Projeto da UFMG busca alternativas sustentáveis para descarte de cigarros ilegais apreendidos pela Receita Federal

Lei determina que o cigarro seja destruído e, geralmente, este processo é feito por meio da queima, que emite gases de efeito estufa 


Por Nayara Zanetti

08/03/2025 às 07h00

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Licor pirolenhoso e biocarvão resultantes da queima dos cigarros. (Foto: Ana Cláudia Mendes/Cedecom Montes Claros)

Anualmente, milhões de maços de cigarros ilegais são apreendidos no território brasileiro pela Receita Federal. Para se ter uma ideia, a cada 100 cigarros vendidos em Minas Gerais, 38 são de origem ilegal, como aponta o levantamento da empresa Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (Ipec). Com o objetivo de encontrar formas mais sustentáveis de descartar esses produtos, a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Superintendência da Receita Federal firmaram acordo de cooperação técnica em maio de 2024. Na ocasião, foram destinados cerca de 7,5 mil cigarros para o campus regional de Montes Claros. 

O projeto prevê o descarte correto desses materiais por meio da reciclagem, recuperação e reutilização. O professor  Fernando Colen, que coordena os estudos, e sua equipe analisam há quase um ano maneiras de aproveitar os subprodutos gerados pela incineração do material. A lei determina que o cigarro seja destruído, o que é feito normalmente por meio da queima. Mas a prática provoca a emissão de gases de efeito estufa. 

A pesquisa teve início no final de setembro de 2024. De acordo com Colen, o objetivo é gerar três subprodutos por meio da queima do material: biocarvão, licor pirolenhoso e gases não condensáveis. “O biocarvão tem uma destinação bem variada. Ele pode ser usado como condicionador de solos e na produção de organomineral (também para solos). Dependendo da quantidade, pode ser empregado ainda na despoluição de águas e solos”, explica o professor. 

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Professor Fernando Colen coordena os estudos em Montes Claros. (Foto: Ana Cláudia Mendes/Cedecom Montes Claros)

Já o licor pirolenhoso é aplicado na agricultura e nas indústrias alimentícia e farmacêutica. Nesse caso, ele funciona como enraizador de plantas e componente de pesticidas e fungicidas. Por fim, os gases não condensáveis, por serem inflamáveis, podem ser aproveitados como energia térmica gerada por sua ignição. “Esses gases podem ser utilizados para aquecer água, para acionar motores e até mesmo para acionar outros fornos durante o processo de incineração”, diz o docente. 

A expectativa é de que a pesquisa seja concluída até o fim de 2026. No momento, os estudos se encontram na primeira etapa. “Buscamos encontrar uma taxa de aquecimento ideal, uma temperatura final ideal para a geração desses subprodutos. Posteriormente, esses materiais serão entregues a pesquisadores especializados nas áreas de aplicação para testes e verificação de efetividade”, afirma Colen. 

Cigarros ilegais 

Os cigarros ilegais são aqueles que são contrabandeados, falsificados ou fabricados de forma ilícita. O comércio ilegal de tabaco é um problema de saúde pública no Brasil, além de ser um obstáculo para as políticas de controle do tabaco. Para identificar se o produto é ilegal, o consumidor deve verificar se o cigarro está registrado na Anvisa por meio de uma consulta na lista de produtos regulares do órgão. Por serem vendidos a preços baixos, os cigarros ilegais minam os efeitos das políticas de aumento de impostos e preços e estimulam o consumo de tabaco, especialmente entre jovens, de menor renda e escolaridade. 

Vinhos, roupas e TVs também receberão destinação sustentável 

O reaproveitamento do cigarro resultante de incineração insere-se no escopo de cooperação técnica firmada em maio de 2024 pela UFMG e a Superintendência da Receita Federal em Minas Gerais para a destinação sustentável de uma série de mercadorias ilegais apreendidas pelo fisco, como vinhos, roupas e TV box (aparelhos conectados à televisão que dão acesso a conteúdos de streaming e canais por assinatura). Os vinhos estão sendo transformados em geleia, enquanto as TVs box ilegais serão adaptadas como computadores para estudantes sem acesso a esses equipamentos. 

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