo. As visitas Ć sede da Tribuna para uma reclamaĆ§Ć£o ou sugestĆ£o olho a olho com o repĆ³rter foram ficando mais raras, no entanto, a sensaĆ§Ć£o Ć© que o imediatismo proporcionado pela internet contribuiu para uma aproximaĆ§Ć£o ainda maior entre aquele que provoca e quem produz a matĆ©ria.
O resultado dessa parceria pode ser conferido nas coberturas realizadas nas mais diversas Ć”reas, como polĆtica, economia, saĆŗde, educaĆ§Ć£o, seguranƧa pĆŗblica, cultura e esportes, sejam aquelas publicadas nas pĆ”ginas impressas ou no site. Por trĆ”s dos fatos, hĆ” verdadeiras histĆ³rias de vida, principalmente nos momentos mais marcantes desse longo percurso, que nasceu na Ć©poca da luta pela redemocratizaĆ§Ć£o do paĆs e chega Ć maturidade em meio Ć maior pandemia global.
O editor-geral da Tribuna, Paulo CĆ©sar Magella, acompanhou bem de perto toda a trajetĆ³ria do jornal e da sua relaĆ§Ć£o com os leitores. āNaquela Ć©poca (anos 1980), nĆ³s jĆ” tĆnhamos venda por telefone, e as reclamaƧƵes vinham diretamente dos assinantes.ā A tradicional sessĆ£o de cartas dos leitores tambĆ©m era bem procurada. āO jornal foi criado em um perĆodo crĆtico, de muita restriĆ§Ć£o polĆtica. E o Mello Reis (prefeito) sĆ³ foi reconhecido como grande administrador depois, o prestĆgio dele estava muito baixo. Quando ele padronizou toda a calƧada da Avenida Rio Branco, desagradou muita gente, porque havia lojas em diferentes nĆveis da via. (…) Os leitores sempre se manifestavamā, recorda.
āQuando entrei (em 1995), a redaĆ§Ć£o estava na transiĆ§Ć£o da mĆ”quina de escrever para aqueles computadores ainda antigos, os Gepetos, de processamento a oito bits. Era um tempo que parecia correr mais devagar. Dava para pensar melhor a produĆ§Ć£o e a reportagem do dia seguinte, parar para um cafĆ© no meio da tarde. Alguns leitores iam Ć redaĆ§Ć£o, conversavam, pediam matĆ©rias, outros mandavam cartas ou ligavam sugerindo pautas. A convivĆŖncia ainda era mais prĆ³xima, nĆ£o havia esta ligaĆ§Ć£o virtual, rĆ”pida e fugaz como hoje. No entanto, nĆ£o tĆnhamos tanto retorno assim do posicionamento do leitor sobre uma matĆ©ria apĆ³s sua publicaĆ§Ć£o. NĆ£o havia tanta facilidade para ouvir as pessoas onde quer que estivessemā, compara a jornalista Marise Baesso, que atuou por 25 anos no Grupo Solar, hoje Rede Tribuna de ComunicaĆ§Ć£o, passando pelos cargos de repĆ³rter, editora de Geral e editora de IntegraĆ§Ć£o, atĆ© 2019.
No final dos anos 1990, a comunicaĆ§Ć£o com o leitor ainda era incipiente por e-mail, sendo feita predominantemente por telefone, algumas cartas e poucas visitas, segundo Lilian Pace, que integrou a equipe a partir de 1997 e foi chefe de reportagem entre 2002 e 2018. āPara o jornalista profissional, o leitor Ć© rei, mas naquele momento era um rei distante, nĆ£o o rei onipresente de hoje. A internet, principalmente via redes sociais, transformou totalmente essa relaĆ§Ć£o.ā
Para a editora executiva de IntegraĆ§Ć£o da Tribuna, Luciane Faquini, a partir do trabalho mais intensivo com a internet e outras mĆdias sociais, as janelas para o mundo se multiplicaram. āEstamos muito mais conectados e em todos os lugares, e isso exigiu uma mudanƧa de postura diante do leitorā, avalia. A preocupaĆ§Ć£o com o receptor, muito presente nas apuraƧƵes junto Ć s instituiƧƵes civis e pĆŗblicas, ganhou outros contornos diante das novas possibilidades e do alcance por meio das vĆ”rias plataformas. āO leitor nos coloca nĆ£o apenas a demanda dele, mas faz crĆtica, elogia, denuncia, envia fotos, faz vĆdeo. EntĆ£o ele passou a nĆ£o sĆ³ se comunicar, como a fazer parte do nosso conteĆŗdo. As fotos saem no impresso e estĆ£o no site, assim como os vĆdeos. Nosso leitor estĆ” muito mais colaborativo, e o desafio do jornalista Ć© qualificar cada vez mais essa relaĆ§Ć£oā, completa Luciane, que estĆ” hĆ” mais de 25 anos no jornal.
Paulo CĆ©sar reforƧa que, com a atmosfera digital, o acesso Ć redaĆ§Ć£o passou a ser feito principalmente por meio do WhatsApp e das redes sociais. āO contato ficou mais interativo. Antes, as demandas nĆ£o tinham retorno imediato, dependiam da publicaĆ§Ć£o das matĆ©rias.ā Nesse sentido, o feed-back mais rĆ”pido e a interaĆ§Ć£o cada vez maior sĆ£o os principais estĆmulos. āConversamos o tempo todo com o leitor. Quando uma matĆ©ria Ć© publicada no site, logo surgem os primeiros comentĆ”rios, e podemos aperfeiƧoar o texto antes de publicĆ”-lo no impresso. A curadoria do leitor nos ajuda, nĆ£o tenho dĆŗvidaā, conclui o editor-geral.
