No mês de maio, o mercado de leite no Brasil surpreendeu os produtores ao apresentar uma mudança significativa. De acordo com a pesquisa realizada pelo Cepea (Esalq/USP), a média do preço do leite cru captado por laticínios sofreu uma queda de 6,2% em relação ao mês anterior. Essa foi a primeira diminuição desde dezembro de 2022, rompendo com a tendência altista que se esperava para o período.
Alguns fatores contribuíram para essa redução do preço do leite. O consumo de lácteos apresentou enfraquecimento em maio, principalmente devido ao menor poder de compra da população e aos preços ainda elevados em comparação com o ano anterior. Além disso, as importações de lácteos exerceram uma forte pressão sobre o mercado interno. O volume importado superou o dos anos anteriores, com crescimentos de 42% em relação a abril e 219% em comparação com maio de 2022. No período de janeiro a maio de 2023, as compras foram três vezes maiores do que no mesmo período do ano anterior, representando cerca de 9,1% da captação formal de leite cru. Em contraste, no mesmo período do ano anterior, as importações representavam apenas 2,9% da captação nacional.
Outro fator relevante para a queda de preços foi o impacto dos preços de outras commodities, que influenciaram os custos de produção do leite. Em maio, o Custo Operacional Efetivo (COE) da pecuária leiteira registrou queda de 2,3% na “média Brasil”, impulsionado pela redução nos preços do concentrado. Essa melhora na relação de troca beneficiou os produtores, tornando os investimentos na produção mais atrativos. Com isso, houve uma recuperação da oferta de leite, mesmo durante a entressafra.
Apesar do inverno seco no Sudeste e no Centro-Oeste, que poderia gerar preocupações quanto à captação industrial, essas regiões conseguiram manter a captação praticamente estável de abril para maio, com um ligeiro aumento de 0,3%. No Sul do país, a captação cresceu em média 2,4% no mesmo período. Com essas tendências, os agentes de mercado estão otimistas de que o volume produzido entre maio e julho seja menos afetado pelas variações sazonais, contribuindo para a estabilidade do setor.
No entanto, em meio ao cenário de importações elevadas e considerando a perspectiva de aumento na produção de leite nos próximos meses, a sustentação das cotações fica comprometida. Mesmo com a expectativa de alguma retomada no consumo, devido à inflação mais controlada, preços dos derivados lácteos mais baixos no varejo e suportes financeiros do Governo federal às famílias de baixa renda, não se espera uma demanda com capacidade de sustentar o aumento da disponibilidade de leite via produção e importação. O mercado de leite enfrentará desafios significativos nos próximos meses, e os produtores deverão se adaptar a esse novo panorama em busca de estratégias para se manterem competitivos em um ambiente de incertezas.