Emprego nos tempos de Covid

Por André Sobrinho

Em meio ao cenário de crise econômica provocada no mundo inteiro pelo novo coronavírus, o Fundo Monetário Internacional (FMI) fez uma projeção de que a doença infecciosa que se alastra nos países deve levar à pior recessão global desde a Grande Depressão que teve início no ano de 1929 e que persistiu ao longo da década de 1930. Estima-se uma retração econômica de 3% somente neste ano. Segundo o FMI, grande parte dessa retração mundial em 2020 será decorrente de uma queda de 11% do comércio internacional.

A pandemia do novo coronavírus atinge profundamente uma área específica: o mercado de trabalho. A estagnação da atividade econômica e o confinamento social geram demissões em diversos países. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) projeta o desaparecimento de quase 25 milhões de empregos em todo o mundo por conta da paralisação econômica. Durante a crise financeira global de 2008-09, o desemprego mundial aumentou em 22 milhões de pessoas. Ou seja, a previsão da OIT para o atual momento é superior e preocupa bastante as autoridades do mundo todo. Apenas na semana terminada no dia 11 de abril, os EUA já tinham registrado 5,2 milhões de pedidos de seguro-desemprego. No Brasil, somente em fevereiro, 404 mil trabalhadores requereram o auxílio. E esse número tende a aumentar nos próximos meses.

Desde o fim do primeiro trimestre de 2019, quando o Brasil registrou uma taxa de desocupação de 12,7%, com 13,4 milhões de brasileiros desempregados, os números de desemprego vinham diminuindo significativamente. O terceiro trimestre de 2019 fechou com uma taxa de 11,8% e no quarto trimestre do mesmo ano a taxa chegou a 11%. Contudo, desde o final de 2019, o desemprego aumentou no Brasil, chegando a 11,6% no trimestre de dezembro a fevereiro de 2020, atingindo 12,3 milhões de pessoas, o que representou um aumento de desempregados de 479 mil em comparação com o trimestre encerrado em novembro de 2019.

Outro dado que preocupa é a taxa de informalidade em fevereiro de 2020, que atingiu 40,6% ou 38 milhões de brasileiros. O segmento informal é um dos mais afetados com o avançar da crise sanitária e da paralisação econômica.

Os dados anteriores da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) mostram que o desemprego já estava aumentando no Brasil antes mesmo das medidas restritivas e de isolamento impostas para frear a propagação do coronavírus. A projeção para o desemprego no Brasil nos próximos meses portanto não é nada animadora. No melhor cenário, os analistas preveem que a taxa de desemprego chegue a 13,5% em junho, atingindo 14,5 milhões de pessoas. No pior cenário, contudo, alguns analistas econômicos chegam a prever uma taxa de desemprego no patamar dos 19%, com 20 milhões de desempregados entre julho e setembro. Os setores de comércio e serviços devem ser os mais afetados.

Apesar das previsões nem um pouco entusiastas, um fator pode servir de alento: alguns prefeitos e governadores já começam a flexibilizar as medidas de isolamento e confinamento em locais que apresentam controle da doença. Algumas outras autoridades já começam a adotar datas para o fim da quarentena, a fim de retomar as atividades econômicas. É importante, porém, que essa flexibilização seja realizada com muita responsabilidade e sempre seguida por análise minuciosa. A notícia de que o pico do número de casos parece estar próximo no Brasil e de que as coisas devem voltar à normalidade tão logo seja diminuída a probabilidade de contágio é reconfortadora num período tão delicado para o emprego e a renda como esse que atravessamos.

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