Das cartas Ć s mensagens pelo WhatsApp
Na solenidade de inauguraĆ§Ć£o da Tribuna, em 1981, o fundador do jornal, Juracy Neves, fez questĆ£o de destacar o principal papel do novo veĆculo de comunicaĆ§Ć£o: āDar voz ao povo da regiĆ£o: ouvir, sentir e interpretar as suas mais legĆtimas reivindicaƧƵesā. A frase Ć© como uma bĆŗssola que guia os jornalistas nas apuraƧƵes diĆ”rias e foi eternizada no livro āO homem da planĆcie – vida, obra e ideias de Juracy Nevesā, escrito pelo editor-geral da Tribuna, Paulo CĆ©sar Magella.
O jornalista Ronaldo Dutra tambĆ©m esteve nos primĆ³rdios do jornal, sempre como editor, seja nas Ć”reas de economia, polĆtica, nacional ou internacional. O contato mais prĆ³ximo com o leitor acontecia quando cobria fĆ©rias na editoria de esporte ou como editor-geral. āOs DiĆ”rios Associados estavam aqui hĆ” 70 anos quando a Tribuna chegou. No comeƧo, houve uma certa resistĆŖncia de grande parte das pessoas em lidar com aquele jornal novo. Mas o DiĆ”rio Mercantil e o DiĆ”rio da Tarde fecharam dali a trĆŖs anos.āCom a Tribuna se tornando referĆŖncia na cidade, os telefonemas e as cartas foram se avolumando. āFalavam muito de buraco na rua, falta de Ć”gua, essas queixas do cidadĆ£o comum.ā
As demandas de 40 anos atrĆ”s permanecem atuais e, talvez por isso, a coluna Vida Urbana continue sendo uma das mais lidas, com problemas sendo relatados por leitores diariamente pelos diversos meios de comunicaĆ§Ć£o do jornal, e retornos por parte do poder pĆŗblico, que costuma se empenhar para a resoluĆ§Ć£o das questƵes divulgadas.
āA Vida Urbana sempre foi um canal fortĆssimo de ligaĆ§Ć£o e troca de informaƧƵes com o leitor, especialmente antes das redes sociais. O objetivo da prestaĆ§Ć£o de serviƧo quanto a problemas da vida da cidade sempre foi 100% alcanƧadoā, observa a ex-chefe de reportagem Lilian Pace. Ela acrescenta que a seĆ§Ć£o tambĆ©m permitiu a formaĆ§Ć£o de elos mais fortes com os leitores que, eventualmente, se tornam fontes para matĆ©rias e atĆ© reportagens mais aprofundadas.
A jornalista Marise Baesso destaca que na Tribuna foram feitas vĆ”rias rodas de conversas, levando leitores para a redaĆ§Ć£o e para dentro de projetos. Outra aproximaĆ§Ć£o aconteceu por meio da coluna de bairros, com uma pĆ”gina inteira aos sĆ”bados dedicada a escutar as demandas dos residentes de determinada Ć”rea. āE isso Ć© estar perto do leitor. OuvĆamos o morador mais antigo da comunidade, o que havia de diferente e de bom ali e, claro, denunciĆ”vamos tambĆ©m os problemas. Depois esse projeto se esgotou e vieram outros.ā
Entre os mais recentes, ela cita o āOutras ideiasā, vislumbrado e executado pelo jornalista Mauro Morais. āO que era o Outras ideias, se nĆ£o o fato de trazer pessoas, muitas vezes silenciadas, para o jornal em um processo de escuta fantĆ”stico. Enfim, a relaĆ§Ć£o do leitor com o jornal mudou, mas a essĆŖncia se mantĆ©m sempre, e a essĆŖncia Ć© o leitor.ā
Para Lilian, duas coisas importantes marcaram a transformaĆ§Ć£o do papel ao digital: āO leitor passou a pautar muito mais a redaĆ§Ć£o e, por outro lado, a redaĆ§Ć£o passou a saber mais sobre ele. Essa conversa mais frequente trouxe uma parceria ganha/ganha, com o leitor mais representado e a pauta mais variada e vibrante. Jornalismo sempre se fez na rua, gastando sola de sapato, e, embora a velha mĆ”xima ainda valha, a internet e as redes sociais se tornaram uma janela privilegiada para a praƧa pĆŗblica.ā
A editora executiva de IntegraĆ§Ć£o, Luciane Faquini, pontua que os comentĆ”rios feitos nas matĆ©rias, Instagram, Facebook e Twitter transmitem aos jornalistas nĆ£o sĆ³ conteĆŗdos e denĆŗncias, mas tambĆ©m ampliaƧƵes de abordagens e outros olhares. Por meio da plataforma Google Analytics ainda Ć© mensurado o comportamento do leitor no portal. āSĆ£o gerados relatĆ³rios diĆ”rios com o interesse de saber quais foram as pĆ”ginas mais visualizadas, qual notĆcia causou mais interesse, o que nossa audiĆŖncia estĆ” buscando mais. Com isso, indiretamente, o leitor estĆ” nos pautando diariamente e passamos a conhecĆŖ-lo.ā
Luciane pondera que todo cuidado do jornalista com a checagem dos dados e dos fatos torna-se cada vez mais imprescindĆvel. āHĆ” muita fake news e desinformaĆ§Ć£o nas mensagens que chegam atĆ© nĆ³s. Somos responsĆ”veis por fazer o filtro para produzir informaĆ§Ć£o com seriedade, que contribua para um processo de cidadania e formaĆ§Ć£o do leitor.ā A jornalista Lilian Pace observa que pauta nem sempre vira notĆcia. āEntre uma coisa e outra existe a velha e boa apuraĆ§Ć£o que Ć© o que garante informaĆ§Ć£o de qualidade. A sociedade da era digital quer tudo para ontem, ao alcance de um clique. O jornalismo profissional nĆ£o abre mĆ£o da checagem.ā
Canais de comunicaĆ§Ć£o
AlĆ©m de publicar notĆcias e conteĆŗdos na mĆdia impressa, em seu portal www.tribunademinas.com.br e nas principais redes sociais (Facebook, Instagram, Twitter e YouTube), desde fevereiro deste ano a Tribuna passou a fazer disparos diĆ”rios de links de notĆcias pelo aplicativo WhatsApp. A newsletter condensa as principais informaƧƵes jĆ” disponĆveis no portal e tambĆ©m pode ter ediƧƵes extras sobre fatos urgentes, alĆ©m de conteĆŗdos especiais, como vĆdeos da TMTV. O objetivo de mais essa iniciativa da Tribuna Ć© direcionar os leitores para informaƧƵes com credibilidade, principalmente nesses tempos de tanta disseminaĆ§Ć£o de fake news.
