Parceria busca incentivar cultivo de cogumelos entre produtores rurais em Juiz de Fora
Visita técnica a produtor local revela potencial de um mercado promissor e sustentável para agricultores da região; Prefeitura cogita inserir produto na merenda escolar

Alimentos nutritivos com alto valor agregado, os cogumelos surgem como um novo caminho para a agricultura de Juiz de Fora e região. Na última segunda-feira (4), a Tribuna acompanhou uma visita técnica à empresa Cogum, especializada em cogumelos comestíveis, que reuniu cerca de 20 produtores rurais da cidade para apresentar as oportunidades e os processos de um cultivo que pode ser não apenas rentável, mas também sustentável. A ação foi realizada em parceria com a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF).
A iniciativa, coordenada pela Secretaria de Desenvolvimento Agrário (SDA), tem como objetivo principal estimular a diversificação da produção local e capacitar os agricultores para um mercado em expansão. Segundo a secretária da pasta, Valdeane Dias Cerqueira, a adesão à visita demonstrou o interesse dos produtores em novas culturas. “A visita foi bastante interessante, até porque o público foi bem diferenciado, de várias etapas de produção, de vários tipos”, afirmou a secretária, citando a presença de produtores de leite, gado de corte, mel, piscicultura e laticínios.
Essa diversidade de perfis, segundo ela, evidencia uma demanda crescente por conhecimento em culturas alternativas. E o cultivo de cogumelos surge como uma opção promissora. “O processo é simples e, o mais interessante, com um pequeno espaço você consegue produzir”, explicou a secretária.
Mercado em expansão
A empresa anfitriã, a Cogum, é um exemplo do potencial desse mercado. Focada na produção de cogumelos Shitake e Shimeji Branco, a empresa fornece para restaurantes de Juiz de Fora e possui capacidade instalada de duas toneladas por mês, embora a produção atual seja de 200 quilos. O sócio da empresa, João Paulo Corragi, avalia que a produção local ainda conta com poucos produtores profissionais na região, mas destaca que é um mercado em ascensão. Essa realidade é reflexo do cenário brasileiro, que possui cerca de 1.500 produtores, segundo dados da Associação Nacional do Produtor de Cogumelo.
“A maior parte desses produtores são produtores pequenos, pouco tecnificados e sem uma estrutura como essa aqui. Uma estrutura como a nossa, para se começar do zero, com todos os equipamentos, custa uns R$ 500 mil hoje. Existe uma parcela semelhante a nossa estrutura que representa cerca de cem empresas. Há, ainda, umas dez indústrias maiores, com capacidade produtiva maior. A maior parte delas está em São Paulo. Basicamente é isso a fungicultura no Brasil hoje”, avalia Corragi.
Em contrapartida, o empresário acredita que a demanda e o interesse estão em ascensão. “Nunca esteve tão aquecida a procura por cogumelo como a de hoje. Tudo que produz você vende, não tem desperdício.” O consumo médio de cogumelos no Brasil dobrou na última década, saindo de pouco menos de 100 gramas para quase 200 gramas por pessoa ao ano. Para ele, o setor é “muito promissor, com pouca gente ainda produzindo e pouca concorrência.”
Cogumelos na merenda escolar

Durante a visita, a secretária disse que há possibilidade de incluir cogumelos na merenda escolar da rede municipal. A medida, além de garantir mercado para os produtores locais, ofereceria aos estudantes um alimento rico em proteínas e nutrientes.
Valdeane explica que a legislação referente à compra de alimentos da agricultura familiar para a merenda escolar está mudando. Em 2025, a obrigatoriedade é de que 30% dos recursos sejam destinados a esse setor, mas a partir de 2026, esse percentual saltará para 45%. “Temos um amplo caminho a ser percorrido para a gente conseguir atingir esse quantitativo de 45%”, diz.
Para o sócio da Cogum, a inserção dos cogumelos na merenda escolar é um importante incentivo para o produtor rural. “Essa iniciativa abre um mercado novo e gigante. Para a Prefeitura, é uma solução de dupla via: ela cumpre sua obrigação legal de comprar da agricultura familiar e, ao mesmo tempo, oferece um alimento extremamente nutritivo e saudável para as crianças da rede pública. Estamos falando de um impacto direto na saúde pública, pois um cidadão que se alimenta bem desde a infância se torna um adulto mais saudável, o que, a longo prazo, onera menos o sistema de saúde. É uma construção em que todos ganham: o produtor, o Poder Público e, principalmente, os alunos”, afirma Corragi.
Sustentabilidade e Rentabilidade
Além do potencial de mercado, o cultivo de cogumelos se destaca por ser uma atividade sustentável. A Cogum, por exemplo, utiliza energia solar e gera um resíduo que se transforma em adubo. “É uma cadeia muito limpa, a gente tem uma cadeia com pouquíssimos resíduos e com baixa emissão de carbono”, explica o empresário.
Para os produtores, a rentabilidade também é um atrativo. Com os processos bem definidos, o cultivo pode gerar lucro de cerca de 30%. A ideia é que os pequenos produtores possam adquirir os blocos de cultivo prontos, focando apenas na frutificação, o que demanda estrutura menor e investimento mais baixo.
Produtores rurais veem oportunidade, mas investimento pode ser obstáculo

A possibilidade de diversificar a produção com uma cultura de alto valor agregado e que demanda pouco espaço físico foi o que mais atraiu os produtores rurais que participaram da visita. Para o produtor de hortaliças e legumes, Edson Ramos, de 47 anos, a fungicultura representa um “caminho novo e diferente”. Ele, que já possui estrutura como câmara fria e energia solar, identificou, na visita, uma chance de agregar uma nova fonte de renda, especialmente por vender diretamente ao consumidor final.
“Se eu produzir para vender diretamente para o consumidor final, melhor ainda. O lucro de 35% pode ir para 60%”, calculou. No entanto, ele ressalta a importância de um crescimento planejado. “É melhor você começar com 100 quilos e chegar a duas toneladas do que o contrário”, aconselhou.
Já para o meliponicultor João Vianei, de 59 anos, que cria abelhas sem ferrão, o principal desafio é o capital inicial. “A visita foi muito interessante, mas é aquela questão do investimento, que é bastante alto. É algo a se pensar”, afirmou. Apesar da barreira financeira, ele considerou o processo viável de ser realizado em um espaço reduzido e com pouca mão de obra. “Dá pra fazer sozinho, sim. Não é algo difícil”, concluiu.
O consenso entre eles é que, embora o investimento inicial e a parte técnica do laboratório exijam atenção, a oportunidade de entrar em um mercado diferente e promissor é um forte estímulo para o futuro do agronegócio na região. Eles também trocaram ideias em relação à possibilidade de se juntar para comprar os insumos mais em conta.
A visita técnica foi o primeiro passo e a expectativa é de que, com capacitação e o fomento de um ecossistema favorável, Juiz de Fora se torne um polo de fungicultura, gerando renda e desenvolvimento para a região.