No exame do desemprego, os sintomas de sempre

Por Por João Víctor Lavorato e Bruno Gomes

O Brasil de 2020, por circunstâncias da pandemia, bateu recordes negativos em muitas variáveis da área econômica: a contração da atividade econômica, o aumento da dívida pública e até mesmo a inflação caminharam em direção a resultados indesejáveis. Com a queda dos setores da economia, o aumento do desemprego foi uma consequência e chegou ao patamar de 14,4% em dezembro do ano passado, o maior valor da série histórica calculada desde 2012. Em janeiro, houve uma pequena melhora, com a taxa de desemprego chegando aos 14,1%. No entanto, os movimentos que ocorrem no mercado de trabalho brasileiro são dignos de discussão, já que há certos grupos que claramente sofrem mais com a desocupação, enquanto o desalento está tendo um papel considerável para os resultados do período.

Em termos de vulnerabilidade, há grupos que classicamente sofrem mais com o desemprego no Brasil: os jovens e os menos escolarizados. Em relação aos mais novos, a pouca experiência profissional, o baixo networking e a própria insegurança na procura por uma vaga contribuem para os valores de desocupação acima da média: conforme dados do IPEA, no quarto trimestre de 2020, a taxa de desocupação de pessoas com idade entre 18 e 24 anos (quase 25 milhões de pessoas) foi de 29,8%.

Interpretando esse valor, a cada 100 jovens que procuram uma vaga de emprego, 30 não conseguem uma contratação, determinando uma taxa de desemprego maior que o dobro da taxa nacional.

Junto aos jovens, os menos escolarizados também sofrem mais com a desocupação: para os trabalhadores com ensino médio incompleto, a taxa de desocupação foi igual a 23,7% no quarto trimestre de 2020. Conforme dados do IBGE para 2018, 4,5% dos brasileiros com idade superior a 25 anos chegaram ao ensino médio, mas não o concluíram. Embora não pareça, o contingente populacional que não terminou o ciclo básico de aprendizagem (pessoas que interromperam os estudos em alguma etapa até o final do ensino médio) é alto em solo nacional, equivalente a 52,6% da população com idade superior a 25 anos, ou seja, 112 milhões de pessoas. Esse cenário implica consequências que vão desde baixa produtividade no trabalho, subocupação, até questões sociais mais amplas, como criminalidade e o próprio desalento.

O grupo de desalentados no Brasil também chegou a números altos: no trimestre encerrado em janeiro de 2021, quase 6 milhões de brasileiros aptos ao trabalho estavam fora da força de trabalho devido ao desalento, portanto, 3,3% da população em idade de trabalhar estava desalentada. No entanto, se ocorrer um reaquecimento da economia no segundo semestre e o auxílio emergencial acabar, é provável que parte dos desalentados retorne ao mercado de trabalho, logo, o desalento cairá, e a força de trabalho aumentará. A subocupação também pode ser reduzida com o retorno das atividades econômicas.

Assim, o país vive um momento delicado do ponto de vista do mercado de trabalho. Diferentemente dos EUA, por exemplo, a natureza das leis trabalhistas brasileiras impede que haja movimentos muito bruscos da taxa de desemprego, tanto para baixo, quanto para cima. Na visão da coluna da CMC, o grande ponto de toda essa discussão é enfatizar a necessidade de políticas educacionais para aumentar a qualificação do brasileiro, de modo a aumentar a escolaridade assim como a capacitação do cidadão e, dado que existem grupos que já não completaram o ciclo básico, que esses tenham acesso a programas mais pontuais de qualificação profissional, de modo a transformar de forma radical a estrutura do mercado de trabalho do Brasil. São transformações estruturais, com resultados a médio e longo prazo, embora seus impactos sejam amplos: mudanças neste mercado não impactam somente a economia, mas toda uma sociedade.

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