Confira:
Newsletter – O serviƧo gratuito pode ser solicitado enviando mensagem pelo WhatsApp para (32) 98439-3451. Ć importante que o usuĆ”rio registre o nĆŗmero em sua agenda de contatos do smartphone para evitar que as mensagens enviadas sejam tratadas como spam.
WhatsApp – JĆ” o nĆŗmero para sugerir pautas ou registrar denĆŗncias por WhatsApp Ć© (32) 99975-2627.
Telefone – A redaĆ§Ć£o tambĆ©m pode ser contatada pelo nĆŗmero (32) 3313-4440
E-mail – O e-mail de contato Ć© [email protected]
Cartas – O endereƧo Ć© Alameda PĆ”ssaros da PolĆ“nia 35, Bairro Estrela Sul, CEP: 36030-770 , Juiz de Fora (MG)
O leitor autor de incontƔveis artigos
O mĆ©dico e escritor Sagrado Lamir David completa 87 anos no dia 9 junho e perdeu as contas de quantos artigos jĆ” publicou na Tribuna ao longo das Ćŗltimas quatro dĆ©cadas. Ele garante ter fĆ“lego para continuar marcando presenƧa na coluna Tribuna Livre, destinada aos leitores, seja para dar sua opiniĆ£o sobre assuntos atuais ou para levar Ć reflexĆ£o sobre determinado tema. āEscrevo sobre tudo. Sou muito curioso. Jogo verde para colher maduro.ā
Sagrado figura entre os 18 integrantes da primeira turma da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), iniciada em 1953 e da qual tambĆ©m fez parte o fundador do jornal, Juracy Neves. āChamamos de turma dos 18 do Forte de Copacabanaā, diz ele, aos risos.
O mĆ©dico, que se especializou como alergista e imunologista, recorda que o paraninfo da classe foi o entĆ£o presidente Juscelino Kubitschek. De lĆ” atĆ© a aposentadoria como professor de farmacologia da UFJF, foram muitas histĆ³rias e liƧƵes de vida. Algumas delas Sagrado fez questĆ£o de registrar, mesmo as mais tristes: Dos seus cinco filhos, todos os trĆŖs homens jĆ” faleceram. As primeiras duas perdas, ele transformou em versos.
A poesia ajudou a amenizar a dor do avĆ“ de seis netos. āTrabalhei o emocional do modo mais curativo possĆvel, com amor prĆ³prio.ā
O mĆ©dico lembra que quando comeƧou a escrever, antes do surgimento da Tribuna, mostrou dois artigos para um colega. āEle achou muito bons, mas disse que eu nĆ£o deveria publicĆ”-los, porque, para ele, o que a gente escreve deve ser guardado para nĆ³s mesmos. Engoli aquilo e publiqueiā, dispara o autor de cerca de dez livros e incontĆ”veis artigos divulgados nĆ£o sĆ³ na Tribuna, mas em jornais de circulaĆ§Ć£o nacional, como āO Globoā e āJornal do Brasilā, e em outros mineiros, como o āEstado de Minasā e āO Tempoā.
Do amigo Fritz Utzeri, jornalista e cronista falecido em 2013, o mĆ©dico e escritor guardou uma frase: āEle disse que meus artigos sĆ£o atemporais: quanto mais velhos, mais atuais ficam.ā Com essa despreocupaĆ§Ć£o – a do tempo -, ele revela que tem trĆŖs livros inĆ©ditos para publicar quando a pandemia permitir. Enquanto isso, guarda com carinho aqueles jĆ” impressos, desde o primeiro, āPalavra e AĆ§Ć£o – crĆ“nicas e artigosā, de 1983. Em apenas um dos lanƧamentos, o escritor vendeu 400 livros, um deles para Itamar Franco. āEra meu amigo pessoal, morĆ”vamos no mesmo prĆ©dio.ā
Com muito carinho e orgulho, Sagrado cita outros nomes que, como Itamar, prefaciaram ou fizeram a orelha de seus livros, alguns deles falecidos nos Ćŗltimos anos, como o famoso cirurgiĆ£o plĆ”stico Ivo Pitanguy e o colega da classe de medicina, o psiquiatra JosĆ© Carlos de Castro Barbosa, orador da turma e autor do livro āCriaĆ§Ć£o da Faculdade de Medicina de Juiz de Foraā.
AliĆ”s, o caminho atĆ© a faculdade, ele recorda, teve muito apoio de sua famĆlia. āNasci em Bicas e, perto dos 10 anos, meu pai resolveu mudar-se com minha mĆ£e para Juiz de Fora para que eu continuasse estudando, porque lĆ” sĆ³ tinha atĆ© o primĆ”rio. Fiz o secundĆ”rio, o ginĆ”sio e cientĆfico no ColĆ©gio SĆ£o JosĆ©. Depois, quis estudar medicina, e meu pai financiou para mim no Rio de Janeiro. Mas, em menos de um ano, minha mĆ£e ligou e disse para eu voltar, porque havia aberto a faculdade aqui. Dos cem que tentaram, sĆ³ passamos 18.ā
A escrita para Sagrado Ć© como um exercĆcio para manter a mente sĆ£. āAprendi a nĆ£o me precipitar.ā Sobre a Tribuna, ele brinca: āExcelente! SenĆ£o, nĆ£o estaria escrevendo nela!ā Mas logo ele emenda em tom mais sĆ©rio: āA Tribuna faz parte da cultura juiz-forana, e Juiz de Fora Ć© classificada entre as principais cidades metropolitanas culturais do Brasil.ā Sobre a mĆdia escolhida, ele assegura: āTenho computador e sei mexer bem. Escolho o que eu quero e leio a Tribuna on-line. Gosto muito do Paulo CĆ©sar Magella, ele escreve sobre assuntos variados.ā
Antes de terminar a entrevista, que rendeu uma boa conversa sobre antepassados sĆrios e libaneses, Sagrado, que hoje vive em uma das casas de repouso de uma de suas filhas, no Centro, deixa mais um aprendizado: āRecordaƧƵes sĆ£o lembranƧas, nĆ£o sĆ£o saudosismo.ā
O jornal impresso como memĆ³ria
Aos 95 anos, completados no Ćŗltimo dia 11, o professor e reitor aposentado da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), JosĆ© Passini, lembra como se tornou assinante da Tribuna bem no comeƧo da histĆ³ria do jornal. āO professor Cruz era meu diretor no Instituto de CiĆŖncias Humanas e Letras (ICHL).
