A nova política americana de elevação da taxa de juros fez com que a demanda por dólares aumentasse consideravelmente, ocasionando uma valorização global da moeda. Em alguns países considerados emergentes, como o Brasil e a Argentina, a cotação disparou, chegando a R$ 3,73/US$ e $ 35/US$, respectivamente, durante o mês de maio. A situação é mais grave na economia vizinha que, além de estar fragilizada devido às altas taxas de inflação, ainda conta o fato de ser um “país dolarizado” (situação em que o dólar atua paralelamente ao peso), levando o governo a adotar medidas drásticas com o intuito de preservar a moeda local, como elevação da taxa de juros a 40% e retomada de negociações com o FMI. As medidas causaram certo desconforto e aumentando as especulações sobre a gravidade da crise cambial por lá.
Mas o que, de fato, ocorre na Argentina? Por que medidas tomadas nos EUA geram reflexos tão mais intensos lá em relação aos demais países? Diversos fatores internos explicam: Macri, quando eleito, era tido como provável acelerador das reformas fiscais na Argentina. Em outubro passado, as eleições foram favoráveis ao presidente e o mercado efervesceu. Entretanto, até aqui, os resultados não são os esperados. Dados do Banco Central da Argentina e do Fundo Monetário Internacional mostram que a inflação segue na casa dos dois dígitos (24,8%), o déficit fiscal manteve o crescimento (6% do PIB em 2017), ainda sai mais dinheiro do país do que entra (a conta corrente teve déficit de 4,8% no ano passado) e as reservas do país permanecem bastante inferiores à dos demais países (são U$ 56,15 bilhões, contra, por exemplo, U$ 381,74 bilhões do Brasil).
Nesse cenário, os investidores passaram a enxergar com desconfiança o ajuste fiscal de Macri e a condição futura da Argentina. Retiraram seus dólares do país, impulsionando o valor da moeda norte-americana frente ao peso ainda mais. Como na Argentina a utilização interna do dólar é grande, o efeito inflacionário de tal situação é inevitável. Sendo assim, o governo se viu obrigado a pedir ajuda ao FMI para manter a credibilidade frente aos investidores, de forma a diminuir a fuga de capitais e evitar a necessidade de medidas restritivas, como o aumento dos juros.
Diante desses fatos, é inevitável pensar nos possíveis impactos para a economia brasileira, dada a importância da Argentina como parceiro comercial do Brasil. Sendo o terceiro principal destino das exportações nacionais (US$ 6,7 bilhões de Jan-Abril) e o quarto no ranking das importações (US$ 3,32 bilhões de Jan-Abril), o movimento de desvalorização do Peso tende a ocasionar uma redução do volume de exportações brasileiras para nossos vizinhos, tendo em vista o “encarecimento” relativo dos produtos nacionais que são enviados a eles. É válido destacar também que, mesmo o Real sofrendo uma desvalorização frente ao dólar nos últimos dias, o quadro econômico brasileiro é diferente, pois a inflação segue em um patamar baixo (2,76% acumulados em 12 meses) e, mesmo o Banco Central não reduzindo a taxa de juros Selic novamente, esta ainda continua em seu piso histórico (6,5% a.a.). Assim, pode-se dizer que os efeitos da política norte-americana no Brasil, ainda que consideráveis, tendem a ser menores do que na economia Argentina, dadas as diferenças conjunturais de ambas as nações.
Confiança é tudo. Mantê-la é também gerar bem-estar econômico e social.
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