Retrospectiva 2014, Perspectiva 2015. Mais do mesmo?

Por Tribuna

O ano de 2014, como acompanhamos na imprensa, não foi um ano bom para a economia.Alguns temas dominaram as discussões. A inflação, por exemplo, foi tida como excessivamente alta e beirando o descontrole. Essa elevação, entretanto,não é uma novidade que veio apenas em 2014. Os preços têm subido em ritmo acelerado nos últimos quatro anos, sempre próximos do teto da meta de 6,5% ao ano e bem distante do centro, de 4,5%. O diferencial foi que, em 2014, estivemos bem mais perto de ultrapassar inclusive o teto. O aumento constante dos preços teve apenas breves interrupções, notadamente relacionadas a fatores externos ou eventos pontuais, que paralisaram a atividade econômica o suficiente para diminuir o ritmo da subida nos preços ou até mesmo causar deflação – destacam-se os protestos de junho de 2013 e a Copa do Mundo em junho de 2014. No total, de janeiro de 2011 até novembro de 2014, acumulamos 24,38% de inflação. Em outras palavras, comparativamente a 2010, os itens consumidos neste Natal estavam ¼ mais caros.

Outro fator que esteve em pauta em 2014 foi o dólar. A moeda americana, que se mantinha num patamar próximo a R$ 2,50 (apesar da leve queda registrada no meio do ano, quando chegou a valer R$ 2,19 em decorrência da entrada de moeda estrangeira trazida pelos turistas na Copa), foi afetada pela forte desconfiança internacional em relação às políticas do Governo brasileiro, já contaminada pela descrença quanto à capacidade dos países emergentes de se sustentar num ambiente internacional ruim, como ocorreu com a Rússia. Com isso, no dia 23 de dezembro, o dólar estava valendo R$ 2,67, um aumento de 21,9% em relação ao valor mínimo atingido no meio do ano. E a escalada não apresenta sinais de arrefecimento, a menos que as políticas governamentais a serem implementadas a partir de janeiro, no segundo Governo Dilma, consigam assegurar aos investidores estrangeiros que o Brasil é um país seguro.

Um último tema a ocupar espaço no noticiário econômico foi a Petrobras. Por muitos anos tida como o investimento mais seguro em termos de mercado de ações no Brasil, a petroleira estatal sofre duplamente com os escândalos de corrupção, que têm jogado suspeita sobre suas últimas diretorias, e com a queda dos preços do petróleo no mercado internacional, que coloca em dúvida a rentabilidade da exploração de algumas de suas reservas. Depois de um pico de R$ 22,13 no fechamento do dia 13 de outubro, as notícias ruins arrastaram o preço da ação inexoravelmente para baixo, chegando a atingir R$ 9,18 no dia 15 de dezembro, para se recuperar levemente nos últimos dias do ano. A queda total no valor da empresa nos últimos três meses é de 45,5%, uma derrocada considerável no valor de uma companhia tida como uma das melhores em seu segmento.

Tomados conjuntamente, esses fatores revelam que a perspectiva econômica para o próximo ano não é positiva. A depender dos ajustes necessários (fiscal, monetário e cambial), 2015 será um ano de cintos apertados. O Governo federal sinaliza com manobras fiscais para manter o superávit primário, com elevação de impostos e aumentos nos preços controlados por estatais. A ideia é que a redução de liquidez trazida por maiores preços e mais impostos evite que o crescimento lento se traduza em mais inflação. Mas tal contração de liquidez contamina as expectativas sobre o crescimento em 2015. A visão geral é de que a inflação e, portanto, o ajuste não vão ceder até o fim de 2015. Esse movimento é claro nas estimativas compiladas pelo relatório Focus, do Banco Central. As projeções medianas de crescimento do PIB para 2014 e 2015 começaram o ano perto da casa dos 2 e 2,5%, respectivamente, mas foram caminhando gradualmente para baixo. Na última leitura, os números passaram a 0,30 e 1,01% respectivamente. Para o IPCA, a estimativa é que fique em 6,29% e 7% respectivamente. Com isso, economistas acreditam que, embora já tenham sido adotadas algumas medidas capazes de ajudar a reverter a situação de baixo crescimento com inflação (quadro conhecido como estagflação), como as concessões de infraestrutura, elas vieram tarde demais para evitar que a economia sofresse em 2014 e continue sofrendo em 2015. Com um cenário tão devastador, que venha logo 2016!

Contribuíram Beatriz Machado, Karina Belarmino, Renan Guimaral, João Baeta e Igor Reis.
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