Ele nos ofereceu a assinatura e, desde aquela Ć©poca, continuo acompanhando as notĆcias da cidade pela Tribunaā, conta, se referindo a Afonso Ribeiro da Cruz, amigo e ex-sĆ³cio de Juracy Neves na Tribuna e na grĆ”fica Esdeva.
Com humor, Passini diz que, atualmente, a sua esposa Norma, 78, Ć© quem lĆŖ todo o jornal e repassa a ele as informaƧƵes mais relevantes. Entre as Ćŗltimas novidades, a mulher revela gostar de ler a coluna Esplanada, que fala sobre os bastidores da polĆtica nacional. āEu acho a Tribuna muito importante para Juiz de Fora e me honro muito por ter um jornal diĆ”rio na cidade, com uma boa tiragemā, avalia o reitor aposentado.
Como um dos palestrantes espĆritas mais conhecidos no Brasil, Passini jĆ” viajou por muitos estados e tambĆ©m para o exterior. Ligado ao Grupo de Estudos EspĆritas Garcia, com sede no Alto dos Passos, Zona Sul, ele nĆ£o deixou de trabalhar, mesmo com a pandemia, e usa a tecnologia para continuar fazendo palestras virtuais da casa onde mora em um condomĆnio na Cidade Alta.
O casal estĆ” junto desde 1968 e tem cinco filhos. āSempre acompanhamos a evoluĆ§Ć£o do jornal e de Juiz de Fora nesses tantos anosā, enfatiza Passini. Como um dos mais antigos leitores da Tribuna, ele se considera conservador, jĆ” que continua com o hĆ”bito de ler o jornal impresso, embora jĆ” use o meio digital para suas palestras. āO jornal escrito fica como memĆ³ria, podemos guardar os recortes. Quando vemos alguma coisa por via eletrĆ“nica, aquilo se perde.ā O palestrante ainda diz tomar cuidado com as fake news, atualmente muito presentes nos meios digitais. āPor isso, prefiro um instrumento confiĆ”vel.ā
TambĆ©m presidente da AssociaĆ§Ć£o Cultural Brasil-Estados Unidos (Acbeu), Passini admite, com aparente timidez, ter tido parte de sua trajetĆ³ria acadĆŖmica e religiosa retratada nas pĆ”ginas da Tribuna. āSou discreto, mas apareci sim, algumas vezes.ā Da sua histĆ³ria, ele considera como momento marcante a sua nomeaĆ§Ć£o para reitor da UFJF (1990-1994), em BrasĆlia. āO Itamar Franco era o vice-presidente da RepĆŗblica e foi atĆ© o MinistĆ©rio da EducaĆ§Ć£o assistir minha posse e me prestigiar. Depois que o Collor renunciou (1992), o Itamar, uma vez, foi Ć Reitoria e me pediu a sala. Me senti muito honrado por ele despachar de lĆ” como presidente da RepĆŗblica. Ainda tiramos uma foto com minha filha caƧula.ā
A mais recente publicaĆ§Ć£o sobre Passini na Tribuna aconteceu no dia 9 de abril deste ano. A matĆ©ria fala sobre a sua biografia, āDo zero ao infinito – A trajetĆ³ria de um determinadoā (119 pĆ”ginas, Editar), escrita pela delegada da PolĆcia Civil aposentada e jornalista FlĆ”via Halfeld. O pai dela, Kleber Halfeld, falecido em 2015, era amigo de longa data de Passini.
Do papel ao digital, aos 80 anos
TambĆ©m assinante hĆ” mais de trĆŖs dĆ©cadas, o engenheiro civil Marcio Nalon de QueirĆ³s, 80 anos, conta jĆ” ter se habituado a ler a Tribuna pelo site. Mesmo recebendo o jornal impresso em sua casa na regiĆ£o central, onde mora com uma irmĆ£ e um irmĆ£o, tambĆ©m leitores, ele tem preferido a plataforma digital, na qual novas notĆcias sĆ£o postadas e atualizadas durante todo o dia. āA Tribuna oferece informaƧƵes locais que sĆ£o muito Ćŗteis.ā
A leitura no impresso nĆ£o parou, mas tem se resumido Ć primeira pĆ”gina e ao obituĆ”rio, sobretudo nesses tempos de pandemia, de muitas perdas. āTemos tido pouco contato com as pessoas neste momento.ā Embora use a internet para obter informaƧƵes, ele afirma ter cuidado com as fontes e busca aquelas que considera confiĆ”veis, como a Tribuna. āTemos que selecionar, porque hĆ” muitas informaƧƵes falsas circulando.ā
Formado em 1965 pela UFJF, Nalon trabalhou em outras cidades, inclusive no Departamento de EdificaƧƵes e Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DER-MG). O retorno a Juiz de Fora aconteceu hĆ” mais de 20 anos. Devido Ć sua Ć”rea de interesse, ele acompanha, principalmente, as notĆcias publicadas pela Tribuna sobre as rodovias da regiĆ£o e tambĆ©m a seĆ§Ć£o de esportes. āĆ um jornal importante para a cidade, que mostra as pessoas daqui, o esporte local. JĆ” acompanhei muito o futebol e o vĆ“lei, que se destacou por um bom tempo.ā
Ele lembra que o municĆpio foi pioneiro em muitas coisas, como na primeira usina hidrelĆ©trica do paĆs (Usina de Marmelos- 1889). āA rodovia Juiz de Fora-Rio tambĆ©m foi uma das primeiras a ser asfaltadas. A cidade tem pessoas e fatos muito importantes, e o noticiĆ”rio da Tribuna contribui para mostrar isso. Juracy (Neves) era um grande empreendedor e muito dinĆ¢mico.ā
Pedro Nava marca relaĆ§Ć£o de leitora com a Tribuna
O prazer de folhear as pĆ”ginas da Tribuna faz parte, hĆ” 40 anos, da rotina da professora aposentada da UFJF e doutora em Letras, Ilma de Castro Barros e Salgado, 71 anos. Acostumada a ler, no inĆcio dos anos 80, os antigos jornais impressos que circulavam pela cidade – DiĆ”rio Mercantil e DiĆ”rio da Tarde, do grupo DiĆ”rios Associados -, ela logo se tornou assinante do veĆculo de comunicaĆ§Ć£o ānovo nas ideias e objetivosā. Os laƧos entre a leitora e a redaĆ§Ć£o foram ficando mais estreitos a cada reportagem sobre o escritor juiz-forano Pedro Nava, de cuja obra Ilma Ć© pesquisadora.
