No meio da retomada, tinha uma crise

Por Conjuntura e Mercados

Indicadores econômicos divulgados pelo IBGE referentes ao mês de junho de 2021 mostram que, após amargar por mais tempo os impactos da pandemia, o setor de serviços apresentou alta pelo terceiro mês consecutivo, crescendo 1,7% em relação ao mês de maio.

Enquanto o melhor desempenho do setor esteve relacionado com o aumento da mobilidade da economia pela redução do número de mortes pela Covid-19, as projeções do processo de retomada têm sido revisadas para baixo devido a uma série de riscos.

Em primeiro lugar, o Brasil encara sua pior crise hídrica dos últimos 91 anos, que gera grande impacto no bolso dos brasileiros. O preço da energia elétrica já subiu quase três vezes mais que a inflação ao longo dos primeiros oito meses de 2021, o que reflete na alta nos preços de alguns produtos e serviços. A crise ocasionará impactos negativos sobre toda a economia, além da ameaça de blecautes ou racionamentos.

O prolongamento do período mais seco também afetará as safras, criação de animais e preço da energia. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) poderá realizar novo reajuste da bandeira vermelha patamar 2, superando o valor referente ao consumo a cada 100 kw/h, de R$ 9,49 para R$ 11,50. Esse reajuste de 21%, ocasionará aumento aproximado de 3% nas contas de energia em todo o país. Além de afetar o preço da energia, safras que foram
afetadas por seca e geadas podem ser ainda mais afetadas.

O superintendente de gestão tarifário da Aneel declarou que o preço da energia produzida no Brasil, atualmente, é pressionado pela alta do dólar, que influencia o valor da energia da Usina de Itaipu, pela variação do IGP-M, índice que estabelece contratos de 17 distribuidoras e a pela piora do cenário hidrológico. Há previsão de que os reservatórios das usinas hidrelétricas cheguem a novembro com apenas 10% da capacidade, volume inferior ao
registrado na crise de 2001, quando o Brasil passou por racionamento de energia.

Entre as ações adotadas pelo governo, estão o acionamento das usinas termelétricas e a importação de energia da Argentina e do Uruguai com o intuito de preservar a água nos reservatórios até o início do período chuvoso, no mês de novembro. As medidas, no entanto, se mostraram insuficientes. No mês de setembro serão lançados programas voluntários de redução de demanda para consumidores residenciais, indústrias e demais empresas.

Além dos fatores hídricos, é previsto que o gargalo no abastecimento de insumos – como ocorre com os semicondutores _ e o consequente aumento nos custos dos mesmos gerem uma contração de 1,5% na indústria entre o segundo e terceiro trimestre de 2021.

Apesar dos riscos mencionados, é esperado que o PIB brasileiro cresça 5,7% em 2021. Parte deste resultado deverá ser estimulado pela retomada dos níveis de produção pré-pandemia, enquanto parte dessa recuperação é ilusão estatística, dada a baixa base comparativa de 2020. Também vale destacar a contribuição esperada pela retomada do setor de serviços, por sua vez condicionada à contenção dos casos de COVID-19.

 

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