A variedade de notĆcias da Tribuna em relaĆ§Ć£o Ć cidade, aliada aos destaques nacionais e internacionais, conquistou Ilma ao longo das dĆ©cadas. Mas o Caderno Dois, com as mais diversas reportagens de cultura, Ć© a seĆ§Ć£o que realmente enche seus olhos. De leitora assĆdua, a professora passou a sugerir pautas e tambĆ©m a dar entrevistas, mantendo um constante contato com a editora Isabel Pequeno e, mais recentemente, com o jornalista Mauro Morais.
āEu ia Ć Tribuna desde quando era na Rua EspĆrito Santo e tambĆ©m jĆ” fui ao novo endereƧo (Estrela Sul). Sempre fui recebida com muito entusiasmo. Eu e a professora Vanda Arantes do Vale somos estudiosas de Pedro Nava, e, em todos os nossos trabalhos, a Tribuna sempre esteve presente na divulgaĆ§Ć£o. Uma vez, uma pesquisadora do poeta, de Londrina (PR), escreveu sobre ele e me disse que gostaria que saĆsse publicado no jornal da cidade dele. Repassei Ć Tribuna, que publicou o texto nĆ£o sĆ³ no impresso, mas tambĆ©m na Ćntegra no siteā, relembra com alegria a docente de portuguĆŖs, inglĆŖs e italiano.
Uma das reportagens que mais marcou a leitora foi sobre a comemoraĆ§Ć£o do centenĆ”rio de nascimento de Pedro Nava, em 05 de junho de 2003. āFoi uma grande cobertura, havia atĆ© um tipo de quebra-cabeƧa (desmontĆ”vel) em que se via, de um lado, a imagem do memorialista; e do outro, pinturas de diversos artistas da cidade acrescidas de recortes de alguns dos livros naveanos.ā Mais recentemente, ela acompanhou pela Tribuna a notĆcia, divulgada no dia 17 de fevereiro, sobre a data de 13 de maio, guardada, a partir deste ano, para homenagear os poetas e a poesia. O dia foi escolhido porque registra tanto o nascimento do poeta e escritor Murilo Mendes (em 1901), como a morte do memorialista, ilustrador e mĆ©dico Pedro Nava (em 1984).
Acompanhando as evoluƧƵes tecnolĆ³gicas pelas quais passaram o mundo do jornalismo, Ilma conta que costuma acessar o site da Tribuna, em mĆ©dia, trĆŖs vezes por semana. āContinuo como leitora do jornal impresso, Ć© uma forma de sentir a redaĆ§Ć£o antiga sempre presente. SĆ³ tenho a elogiar e agradecer esse trabalho, que comeƧou com o doutor Juracy (Neves) e continua com a famĆlia dele, e tambĆ©m a todos os jornalistas. Percebemos como essa equipe se esforƧa para dar a notĆcia clara e correta, com cuidado linguĆstico e gramatical.ā
Mesmo quando passa temporadas descansando em sua granja no Filgueiras, Zona Nordeste – local preferido por ela, sobretudo diante da Covid-19 -, a professora aposentada da UFJF encontra um tempinho para buscar seus jornais que se acumularam na portaria do prĆ©dio onde mora no Centro. āAcesso o site de vez em quando, para saber o que estĆ” acontecendo, mas gosto mesmo Ć© de folhear.ā Mesmo assim, ela acompanhou intimamente a evoluĆ§Ć£o do papel ao digital, jĆ” que os comentĆ”rios sobre as matĆ©rias que eram enviados Ć mĆ£o ou por e-mail passaram a ser feitos dentro dos prĆ³prios espaƧos no site. āMinha ligaĆ§Ć£o com a Tribuna Ć© muito forte.ā
AbrangĆŖncia
Com a experiĆŖncia em escolas pĆŗblicas de quem foi uma das professoras fundadoras da Polivalente do Teixeiras, Ilma faz questĆ£o de ressaltar que a Tribuna nĆ£o Ć© lida apenas por pessoas mais letradas e observa sobre sua abrangĆŖncia em diferentes nĆveis sociais: āUma vizinha muito minha amiga aqui em Filgueiras, a Eneida Marques de Oliveira, de 61 anos, Ć© domĆ©stica, sĆ³ cursou o ensino fundamental bĆ”sico (antigo primĆ”rio) e todos os dias tem acesso ao noticiĆ”rio on-line do jornal. Outra amante da Tribuna.ā
Apesar de ainda gostar de segurar o papel, a professora considera importantĆssima a transiĆ§Ć£o da Tribuna para as plataformas digitais. āDiante das mudanƧas tecnolĆ³gicas, o jornal sempre veio se adequando ao cotidiano. Tenho muitos amigos que moram fora da cidade e do Brasil e que acompanham diariamente, pelo site da Tribuna de Minas, tudo o que estĆ” se passando em Juiz de Fora.ā Ela pondera que essa adaptaĆ§Ć£o do jornalismo Ć© necessĆ”ria, pois ao longo das Ćŗltimas dĆ©cadas houve uma transformaĆ§Ć£o cultural e de hĆ”bitos. āO pessoal memorialista (ligado ao impresso) estĆ” diminuindo muito. Ć uma geraĆ§Ć£o de leitores que estĆ” acabandoā, lamenta.
āParafraseando Pedro Nava, sou juiz-forana daquelas que dizem: graƧas a Deus. Tenho muita alegria por continuar sendo assinante da Tribuna e tambĆ©m leitora do site.ā Em 4 de junho de 2017, ela estampou a capa do Caderno Dois com a matĆ©ria sobre o lanƧamento de seu sĆ©timo livro, āJuiz de Fora apresentada por Pedro Navaā, publicado pela Editar, por meio da Lei Municipal de Incentivo Ć Cultura Murilo Mendes, da Funalfa. A professora conclui que o jornal tem o cuidado de ātornar viva a obra de ilustres juiz-foranos, dentre eles o mĆ©dico e memorialista, Pedro Navaā.
Caminho inverso, sem abandonar a tecnologia
Ao longo desses 40 anos, a Tribuna veio conquistando novos leitores de vĆ”rias geraƧƵes, nas mais diversas plataformas disponĆveis para circulaĆ§Ć£o das notĆcias. O bacharel em direito RogĆ©rio Alves da Silva, 36 anos, teve seu primeiro acesso ao jornal por meio do Instagram e, em marƧo deste ano, tornou-se assinante do impresso. Apesar do aparente caminho inverso Ć evoluĆ§Ć£o das mĆdias, ele, entretanto, nĆ£o abriu mĆ£o da tecnologia, jĆ” que a assinatura foi feita de forma simples, por meio do WhatsApp. āOptei por assinar para ter contato com o jornal por inteiro. Gosto bastante da diversidade de conteĆŗdos, alĆ©m de ficar informado sobre as notĆcias da cidade. TambĆ©m leio muito as colunas, como a do Thiago Almeida (Fiel da BalanƧa), que foi meu professor de processo penal.ā
Natural de Conselheiro Pena (MG), no Vale do Rio Doce, prĆ³ximo a Governador Valadares, RogĆ©rio chegou a Juiz de Fora hĆ” cerca de sete anos e, atualmente, mora na Zona Sul com a esposa e um filho de 3 anos. āĆ uma cidade estruturada e tranquila para se viver.ā Ele acredita que a busca diĆ”ria por informaƧƵes pode ajudĆ”-lo nos concursos pĆŗblicos. āEssa leitura ativa Ć© muito importante, para saber transmitir depois e escrever melhor, alĆ©m de ser um meio de se atualizar quanto Ć escrita. O valor do jornal Ć© indiscutĆvel.ā
RogĆ©rio lembra que, ao se estabilizar no municĆpio, logo procurou saber nas bancas qual era āo jornal da cidadeā. Embora no comeƧo se informasse por meio do Instagram e dos cliques, ele preferiu o papel ao digital tambĆ©m para escapar um pouco das redes sociais – que ele considera consumirem muito tempo entre uma coisa e outra – e para evitar as fake news difundidas no mundo virtual.
āTomo muito cuidado e, por causa dos estudos, tive que abdicar do excesso das redes sociais. Acho que as fake news jĆ” sĆ£o feitas para estimular as pessoas a passarem aquele conteĆŗdo para frente. Quando nos envolvemos naquela emoĆ§Ć£o, nem pensamos sobre aquilo direito. Acho que nĆ³s brasileiros nĆ£o estĆ”vamos preparados para receber essa avalanche de informaƧƵes que os meios informĆ”ticos trazem, e estamos muito atrasados em termos de legislaĆ§Ć£o. Muitas pessoas acabam nem se questionando se aquilo que leu Ć© verdadeiro. Por isso, busco veĆculos com credibilidade, como a Tribuna. Sei que por trĆ”s hĆ” profissionais envolvidos, que sabem da importĆ¢ncia das informaƧƵes.ā
Com a pandemia, o leitor tambĆ©m viu na Tribuna um fĆ”cil canal de comunicaĆ§Ć£o para denĆŗncias e reivindicaƧƵes, encaminhando sugestĆ£o Ć redaĆ§Ć£o pelo direct do Instagram. āFalei a respeito de aglomeraƧƵes. Depois, com a onda roxa (fase mais restritiva do programa estadual Minas Consciente), a situaĆ§Ć£o melhorou.ā Ele considera os canais de comunicaĆ§Ć£o na era digital muito relevantes para qualquer empresa e cita como exemplo de boa ferramenta o prĆ³prio aplicativo WhatsApp . āEu me desliguei muito de fazer ligaƧƵes. HĆ” muita facilidade nas mensagens, porque a pessoa visualiza e responde quando pode, Ć© menos invasivo.ā
Do impresso herdado da avĆ³ Ć s redes sociais
Apesar da pouca idade, o estudante de jornalismo Pietro Matheus Carneiro Gomes, 22 anos, tambĆ©m confessa sua preferĆŖncia pelo jornal impresso, hĆ”bito que ele herdou da avĆ³, quando ainda era crianƧa. Mas ele nĆ£o parou por aĆ e tambĆ©m embarcou nas vastas possibilidades oferecidas pelo veĆculo de comunicaĆ§Ć£o. āAcompanho alguns vĆdeos no YouTube, acho muito legal as produƧƵes de conteĆŗdo. A Tribuna vem evoluindo bem com as mudanƧas do mundo nesses Ćŗltimos anos.ā
Da histĆ³ria familiar permeada pelo jornal, Pietro traz boas recordaƧƵes. āMeu acesso Ć Tribuna comeƧou quando eu era mais novo. Eu ia para a casa da minha vĆ³, e ela sempre foi assinante. Nos almoƧos de famĆlia ou em qualquer outra ocasiĆ£o, sempre me interessava em ler ou passar o olho, mesmo pequeno. JĆ” brincava com jornal e queria sempre mexer com a Tribuna. Sempre preferi pegar mais no papel a ler na tela de um computador ou celular.ā
Com o passar dos anos, no entanto, surgiu a atraĆ§Ć£o pelas redes sociais da Tribuna. āComecei a seguir para acompanhar as notĆcias no Instagram ou Facebook. A Ć”rea que sempre me interessou em Juiz de fora foi a de eventos. Eu gostava de ver o que ia acontecer na cidade e as pessoas. Minha vĆ³ sempre mostrava alguĆ©m conhecido que aparecia nessa parte ou na coluna do CĆ©sar Romero, e eu achava chique .ā
Para o jovem que pretende seguir a profissĆ£o, Ć© muito importante ātermos um jornal tĆ£o bem consolidado e bem trabalhado, de porte grande, para nossa cidade se manter informada e para termos as informaƧƵes da regiĆ£o de forma simples, rĆ”pida e direta, como a Tribuna fez e faz tĆ£o bem hĆ” tantos anosā. Na opiniĆ£o dele, āJuiz de Fora tem que estar muito feliz e satisfeita por ter a Tribuna aqui, porque muitas cidades nĆ£o tĆŖm esse meio de comunicaĆ§Ć£o.ā
Carta guardada a sete chaves
Em tempos de manuscritos cada vez mais raros, receber uma carta com uma bela e detalhada sugestĆ£o de pauta surpreendeu os prĆ³prios jornalistas da Tribuna em 2011. HĆ” dez anos, a tecnologia jĆ” havia dominado boa parte da comunicaĆ§Ć£o com os leitores, e aquele papel tinha ainda uma importĆ¢ncia a mais: o remetente era Clodesmidt Riani, advogado, ex-deputado estadual, considerado um dos juiz-foranos mais influentes na polĆtica do sĆ©culo XX, com currĆculo de sindicalista reconhecido internacionalmente. Ele completou um sĆ©culo de vida no Ćŗltimo dia 15 de outubro, pouco depois de vencer a batalha contra a Covid-19.
A carta tambĆ©m tinha destinatĆ”rio: o repĆ³rter Eduardo Valente, hoje editor e coordenador de Internet da Tribuna. āPublicamos uma matĆ©ria no jornal mostrando que 1.200 crianƧas aguardavam vagas nas creches pĆŗblicas, e o drama de pais e mĆ£es. Depois dessa reportagem, o Riani nos mandou essa carta dizendo que ele havia doado para o MunicĆpio um terreno em Filgueiras e que havia a promessa de construĆ§Ć£o de uma creche no bairro. Fizemos uma segunda matĆ©ria, revelando a demanda das creches na Zona Nordeste.ā
AlĆ©m da atenĆ§Ć£o em torno da figura histĆ³rica de Riani e da relevĆ¢ncia do assunto tratado, Valente revela o motivo de ter guardado o manuscrito em seu arquivo por uma dĆ©cada. āEm 2011 jĆ” era um fato muito raro a redaĆ§Ć£o receber carta. RecebĆamos algumas com comentĆ”rios de matĆ©rias, coisas mais gerais. Essa era direcionada a um repĆ³rter, comentando uma matĆ©ria publicada e sugerindo outra.ā
CrĆticas e sugestƵes
O interesse do leitor Ć© o que continua a norter as pautas da redaĆ§Ć£o. No entanto, as sugestƵes mais frequentes surgem pelas redes sociais e pelos comentĆ”rios postados nas prĆ³prias matĆ©rias. A editora executiva de IntegraĆ§Ć£o da Tribuna, Luciane Faquini, enfatiza que pelo Google Analytics tambĆ©m Ć© possĆvel medir os assuntos mais desejados e saber quais foram os mais lidos. āTivemos recordes de acesso nas eleiƧƵes municipais do ano passado e em alguns momentos da cobertura da pandemia, como, por exemplo, quando a Prefeitura anunciou, pela primeira vez, as medidas restritivas de fechamento do comĆ©rcio.ā
Marise Baesso, ex-editora da Tribuna, professora e doutora em ComunicaĆ§Ć£o pela Universidade Federal Fluminense (UFF), observa que o jornal tambĆ©m precisa levar atĆ© o leitor algo inesperado. āA relaĆ§Ć£o vai sendo construĆda tambĆ©m com a credibilidade dos nomes da redaĆ§Ć£o e, assim, cria-se uma relaĆ§Ć£o de confianƧa, mesmo que o rosto do jornalista nĆ£o seja tĆ£o conhecido, como ocorre na TV ou com a voz, no rĆ”dio. E a Tribuna tem e sempre teve uma equipe altamente qualificada que sabe ouvir, mas tambĆ©m surpreender o leitor, com jornalistas da velha guarda e tambĆ©m com jovens, que falam de diferentes maneiras.ā
A especialista acredita que se o leitor antes era mais passivo, talvez fosse por falta de uma tecnologia que permitisse sua maior atuaĆ§Ć£o. āIndependentemente de ser um mundo mais digital do que antes, vai ter sempre leitor para o jornalismo feito com profundidade, com seriedade, respeito, apuraĆ§Ć£o e checagem. Hoje temos as chamadas reportagens long form nos sites, nĆ£o existem mais veĆculos de plataformas Ćŗnicas. EntĆ£o, a Tribuna tambĆ©m foi crescendo para atender o leitor, criando vĆdeos, aumentando a interatividade.ā
De JF para o mundo
Com a comunicaĆ§Ć£o globalizada, a Tribuna conquistou leitores nĆ£o sĆ³ de Juiz de Fora e regiĆ£o, mas de vĆ”rias partes do Brasil e do mundo, ampliando tambĆ©m seu rol de fontes. āLembro de uma vez que havia uma juiz-forana na FranƧa quando houve o atentado ao jornal francĆŖs Charlie Hebdo, em 2015. E ela nos contou pelas redes sociais como estava a situaĆ§Ć£o lĆ” naquele momento, mandou fotos e deu suas impressƵes para os juiz-foranos com o olhar de uma juiz-forana. E este passa a ser o diferencial do jornal. Falar de maneira Ćŗnica e micro para o seu leitor, mesmo estando em um universo tĆ£o macroā, destaca a ex-editora da Tribuna, Marise Baesso.
Antes de ganhar a atenĆ§Ć£o de leitores de outras regiƵes do paĆs e atĆ© de fora dele, entretanto, a Tribuna passou por um perĆodo de transformaĆ§Ć£o, firmando-se como referĆŖncia em informaĆ§Ć£o de qualidade para vĆ”rias cidades do entorno, na Zona da Mata e no Campo das Vertentes. āA partir de 2011, quando o site da Tribuna deixou de ser apenas uma reproduĆ§Ć£o do jornal impresso e se tornou um portal de notĆcias com atualizaĆ§Ć£o em tempo real, tivemos a possibilidade de ampliar a Ć”rea de cobertura e dar mais espaƧo para as outras cidades da regiĆ£o. Essa era uma demanda dos leitores dos municĆpios vizinhosā, conta Guilherme ArĆŖas, que fez parte da equipe de jornalismo on-line como repĆ³rter e editor adjunto entre 2009 e 2018.
No topo das cem cidades que mais acessam o portal da Tribuna, entretanto, nĆ£o estĆ£o apenas municĆpios prĆ³ximos, como UbĆ”, Cataguases, Santos Dumont, Leopoldina, MuriaĆ© e Barbacena, mas tambĆ©m a capital Belo Horizonte, Betim, na regiĆ£o Metropolitana, Rio de Janeiro, BrasĆlia e SĆ£o Paulo. As cidades fluminenses de Cabo Frio, TrĆŖs Rios e PetrĆ³polis, alĆ©m Curitiba (PR) e UberlĆ¢ndia, no TriĆ¢ngulo Mineiro, tambĆ©m aparecem na listagem, que ainda inclui capitais de todas as regiƵes do paĆs.
āĆ muito comum observarmos, quando fazemos matĆ©rias de cidades pequenas da regiĆ£o, que elas ficam entre as mais lidas do site. Estamos nos aproximando de um leitor que tem carĆŖncia de um veĆculo de imprensa para cobrir os principais fatos e promover debates de uma forma mais profissionalā, aponta a editora de IntegraĆ§Ć£o, Luciane Faquini.
O outro lado
As novas ferramentas digitais permitem, no entanto, que os leitores faƧam comentĆ”rios indelicados, que podem resultar atĆ© em crimes de injĆŗria, calĆŗnia e difamaĆ§Ć£o contra personagens que estĆ£o nas matĆ©rias ou contra os prĆ³prios jornalistas. āIsso Ć© desnecessĆ”rio e mostra, algumas vezes, a falta de maturidade e de espĆrito democrĆ”tico. Mas sempre defendi que estas opiniƵes estivessem aparentes, pois os debates ao final das matĆ©rias sĆ£o um fĆ³rum abertoā, acredita Marise Baesso.
A editora executiva Luciane Faquini afirma que a Tribuna sempre primou por deixar os comentĆ”rios abertos nas pĆ”ginas do site, mas os casos que contĆŖm ofensas graves nĆ£o sĆ£o tolerados. JĆ” as crĆticas e sugestƵes, sempre sĆ£o bem-vindas. āNo inĆcio, gerou muito estranhamento e desconforto, mas receber a crĆtica Ć© importante, por isso ter esse espaƧo aberto. Nosso papel como jornalista Ć© fazer o filtro.ā
Na visĆ£o da professora Marise, hĆ” um movimento de descredenciar o jornalismo por parte daqueles que tentam espalhar informaƧƵes falsas, baseadas mais em opiniĆ£o do que em informaĆ§Ć£o apurada e cientĆfica. Diante disso, segundo ela, o bom jornalismo precisa estar mais perto do pĆŗblico, principalmente com o avanƧo tecnolĆ³gico acelerado.
Luciane ressalta que, como veĆculo de comunicaĆ§Ć£o, a Tribuna tambĆ©m tem outras responsabilidades, alĆ©m da de agradar o receptor, como acompanhar o que acontece de mais importante na economia e polĆtica da cidade e fiscalizar o poder pĆŗblico, mostrando, por exemplo, o que a Prefeitura e a CĆ¢mara estĆ£o fazendo ou deixando de fazer em prol do bem comum. āCom isso, o leitor tambĆ©m vai se habituando a ter um outro olhar, uma visĆ£o mais crĆtica da realidade.ā
Um compromisso com as informaƧƵes precisas estĆ” na coluna Erramos, publicada no impresso ou abaixo de matĆ©rias no site, explicando alguma correĆ§Ć£o realizada no conteĆŗdo. āĆ mais uma forma de respeito com o leitor e compromisso com a verdadeā, constata a editora executiva de IntegraĆ§Ć£o. āA redaĆ§Ć£o do futuro Ć© essa: receber de forma mais colaborativa o leitor e trazĆŖ-lo para dentro do jornal, construindo em conjunto a notĆcia.ā
Expediente:
Juracy Neves: Fundador
MƔrcia Neves e Suzana Neves: Diretoria Geral e Comercial
Marcos Neves: Diretoria de EdiĆ§Ć£o
Paulo Cesar Magella: Editor Geral
Luciane Faquini: Editora Executiva de IntegraĆ§Ć£o
Sandra Zanella: Reportagem
Fernando Priamo: Fotos e ediĆ§Ć£o de fotografia
Lena Sperandio: Projeto grĆ”fico e diagramaĆ§Ć£o
Luciane Faquini: CoordenaĆ§Ć£o geral e ediĆ§Ć£o
TĆ³picos: tribuna 40 anos